Novo Paradigma Galaico 3: Unidade na diversidade

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Como já analisámos, vivemos num mundo muito triste, herdado da falsa visão da guerra e confronto permanente. A alegria, desde esta perspetiva, fica confundida com a euforia, ou a obtenção e consumo momentâneo dum determinado desfrute, enfeitado na obtenção dum prazer. Assim o sistema da tristeza e da guerra, materializado através do capitalismo das finanças –e da divida perpétua– ilude o indivíduo, atrelando‐o dentro duma realidade vertiginosa de subidas e descidas anímicas, que se podem verificar nos picos maiores de consumo, hoje estatisticamente associados ao grau de infelicidade.

Nesta sociedade, onde a violência económica, física e a exclusão social vão em aumento, a felicidade é associada sempre ao progresso material: ascensão na escada social, isto é, luta pela posição dentro do organograma ideado e controlado pelo poder monetário –viciado agora no capitalismo das rendas, onde os amos do capital financeiro e transacional, através da expansão e contração do fluxo creditício, condenam a sociedade a ilusão de melhora ou a depressão da crise cíclica. Precisamente agora estamos no cenário ultimo: a contração do sonho.

Um dos aspetos mais desconhecidos da alegria é seu potencial sarador. Não se pode aceder à plena alegria, sem ter desenvolvido plenamente a consciência de poder interior, dado que como já temos experimentado, a alegria que depende de fatos externos e conquistas materiais, não pode ser duradoura –precisamente pela própria natureza da materialidade ser efêmera–. Para iniciar esse caminho de descoberta interior da alegria devemos ser cientes da evidencia que potencia essa força e das escolhas que enfraquecem a mesma. Somos livres para escolher, isso a pesar das circunstâncias externas, e mesmo apesar do discurso contrário das elites. Todos experimentámos alguma vez a alegria que surge fora do mundo ególatra da errada preocupação. Criar preocupações contínuas que fomentem o isolamento é uma das mais refinadas e eficazes tácticas de dominação. Fomentar a desilusão contínua traz consigo um vazio existencial, que com nada material pode ser preenchido –fomentado o circuito de desespero, e a procura duma exígua alegria, baseada na fugida da dor através do prazer frugal.

A venda falsa do sonho realizado através da obtenção de dinheiro cria uma corrida louca, legal e ilegal, em procura do maná monetário que permite cumprir nossos caprichos, aumentando na sociedade a degeneração e degradação dos seres humanos, a irresponsabilidade e o despotismo, aumentando a sensação de separação e isolamento por toda a pirâmide social. Portanto, inverter essa tendência –que fomenta o isolamento– é um dos primeiros passos em face do fomento da solidariedade entre indivíduos, comunidades e povos. Fomentar o conhecimento o e a mutua interrelação ajuda à quebra do isolamento e fomenta a procura de soluções conjuntas.

Nenhuma força, exceto a própria vontade, tem a capacidade para dirigir a própria vida. Mas essa vontade tem há de estar bem enraizada numa ética de amor a vida, ao ser humano, ao entorno natural que te rodeia e às tuas raízes culturais –a perda da raiz traz consigo a perda do referente inicial que situa no mundo o individuo, cria a sua relação com o entorno, sendo a primeira porta a iniciação ao amor desenvolvido: as primeiras carícias foram dentro deste quadro referencial.

A unidade não é simbólica: é um facto palpável; é vivencial. Viver no estado de unidade significa não viver dividido dentro dum mesmo, significa conseguir minorar o ego que divide nosso ser natural – tomando o comando da nossa vida, que não lhe pertence, fazendo-nos tomar eleições erradas.

Não estar separado do nosso entorno. Não estar em guerra com um mesmo –a guerra permanente do ego medroso: a luta feroz pela sobrevivência de si próprio, onde o contrario é percebido como contrincante; como uma ameça–. Não estar, pois, projetando a nossa guerra interna por todo o planeta.

