A fenda esquecida entre Galiza e Portugal

Partilhar

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

(Luís de Camões)

Foi no 24 de Julho de 1128, que o Conde Mor da Galiza D. Fernão Peres de Trava, foi derrotado pelas tropas portucalenses, comandadas pelo futuro 1º Rei de Portugal, D. Afonso Henriques; na Veiga de Creixomil (Campo de São Mamede) em Guimarães.

Sendo o mesmo Senhor de Trava, amante da galega D. Teresa; mãe do próprio (naquela altura) também galego D. Afonso Henriques – a necessidade de independência, própria de qualquer filho (naquela altura o futuro rei, apenas contava com vinte anos) também tinha um fundo épico de independência territorial – e, a sua vez espiritual, como raiz – matriz- da futura nação portuguesa.

Tempos atrás, em 1116 a renovada velha aliança entre Dona Teresa – “rainha mãe” dos portucalenses, com o mais poderoso Senhor do Reino da Galiza (Protetor de todos os galegos e cuidador de seus reis); tinha permitido defender os direitos do futuro Imperador Afonso VII Raimundes (na altura Rei da Galiza); e proteger a autonomia do Condado Portucalense, diante dos embates da Rainha Dona Urraca I, de Leão e Castela (casada com o Rei de Aragão D. Afonso I “o Batalhador”) – ao vencer galegos e portucalenses juntos às tropas aragonesas e castelhanas, nas batalhas de Vilasobroso e Lanhoso.

Afonso VII numha miniatura de 1312

Com a vitoria do filho (D. Afonso Henriques) sobre a mãe (Dona Teresa), na já mencionada batalha de São Mamede; aquela aliança foi quebrada: o laço imaterial roto. É na alma única galego-portuguesa uma fenda aberta.

O filho teria de procurar ao sul, a expansão territorial, que não pode encontrar no norte – As portas, para ele, por Lei, estavam, nesta latitude, fechadas.

Madurando o jovem infante, se faria pai e sua mãe, seria esquecida no memorial das futuras honomásticas portuguesas, em detrimento, das auras de luz e brilho histórico que por lógica seriam concedidas ao filho tornado pai. Senhor dum novo reino que nascia para ser Império (com suas sombras e luzes, como todos os humanos projetos). Império oceânico, de cujas navegações, esforços marítimos, realizados pela sua força e coragem a península celtibérica (em seu conjunto) ia abrir as rotas de entre Oriente e Ocidente. Rotas de comerciantes e aventureiros marujos que o tempo permitir iam a Europa, dominar o mundo.

Sendo que em estas empresas sempre a maldade e a bondade (a injustiça e tentiva de justiça), se misturam causando, a sua vez, grande dor e sofrimento.

Mas a fenda aberta entre Afonso Henriques e sua mãe, marcou uma tónica – nova dinâmica. Fenda que afundava todavia mais aquela ferida, nunca consertada, entre o Bispo de Braga Paio Mendes (quem no dia de Pentecostes de 1125, nomeou cavaleiro a um muito jovem, futuro primeiro rei de Portugal), e seu homologo compostelano o Arcebispo Diego Gelmirez; após este último em 1102 terem realizado o chamado “roubo santo”. Com o posterior traslado a Santiago de Compostela das famosas relíquias de Braga.

Aquele ato provocou a primeira grande desconfiança entre galegos e portugueses. E, a fenda ainda mais aprofundou, após Afonso Henriques tomar partido necessário pelo Bispo de Braga como já tínhamos observamos. E, em certo modo os aconteceres políticos, sociais e históricos de ambos países, iriam fazendo do rio Minho que une almas e vontades, uma caudalosa linha de fronteira. Já nunca mais a ser transporta.

Isso mesmo a pesar das muitas efémeras aproximações históricas como a de Fernando I de Portugal, que em 1369 foi proclamado rei da Galiza numa tentativa de unir de novo os dous territórios. Povos que feliz o infelizmente (não podemos saber o que poderia ter acontecido) não encontraram ainda o caminho de regresso à unidade – Já não falamos política, senão, a mais importante espiritual, cultural, civilizacional. Em definitiva voltar de novo enraizar-se.

