As causas geram efeitos; sendo a causa raiz desenvolvida no plano mais elevado, aquela que gera os efeitos no resto de todos os planos, como projeções desenvolvendo-se desde este ponto axial, no qual esta causa se assenta.
No caso do “surgimento” do patriarcado, sua causa histórica muitas vezes é renacionalizada com o acomodo da mulher a sua função de gestão, maternidade, cuidado inicial dos filhos nascidos (dependentes do alimento materno); e finalmente “imposição” e “submissão” do feminino ao os cuidados domésticos (em sociedades todavia muito primitivas)
Segundo Engels, no “Origem da família” esta submissão aparece na última fase Pré-históricas da Idade dos Metais – que traz consigo a criação e uso das ferramentas, que requerem da maior força física. Para Simone de Beauvoir, no “Segundo Sexo” esta explicação é correta, mas todavia “superficial”.
Segundo Engels, no “Origem da família” esta submissão aparece na última fase Pré-históricas da Idade dos Metais – que traz consigo a criação e uso das ferramentas, que requerem da maior força física. Para Simone de Beauvoir, no “Segundo Sexo” esta explicação é correta, mas todavia “superficial”
A capacidade do ser humano para fabricar ferramentas o pré-dispõe, segundo Beauvoir, a perder o medo a “Mãe Natureza”, a qual pode começar a dominar e controlar. (esse medo à natureza, estaria associado a um medo masculino do poder da feminidade?) Em essa nova situação, com o entorno natural mais controlado, o varão guerreiro, expedicionário, que arrisca a vida – impõe o valor guerreio-masculino como superior, condenando a mulher ao trabalho reprodutivo e doméstico. Temos aqui a superioridade associada ao sexo conquista pelas armas e não ao sexo que engendra e dá a vida.
Mas a tradicional cultura celta com seu arquétipos sagrados de mulher mãe, amante em igualdade e guerreira, contradiz em certo ponto este posicionamento. A deusa celta, em sus aspetos luminosos e obscuros, parece densenvolver todo o leque de possibilidades do poder feminino: um poder não submetido um varão dominante – Aparenta a via espiritual celta, abrir-se passo, a parceria mulher – homem como gêmeos espirituais, experienciando o sagrado, de ambas polaridades: complementando-se.
Filosoficamente vemos uma relação do patriarcado com uma narrativa histórica escrita por homens: tanto nos livros da lei humana, como nos da Lei Divina. Suprimindo, de algum modo, o papel ativo da mulher em todos os processos históricos, ao suprimir seu papel na narrativa preponderante civil e religiosa.
Um relato fantástico?
“O homem ignorante não vai além da concepção de Deus como um ancião, de longa barba branca, sentado num trono dourado e dando ordens à criação. O cientista caminhará um pouco mais antes de se ver obrigado a lançar um véu a que chama éter, e o filósofo avançará ainda mais um pouco antes de lançar um véu a que chama Absoluto, mas o iniciado caminhará mais do que todos, pois aprendeu a avançar por meio dos símbolos, e os símbolos são para a mente o que as ferramentas são para as mãos – uma aplicação ampliada de seus poderes.” (Dione Fortune “A cábala mística)
Mas pode talvez, haver outras explicações. Nos “Grandes Iniciados” Édouard Schuré, afirma existir na Europa, sobre o 7º milénio a.C. uma sociedade matriarcal, já caída em entropia – decadência cíclica. A figura do celta Ram, comanda uma expedição que ruma a Ásia Central – cordilheira do Pamir e finalmente se adentra na Índia, fugindo daquele matriarcado em declínio. Influenciado, as culturas da zona de tal modo, que aquele Ram – seria transformado mais tarde no Rama – do Ramayana indiano, supostamente escrito por Valmiki no século III a.C.