A não estar separado, formamos parte do tudo: as nossas necessidades individuais fundem-se com as necessidades do resto dos seres humanos e espécies do planeta. Ao olhar o planeta como um todo e nós como uma parte do mesmo só podemos conceber a realização do nosso ser, como a realização de todos os seres. O ego dilui então com todos os outros egos numa nova realidade de todos serem um mesmo. Como dizia o antigo saúdo maia: “Eu sou tu, tu és eu”….

Isto substitui o conceito errado darwinista de imposição do mais forte –guerra dentro da espécie e entre espécies–; pelo mais elevado conceito de cooperação dentro da mesma espécie e associação com o resto das espécies, criando uma aliança ser humano –entorno, base duma ecologia sustentável e justa.

O poder material pode dispor da organização social e da distribuição da riqueza; inclusive, em casos extremos, dos corpos dos seus subordinados ou escravos, mas nunca pode dispor do nosso espírito, da nossa verdade, e menos todavia da verdade nascida na unidade, ou da força que surge ao saber que não somos seres isolados.

A melhor defesa, pois, contra o poder medroso, na sua fase repressiva de temor a perder o controlo, não é usar suas armas da violência, fomentando ainda mais o medo na sociedade e deixando os fracos e desamparados na procura dum protetor forte, que os ampare. Amiúde, este protetor mesmo sendo um libertador, consciente depois do seu poder –obtido trás o exercício da força–, torna-se num novo opressor, pois essa é a dinâmica natural da guerra, violência: a imposição dum modelo através das armas.

A melhor defesa, pois, não é um bom ataque –atacar a posição do outro, verbal ou fisicamente–, senão que a melhor defesa é, sem dúvida, proteger a verdade, impedir a distorção da verdade e aceitar os acontecimentos tal e como eles surgem –sem tentar manipulá-los em favor de nenhuma “causa superior”, o qual implica, sem dúvida, um estado de comunhão perfeita com entorno e a vida.

Nessa unidade pura, o ser humano pode exercer sua verdadeira função de guardião e protetor do planeta e os seus ecosistemas, levando em conta as suas necessidades e as necessidades do entorno; compreendidas a base da observação imparcial do mesmo.

Unindo os seres humanos numa só mente coletiva e numa só coletiva vontade, e unindo esta vontade com a coletiva do planeta, criamos uma aliança perdurável da qual, por natureza, só pode emanar a bondade.

Dentro do novo paradigma galeguista deve ter prioridade a visão da unidade dentro da diversidade; guiada esta unidade por um respeito completo a visão dos outros, mas também por uma complementariedade dentro da vontade e mente comum… Premissa que permite avançar dentro dum quadro único de ação conjunta à procura da verdade. Aquela verdade, que uma vez obtida, devemos simplesmente proteger, sem preocupar-nos tanto com defender-nos dos outros… Mas para isso, primeiro será preciso minorar com a humildade o nosso ego amedrontado. Para isso, ainda precisamos sair da torre em que o medo nos tem retidos, respirar o ar puro da nossa amada Terra para libertar-nos do sono da guerra em que foi apanhada nossa mente.

Enquanto não aprendermos a usar corretamente nossa mente, não poderemos alcançar a união entre nós; e de nós com todo, pois nossa mente está retida, possuída pelo medo ao outro: o contrário. Medo nascido da falsa visão de guerra e concorrência. Assim, uma mente que não é livre só pode criar de forma errada.

Ao invés, quando a mente fica livre de medo e guerra, e junta com outras mentes livres de medo e guerra, então qualquer sensação de separação desaparece. A confiança é renovada e aliança com a verdade resulta possível, pois livre do medo, a mente não se distorce.

O caminho para corrigir distorções é, pois, perder o medo a viver a verdade. Impedir que a falta de verdade seja para ti o verdadeiro. Sem medo, só assim poderás usufruir da unidade que surge de aceitar a diversidade.