Afonso V também o tentou apoiando a legítima sucessão ao Trono de Castela de sua sobrinha e, possível futura esposa, Dona Joana; contra as intrigas da futura rainha Isabel a “Católica”, apoiada pelo poder de Aragão. Na batalha de Toro as tropas joaninas foram derrotadas pelas forças aragonesas e castelhanas e, a esperança de novo abalada. Aqui uma união das Coroas de Castela e Portugal, poderia ter mudado o rumo da história; que preferiu caminhar com dos Impérios celtibéricos, por aqueles mares afora.

E assim chegamos a modernidade, e a pesar dos muitos esforços feitos tanto por intelectuais galegos como portugueses, para voltar a criar pontes de união entre irmãos, pouco se tem avançado mesmo tendo em conta os grandes sacrifícios realizados, a um e outro lado da raia. Em estes momentos no terreno cultural, académico e mesmo políticos tem-se verificado múltiplas colaborações (tal vez como nunca na recente historia) mas a fronteira, parece, por algum oculto motivo (que vai mais alem das distintas situações políticas, com interesses cruzados, a pesar de unidade europeia, entre a Espanha e Portugal) intransponível

Distintas Ordens – Diferentes Projetos

Sendo que a Ordem do Templo vai teu um papel relevante na Independência de Portugal e na construção do seu futuro Império Marítimo, e na Galiza a nobreza vai aderir, mais tarde, à Ordem de Santiago; os projetos de ambos territórios também vão servir a diferentes senhores e, mesmo, a concorrentes modelos imperiais. A geopolítica da época fez de alavanca – aumentado as divergências e os inconvenientes duma reunificação. Abraço adiado no tempo, que está ainda por ser dado. Unidade, que a dia de hoje não reclama ser política, se não cultural, civilizacional como falamos: duma mesma unidade linguística somos, nunca deixamos de ser e, numa mesma matriz fomos criados.

Livros como Da Formação de Portugal às Descobertas” do, historiador e filosofo Paulo Alexandre Loução; assim como “Portugal Templário – História e Mito” do linguista e humanista Sérgio Franclim; ou o mais arriscado “Portugal – Primeira nação templário” de Freddy Silva; dão monstra do renovado interesse, por esta todavia não confirmada de todo hipótese.

Hipótese histórica que se cimenta em bases cientificas a cada dia mais solidas, mas também em procuras amadoras, que não deixam de surpreender, pela sua ousadia e coragem; livres daquele rigor que à ciência obriga.

Dou-vos e concedo-vos o tal Castelo com todos seus foros que são e forem para que vós o tenhais firmemente, e todos os vossos sucessores para sempre, e esta doação faço, não por mando ou persuasão de alguém, mas por amor de Deus, e por remédio da minha alma, e de meus Pais, e pelo cordial amor que vos tenho por e porque em vossa irmandade e em todas vossas boas obras sou irmão” afirma o documento de confirmação pelo próprio D. Afonso Henriques, da doação da sua mãe Dona Teresa, do afamado castelo de Soure, a ordem do templo.

Na Galiza, pela contra a Ordem de Santiago, nascida na cidade extremenha de Cáceres; mas transferida a Compostela em 1170 ia atrair às suas filas a nobreza e fidalguia mais importante do reino.

Enquanto aquela Ordem do Templo, foi acolhida, protegida e renovada na Ordem do Cristo pelo espiritual, intelectual e artístico rei D. Dinis; para num futuro ser a pedra basilar das navegações e, da importante chegada as costas do Brasil; do lado galego – a Ordem de Santiago, seu cavaleiros e leal nobreza galega, serviram de maneira exemplar ao Império a qual pertenciam. Os galegos e portugueses fizeram da lealdade a seus reis, e a confiança em Deus, um dos valores mais fundos – enraizados nos mais profundo da alma celta. Alma raiz de ambas ambas nações. Alma celta que, tal como deixa bem manifestado o Conde de Gondomar ao rei Felipe VI, da Espanha, em sua carta em defensa da nobreza, lealdade e generosidade dos galegos – na retitude e obediência a Lei tinha seu ser primeiro. E assim segue a ser nos galegos e portugueses, de raiz, a dia de hoje.