Partindo da hipótese do texto de Schuré, ser um escrito anticientífico e que mesmo poderemos, se quisermos, qualificar de “fantástico” por uma falta de evidencias palpáveis; ele não entanto, manifesta vários aspetos interessantes – entre eles: a retirada da mulher da guarda e custodia do fogo do Altar e, sua reclusão ao cuidado do fogo do lar. A ideia universal dos ciclos dentro dos ciclos como uma das bases, para entender evolução humana, natural e cósmica. Junto aquela visão dos contrários em atrito – concorrência (em este caso o masculino e feminino) como parte do continuo movimento da história. Concorrência – guerra, que nós acreditamos somente terá um fim – quando a humanidade chegar a um grau evolutivo – que lhe permita olhar também, o principio da analogia dos contrários: feminino e masculino juntos gerando a vida.
A civilização greco-romana, que é um dos alicerces mais firmes da nossa cultura ocidental – influenciada pela civilização suméria – via a cultura “minoica” (da Idade do Cobre e o Bronze) cretense – poderia ter recebido, também, essa ideia do divino feminino vinculado ao lar e retirado do altar? Enquanto traz do Egito, dos Ptolomeus – ainda vivo o arquétipo cósmico feminino como principal na Tríade Sagrada – ISIS (Senhora e guardiã do útero cósmico) – junto a Ossíris e Horus?
A Relação Simbólica – com o Arquétipo
“Eternidade é como uma roda, que não tem começo nem fim” (Hildegarda de Bingen)
O tradicional arquétipo feminino sagrado no ocidente – mantém a ideia da ligação mulher humana – deusa da natureza – deusa cósmica.
Segundo a nossa amiga a Dra. Branca García Fernández-Albalat, os celtas rendiam culto a Deusa Soberana – mãe dos deuses e dos homens. Sendo esta ideia de mãe dos deuses e dos homens, e pelo tanto anterior aos mesmos, também visível na teogonia de Hesiodo.
Segundo a nossa amiga a Dra. Branca García Fernández-Albalat, os celtas rendiam culto a Deusa Soberana – mãe dos deuses e dos homens. Sendo esta ideia de mãe dos deuses e dos homens, e pelo tanto anterior aos mesmos, também visível na teogonia de Hesiodo.
Para nós essa Deusa – mãe dos deuses e os homens, representa aquela Divindade Cósmica (taça da gestão e geração dos mundos) que na Tríade – aparece unida com o Deus Cósmico (semente da criação que vai germinar no útero da Mãe Universal os mundos futuros) e o filho – filha que vai simbolizar essa matéria criada: nascimento dos mundos e correção dos mesmos, ate aproximar-se do modelo idealizado, em aquele Sagrado Útero Cósmico materno.
Mas na tríade indiana os processos de criação, conservação e reciclagem ou destruição do universo, priorizam o aspeto masculino – encobrindo o feminino, por trás do título de consorte, que relega o mesmo a um segundo plano – assim temos, que de Parabramha (O Neutro – Não Ser original Ominpresente, Onisciente e Onipotente), surge: Bramha o criador, Visnhu o conservador e Shiva o reciclador ou destrutor. Com suas contrapartes femininas, à sombra: Saraswati esposa de Brahma; Lakshimi esposa de Vishnu e, no caso de Shiva, com duplo acasalamento – Sati e Párvati (eis aqui um principio cósmico, que vai, a posteriori legalizar a poligamia patriarcal?).
O culto a Inana – Isthar (unificado pelo Grande Rei Sargão, de Acadia – cuja filha era precisamente a Suma Sacerdotisa do culto à simbolica Deusa) volta representar essa triplicidade arquetipa feminina. No seu primeiro aspecto “Senhora do Céu” (nin-an-ak: Inana) – No mundo sumério temos também Nammu – deusa do Mar – Deusa Primoridal, mãe de todos os deuses e deusas; sendo o Mar ou Oceano Primordial representante precisamente essa Taça ou útero cósmico.
