Rosana Posada Expósito: “Por Carvalho Calero, pola língua galega, pola cultura e por nós… repetimos!”

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whatsapp-image-2020-09-28-at-14-23-08Rosana Posada Expósito -que se define como “rinlega de pró”- é Graduada Social em situaçom de reforma e vive em Burela. Durante o confinamento botou mao do Scórpio. A ela nom lho recomendaram como leitura escolar e nom conhecia nem essa nem nengumha outra obra de Carvalho Calero, mas tinha o livro na casa porque o seu marido o lera no instituto e mantinha-o ali à vista no andel. Este ano ao ser-lhe dedicado o dia das Nossas Letras a Carvalho, Rosana decidiu afrontar a leitura e gostou tanto que entre março e agosto leu-no duas vezes e depois da segunda leitura compartilhou connosco o seu parecer nesta entrevista que dedicamos à professora Aurora Marco a modo de público aplauso polo seu incansável labor investigador e divulgador, em parte herdado do autor do Scórpio.

Rosana, quando se lê um livro “de primeiras” e “de segundas”… isso significa que se gostou muito ou que havia dificuldades para lhe meter o dente. Como foi o teu caso?

Nunca antes tivera contacto com a norma internacional e entendim perfeitamente. Se algumha palavra se resistia, acudia ao Estraviz e o assunto estava solucionado. Nom hai nengum tipo de problema na leitura. Ao contrario, é enormemente enriquecedora! O que hai que fazer para ler a obra de Carvalho Calero é colher a leitura sem prejuízos e com abertura de mente, de deixar que e leitura flua…

Nunca antes tivera contacto com a norma internacional e entendim perfeitamente. Se algumha palavra se resistia, acudia ao Estraviz e o assunto estava solucionado. Nom hai nengum tipo de problema na leitura. Ao contrario, é enormemente enriquecedora!

Qual é o balanço da leitura? Depois de ter lido a obra duas vezes em menos de seis meses, a tua opiniom interessa-nos especialmente.

É umha obra mestra. Disso nom me cabe a menor dúvida. No romance tomam a palavra homens e mulheres. Através das suas vozes conhecemos a história desses 28 anos da vida de Rafael Pinheiro. As mulheres som familiares de Scórpio, companheiras de Compostela ou Salamanca e à sua vez namoradas. Estas estudantes som as que dam o toque de modernidade e independência ao género feminino; o resto está sempre contado desde o ponto de vista tradicional. Os homens som o “centro” da obra -gente moderna, exitosa, em postos de relevância política e social (SEG, PG, greves estudiantis…-num momento histórico fundamental para Galiza e Espanha.

O teu interesse centrou-se na personagem de Scórpio?

Nom só. Ao longo de toda a obra, Salgueiro é a espinha vertebral do romance. Muitas vezes fala-nos disso, mesmo explicando o romance dentro do romance. Lemos a explicaçom e damo-nos conta de que é isso mesmamente o que estamos a ler. Nos capítulos XXX e XXXII permite-se o luxo de fazer literatura comparada: alude a R. Otero Pedraio de forma explícita, como modelo de “estilo espesso”, e defende umha escrita menos barroca para que as obras cheguem ao máximo de pessoas possível.

Concordas?

Concordo! Eu mesma comecei a ler Os camiños de Vida por duas vezes e nom pudem seguir.

Dá-lhe umha terceira oportunidade. Merece-a.

Evidentemente. Tentarei-no de novo.

Deixamos solto o cabo do Scórpio. Dizias que é um livro fundamental para conhecer de jeito ameno as histórias de Galiza e de Espanha…

Reflecte os 28 anos (1910-1938) à perfeiçom. Salvando as distáncias, nom dista muito do que acontece agora mesmo. Reflecte o machismo: as mulheres som “floreiros”. Ainda que som modernas as mais delas (estudantes universitárias, independentes), todas se ajoelham diante de Scórpio e a sua única saída – apesar dos estudos- é o matrimonio. As donas dos Decanos e Catedráticos nom som ninguém na sociedade, apenas “mantidas” que dam unha imagem social aos maridos. Carecem de voz própria ou até renunciam a ela.