Dizem que o próprio Afonso Henriques foi coroado Rei, num cerimonial velado de verdadeira entronização celta. E assim teria casado com a Terra – E a Soberania Real Feminina, que é a Senhora do território celto – galaico, ter-lhe-ia dado em doação a gestão daquele território; que somente poderia e poderá ser próspero, sem o bem, a justiça e o respeito a Lei, forem cumpridos. Os seres humanos que ainda nao compreendem a grandeza deste Mistério, são os ruins, invejosos, cobiçosos; que ferem e danam a Sagrada Mãe Terra – numa procura inútil de pequeno poder material – esquecendo-se da sua missão verdadeira

Divergências

Mas essas diversas e divergentes realidades sócio-políticas tiveram de aumentar a separação interna: a portuguesa para dar mundos ao mundo (no seu lado luz – com o Brasil – futuro centro da América do Sul – como trabalho mais insigne). E a galega para fazer do Império Espanhol um centro geográfico preciso para o evoluir da humanidade em um determinado período histórico. Centro civilizacional que teve como raiz do seu esplendor a famosa “Escola de Salamanca” que no seu humanismo (com o jesuíta Juan de Mairena na frente) inspirou a futura intelectualidade e os ideais da “Revolução francesa”. Tendo essa mesma escola cimentado a “Carta dos Direitos dos Indígenas”, ajudando aos nobres trabalhos realizados por personagens com “Frai Bartolome de las Casas” entre outros.

Ambos Impérios também com suas conhecidas e malignas sombras; que não diferem das sombras de outros impérios passados e presentes, devido a tónica evolutiva da humanidade ainda não ter atingido o esplendor que em no momento histórico a que nos referimos, tinha de ter sido já efetivada. Mas, pela contra, ainda não foi efetivada nem a dia de hoje.

E assim os povos irmãos serviram, com os seus melhores e também mais mesquinhos empenhos (dependendo a luz e compreensão dos homens, que realizaram as diversas tarefas) a diversos mais necessários planos civilizacionais.

E agora que chegou o momento de novo unir o filho que se fez pai – Portugal, com sua mãe biológica Galiza; para trazer ao mundo de novo um outro, mas não menos preciso, processo civilizacional – desta vez oceânico (no que terão de participar todos os povos da lusofonia – que atingem os cinco continentes -, junto seus irmãos hispanos); nos encontramos ainda como a velha fenda. A ferida de Dona Teresa e seu filho D. Afonso a levantar-se diante de nós, com a pesada desconfiança criada pelo Arcebispo Gelmirez. E da qual nós, não sendo culpados somos de algum modo herdeiros.

Para ultrapassar a mesma, devemos, de novo espiritualmente unir o filho feito Pai – com a Mãe, que a pesar de tudo por ele sempre aguardou e aguarda. Para finalmente num abraço comum, ambos, tomar maior dignidade. Para juntos, de novo em conjunto com os povos irmãos, de fala galega-portuguesa e espanhola; na Ámerica, na África e na Oceania, em comum união – comunhão definitivamente Elevar-se!

E, isto, passa também pelos portugueses reconhecer sua ancestral galeguidade; e pelos galegos nunca sentir-se estrangeiros em Portugal. Estamos em casa.

Essa união espiritual deve ser composta por um genuíno retornar de ambos: Portugal as suas raízes ancestrais – Galiza a sua língua e espaço cultural, nascido do seu útero.