No seu segundo aspecto – Senhora da Natureza, deusa Soberana do Território. E, finalmente, no seu terceiro aspecto de Senhora representante dos poderes femininos, também patentes na mulher: útero da gestão, mãe que cuida e alimenta. Mulher com capaciade de vidência (as famosas “pitonisas”), premonição, regeneração – sanação (um dos princípios da “prostração – sagrada”, ou aquele sagrado ofício de retirar as pesadas cargas do peregrino que chega ao Templo, que em épocas de decadência foi mal utilizado, mal interpretado, denegerando no nosso atul termo de “prostituição)…
Temos, assim, esse patriarcado oriental – estendendo-se, com tempo, ao Ocidente desde Grécia até a Roma Imperial. Sendo os romanos vencedores do poder celta – o minorar duma sociedade mais equitativa entre mulheres e homens (onde o Divino Feminino ainda prevalece como Druidesa – cuidadora do Fogo Sagrado do Altar – mantendo o Sacerdócio Masculino e Feminino um posição equitativa), esse patriarcado Oriente vai ir ganhando espaços no Ocidente. Será esta a hipótese correta? O dialogo permanece aberto e, pode mesmo ser um reto, fazer-nos este questionamento.
O Patriarcado no Cristianismo
Em 325 o concílio de Niceia, vai sentar as bases, da futura raiz civilizacional que vai marcar o Ocidente ate os nossos dias: o cristianismo.
No mundo cristão a ocultação do sagrado feminino ainda é mais patente, mais clara. A tríade cristã vai substituir o Pai – Mãe – Filho (da maior parte das mitologias do mundo); pelo Pai – Filho e Espírito Santo. Mesmo supondo que o Espírito Santo – a Pomba, seja uma representação velada do divino feminino – como afirma o evangelho apócrifo de Filipe, esta representa mais a essência espiritual que vivifica e reanima, que a taça feminina que contem a mesmo. Por outro lado, o sacerdócio feminino é negado, reservado o Templo e suas lavouraras para os homens.
No mundo cristão o homem ocupa o poder do Templo, do Governo, da Justiça e da Guerra (tal como observamos no Oriente); enquanto a mulher fica relegada a custodia do “fogo do lar” tal com Schuré descreve nos seus “Grandes Iniciados” – Por outra parte, o Filho, não precisa da intermediação da Mãe Cósmica para comunicar com o Pai – o caráter de Guardiã do Umbral, que no mundo celta é atribuído ao feminino, fica então desnecessário.
A própria Dra. Fernández-Albalat, em comunicação pessoal tem-me manifestado, que se vem o condutor das Almas no mundo celto – galaíco era uma divindade masculina (Laros) a Senhora do Umbral e Guardiã dos seus Portões sempre era atribuída a uma divindade feminina (Leera) – Sendo assim, a Divindade feminina encerra no mundo celto – galaíco a chave dos mistérios do Alfa do Ómega, do Aleph e Tau (do alfabeto hebraico), e dizer de aquele “Princípio e Fim” que no cristianismo passa a ser atributo do Filho – do Cristo – e, de algum jeito, manifesta o acesso interior a divindade (o Divino em nós) por meio da centelha crística – uma essência espiritual masculina.
Filho que não precisa achegar-se ao Umbral, Taça, Abertura (comandada pela Divindade Cósmica feminina) para falar estabelecer uma comunhão com o Pai – senão que ele tem a chave de todos os portões – a conexão se fez direta – desde o masculino inferior ao masculino superior – sem passo pelo conduto feminino. Aqui o condutor masculino se eleva, sem precisar o conduto; ou quanto menos este não semelha ter uma importância tão esplicita.
Também não existe divisão equitativa entre o masculino e feminino do Filho e Filha (como no caso celta de Lugh e Briga ou Brigantia, que são irmãos e, suas funções, nos trabalhas de ajuda a humanidade, bem delimitadas e compartilhadas). Agora o Filho, na tradição cristã, assume todo protagonismo. Sendo ele, o objeto de culto – enquanto o feminino, se resguarda simplesmente na sua função, auxiliar, maternal.
Maternal igualmente no aspeto divino – sendo representada esta função pela Virgem Maria, mãe do Salvador do mundo, do libertador dos pecados e do reintegrador da humanidade no caminho da Lei Divina (o Dharma dos indianos). É, pois o referente masculino, o único caminho valido para o aperfeiçoamento espiritual; ficando para o feminino sagrado somente o aspeto da mãe consoladora, protetora e sem mácula: berço imaculado que recolhe a semente espiritual, para engrendar o filho.