Reflecte os 28 anos (1910-1938) à perfeiçom. Salvando as distáncias, nom dista muito do que acontece agora mesmo. Reflecte o machismo: as mulheres som “floreiros”. Ainda que som modernas as mais delas (estudantes universitárias, independentes), todas se ajoelham diante de Scórpio e a sua única saída – apesar dos estudos- é o matrimónio.

É um problema tangível, um século depois pouco mudou. Essa é a eiva: nom emendar os erros através da experiência.

Bem pouco mudou o panorama noutros assuntos também…

Quanto à língua, o galego associa-se às classes populares e estas som marginadas e mesmo perseguidas polo simples feito o de falarem. Os pais de Scórpio falavam aos seus filhos em castelhano. Quando Scórpio começa a escrever em galego, é criticado. Em Compostela escreve e fala em galego. Quando conversa com Chéli usa o castelhano. Ainda que ela entende o galego, nom o fala. Mesmo diz que o galego que falam Rafael e os seus amigos é raro. Tal como se fosse agora mesmo.

Com efeito a tua leitura foi bem atenta. Penso que…

Um momentinho, ainda nom acabei. No tocante ao momento histórico que se desenvolve na segunda parte, a Guerra Civil, o relato é de tal plasticidade que te sentes acarom de Scórpio quando, após um disparo contra a parede, os cascalhos lhe entram num olho. Escondida nas trincheiras, sentes o ruído das bombas; notas na própria pele o sangue de Barreiro quando é abatido; ouves os avions sobrevoar a cidade; e sentes a mesma angústia de Salgueiro ao ver o corpo de Rafael entre os cascalhos e descobrir quem o acompanhava.

É a crónica da Guerra Civil contada desde a primeira linha, desde a experiência real. Saber isso ainda me mergulha mais na leitura.

Em vista do que nos contas, houvo algo de que nom gostasses?

Nom gostei da sobredose de machismo, mas entendo que é algo intrínseco da época. E olho que ainda gostei de mais cousas…

É o momento de as comentar. Avante toda!

Vou-me recrear fazendo reiteraçom. Gostei do conjunto da obra: desde o parto de Antónia ao entulho em que se converteu o hotel de Barcelona. Gostei da descriçom do momento histórico que se vivia em Espanha e em Galiza, da análise panorámica da língua galega, de como funcionavam o Seminário de Estudos Galegos e as Irmandades da Fala…

Gostei do conjunto da obra: desde o parto de Antónia ao entulho em que se converteu o hotel de Barcelona. Gostei da descriçom do momento histórico que se vivia em Espanha e em Galiza, da análise panorámica da língua galega, de como funcionavam o Seminário de Estudos Galegos e as Irmandades da Fala…

Gosto de que o protagonista nom faga nem um só dos relatos. Prefiro recolher as impressons que deixa nos seus amigos e companheiros.

As descriçons som dinámicas e coloridas. Percebe-se o momento de forma nítida, roça o real. A mim engaiolou-me da primeira página ao final e sempre sentim sede de mais informaçom.

Rosana Posada Expósito, és consciente de que ainda nom falamos nada do clube de leitura?

Pareceu-me umha iniciativa estupenda. Nunca participara num clube de leitura e a experiência é para repetir! Lim o Scórpio no confinamento, sem conhecer nada da obra e do seu autor, e intuim que tem muito de autobiográfica. Verifiquei-no após ler a biografia de Carvalho Calero.

A iniciativa do “Desconfinamento da obra de Carvalho” chegou-me através das redes. Nom duvidei em comunicar com Loli López Caión para que me anotasse. Apetecia-me ler dum jeito diferente, novidoso, e descobrim novidades sobre a obra e o autor.

Dizia um anúncio destinado ao público infantil: Repetimos?

Voltaria a fazê-lo outra vez. Encantou-me descobrir a norma internacional desde dentro, com pautas orientadoras. Esta leitura espertou em mim a vontade de saber mais sobre o reintegracionismo. Diria que: “Por Carvalho Calero, pola língua galega, pola cultura e por nós… repetimos!”