Língua e cultura que Portugal, junto ao Brasil, África e o mesmo Timor, elevou aos cumes mais altos da universalidade. Cumes que Galiza no oculto ajudou a galgar – pois, em todas as grandes gestas e epopeias dos irmãos lusos, em todos os cantos do planeta, se reparássemos bem, vamos encontrar a mão direta ou indireta dum ilustre galego ou descendente de galegos, unindo-se nas pesadas tarefas. Assim são estas gentes, que quando nobres nascem fazem dignas e nobres suas linhagens, suas terras e suas gentes.

Devem ser cientes que a Galiza como boa mãe da obra universal oceânica do por vir, deixou seu filho transformar-se em pai. Permitindo a este filho ser novo pai. Pai de cuja descendência, novos nobres herdeiros surgirão, a dia hoje já adultos: maturos para realizar caminhos indepedentes. No entanto, a Mãe , na sombra, esteve sempre a velar – zelar por todos eles. Cuidar para a nau nunca se afastar do seu bom rumo. Rumo, nas suas entranha já de algum modo idealizado – traçado. Pois, a mãe sempre acredita, não duvida, que finalmente essa nau chegar vai a esse futuro, no presente a realizar-se como um por vir de civilizador destino.

Juntos, todos e todas, esse compromisso adquirimos: ao escrever um poema na língua comum, ao trabalhar em variados programas e projetos conjuntos. Pois como diz nosso iniciático hino galaico: os tempos são chegados. E estão abertos para afiançar, ainda mais, nossa comum amizade.

E a pesar de todo amizade continua

Muitos tem sido os amigos e as amigas, de Portugal e Brasil, mesmo algum da África, que soube situar a Galiza como matriz, mãe, desta cultura comum, neste presente a formar-se, transformar-se, em oceánica civilização: união de múltiplas culturas europeias, africanas, asiáticas, americanas e da oceania.

Destaco de entre todas, hoje, as palavras do meu bom amigo humanista, intelectual e linguista português António Vilas-Boas. Do mesmo jeito poderia destacar as palavras dum Rodrigues Lapa, um António Coimbra, António Cabral ou um Manuel Oliveira Guerra, diretor em seu dia da revista “Celtiga”; por dar alguns exemplos de entre outros muitos e muito variados.

E mesmo chegaríamos o grande cantor português Zeca Afonso, quem afirmava Galiza pertencer: “a mesma realidade cultural que Portugal, sobretudo que o norte de Portugal; mas por artes de berliques e birloques, partilhas, lutas entre senhores feudais, hoje existe uma fronteira a separar povos que têm praticamente a mesma língua e que são, aliás, muitíssimo semelhantes, até na sensibilidade”

Deixo-vos, pois, com as palavras do nobre amigo Vilas-Boas, que encheram por uns minutos, minha alma de profunda alegria, saudade e também formosas lembranças. Foram enviadas em comunicação particular e agradeço, tenha nosso amigo permitido serem publicadas em este artigo; pois elas são fiel testumunha do sentir de muitos galegos e portugueses:

Nasci em 1954 e vivi portanto, no Baixo Minho, a minha infância. Sem saber que era galego… Ora aí pelos meus 22 anos, Ernesto Guerra da Cal, galego especialista emérito na linguagem e estilo de Eça de Queirós, publicou cá uma antologia da Rosalía de Castro. Era uma pretensa tradução… Escusada. Escusada porque aqui a Rosalía não precisa de ser traduzida. Mal traduzida por vezes. Guerra da Cal faleceu não muito depois. Já não estaria no seu melhor momento. Ora eu não conhecia nada na altura de Rosalía de Castro, a não ser o nome, a importância na literatura galega, e o busto dela que está na Praça da Galiza, no Porto. Um bocado escondido, lamentavelmente, pois é liricamente belo. Então comprei o livro das poesias dela e pus-me a ler. E comecei a chorar. Li toda a noite. E vi que era galego: palavras da minha infância que tinham desaparecido estavam ali. Não eram palavras que eu ouvisse em casa ou que eu dissesse. Eram palavras do povo de Guimarães, dos lavradores, tantas vezes analfabetos, que rapidamente desapareceram nos anos 70, mas normais ainda nos anos 60: AUGA, CANDO, etc. Muitas. Eu nasci e cresci numa quinta, propriedade rural. Tinha caseiros na quinta, isto é, lavradores que nela trabalhavam, com gado, etc… E convivia muito com eles e os filhos – da minha idade. Aquelas palavras regressadas (esquecidas…) mexeram comigo. Para além da força lírica de Rosalía. Ainda há pouco, lendo Castelao, encontrei palavras que assim eram ditas pela gente do campo em Guimarães: HOME,MARELAS (vacas), ANTRE (agora diz-se ENTRE…), TAMÉN (TAMBÉM), etc, etc. Sublinhei muitas. O pobo (poboo em Fernão Lopes, hoje povo) falava assim. Pelo menos o povo dos campos. Já dos operários das fábricas não tenho a certeza. Das classes cultas tenho: ninguém usava já estas palavras.

Por outro lado: se há estas semelhanças, também vejo, em Castelao por exemplo, palavras ou expressões galegas muito diferentes do português. Não vejo parentesco nenhum. Recorro a dicionários online, como o da Real Academia Galega (não tenho a certeza de que se chame assim) e há palavras que simplesmente não encontro”

Também eu vou ao encontro sonoro das palavras que não se encontram. E mesmo assim encontro muitos outras comuns, que são encontro para nosso encontro… Meu sentir por Portugal acho tenho deixado firme testemunho também em este escrito. No entanto, posso afirmar que desde o primeiro dia que pisei Portugal, sendo ainda uma criança, senti meu coração estar a descobrir, sem eu poder revelar a ninguém, uma porta que comunica. Era como estar em um outro local, que mantinha uma idêntica essência: essência que vivia, ainda cantava na terra natal do meu pai, no concelho de Nogueira de Ramuim, perto do rio Sil – um dos meus locais sagrados.

Quis a meu tio, de algum modo, esse sentimento tentar explicar ao afirmar:

  • Tio, esta gente, fala como a gente da nossa aldeia… – No entanto meu tio riu do meu dizer. E, ainda hoje acho esse riso foi a expressão de alguém que tentava dissimular, muitas das grandes ignorâncias que os adultos têm, por causa dos seu muitos e múltiplos sociais condicionantes. Os cativos ainda são, graças a Deus, livres destes pré-conceitos ; e muitos vezes estas risas suas almas contaminam para desgraça do mundo… Mas, a pesar de todo, não me deixei influenciar – intimidar pelo seu forçado desprezo. E, finalmente, pude comprovar, sim, serem as falas de um e outro lado do Pai Minho a mesma e única fala: uma fala para a comunhão – a mesma comum união, que nenhuma artificial fronteira pode dividir, nem impedir de conetar-se, se nós tivermos e temos a vontade! Essa fala, que como todas as falas, tem a magica capacidade de pelo mundo multiplicar-se, sem nunca chegar a perder sua raiz, fortemente num valoroso chão plantada – O, invés, enriquecendo-se, volta, vai, volta com achegas das outras nobres, formosas falas. Falas irmãs de coracional viagem… Deste modo podemos, e devemos, a velha fenda ir consertando: talvez seja um dos nossos presentes trabalhos. Por que mais que nunca hoje é necessário!

Como falava o nosso ilustre escritor galego Dom Ramom Outeiro Pedraio, em 1932:

“Os melhores espíritos portugueses e galegos som cidadãos da integridade da Galiza antiga (…) A língua deve voltar a ser a mesma, para fortalecimento do ser transcendental da Céltiga ibérica. Galiza, tanto etnograficamente como geograficamente e desde o aspeto linguístico, é uma prolongação de Portugal; ou Portugal é uma prolongação da Galiza, o mesmo dá”

E agora essa língua comum, ultrapassado já o umbral celtibérico, tornou-se língua internacional, criada para unir continentes. Fortalecendo a oceânica civilizarão, que volte a juntar, povos irmãos na fala.