O controlo do Imaginário Coletivo
“O potencial da humanidade é infinito e todo ser tem uma contribuição a fazer por um mundo mais grandioso. Estamos todos nele juntos. Somos UM” (Helena P. Blavatsky)
Sendo que a raiz civilizacional que controla o imaginário coletivo, de uma determinada civilização, está orientada numa determinada patriarcal visão, herdada de épocas passadas, toda nossa sociedade bebe dessa fonte e se orienta conforme aos arquétipos emanados da mesma. Moldando estes nossa individual e coletiva experiência vital.
Sabendo disso precisamente, mulheres e homens que viram a necessidade de não abandonar a essência feminina, no seu aspeto mais elevado – o espiritual, mesmo tentando manter a aparência exterior – religiosa conforme aos cânones patriarcais da época; no velado da sua intimidade sempre culturam esse feminino sagrado, em todos seus aspectos de poder, além da maternidade.
E mesmo tentaram ir abrindo (dentro das fendas) que o sistema permitir, o religioso cristão a esse divino feminino, a través de certa simbologia (apta para iniciados nos cultos mais ocultos), como na idade media demonstram “as lendas artúricas do Graal” (onde a taça do sagrado feminino toma presença, aqui de jeito mítico – místico) lembrando o feminino custodio da essência divina ou elixir, tal como a Deusa indiana Lasksmi: última a emergir do oceano primordial, que traz o mesmo elixir sagrado, sentada sobre a flor do lótus.
Igualmente o movimento trovadoresco, que tanto deve a Leonor de Aquitânia, vai encobrir em esse amor cortes, requintando, muitos dos segredos do divino feminino. A própria Leonor de Aquitânia, como a maior feudatária da França, imporia sua decisão de acompanhar a 2ª Cruzada em 1147, a pesar da oposição do rei, seu marido, Luis VII. Observamos um carácter feminino expansivo – expedicionário, ativo, em contra do cânone passivo da época.
Do mesmo jeito a rainha Santa Isabel, de Portugal, casada com D. Dinis, naquele seu milagre das rosas, encobre a simbologia do feminino, para ir ativado o mesmo no imaginário coletivo da época.
Assim também em varias representações de virgens católicas como a Virgem da Mercê ou Maria Auxiliadora, vemos uma imagem referente ao capitulo 12 do Apocalipse de São João, onde as virgens figuram com a meia lua aos pés, uma coroa de estrelas na cabeça e raios de sol rodeando todo seu corpo. Alem da simbologia da Divindade defendendo o filho que traz a renascença do mundo; temos também, muito bem velado, a ideia do caminho do divino feminino, tão valido como o sagrado masculino, para elevação e conexão com o sagrado, cuja essência não deixa de ser neutra.
A virgem que pisa a meia lua, representa a mulher transformada, uma vez ultrapassadas todas as suas sombras – vencendo a sombra do cone lunar (associado ao lado sombrío)– Mulher Realizada, em todo seu esplendor, que o sol espiritual ilumina – e, lembra em alguma ocasião à simbolica Vênus renacentista de Botticelli. Assim como o caminho das estrelas que fica para ela aberto (representado pela coroa) é o caminho entre ambos mundos – Sendo esse coroar estrelado também a manifestação dela ser a Senhora dos céus, aquela mesma MAAT, aspeto da abobada celestial sagrada dos egípcios.
De todos, estes seculares pequenos e grandes trabalhos, enmarcados subtilmente dentro do imaginário coletivo, pelo qual se domina o mundo… Desde o mais elevado plano espiritual – jorram aos planos mais baixos aquelas ideias da mulher humana e espiritualmente realizada, que conforme as sociedades vão evoluindo cientifica, tecnológica e humanamente, vão abrindo espaços para a mulher recuperar seu genuíno poder. Poder também, em disputa (por desgraça), dentro de nossas modernas sociedades, que junto com os seus mais variados aspetos, representam a dia hoje, o lado sombra e luz do poder feminino. E somente através deles, poderemos realmente um dia conhecer, a riqueza do verdadeira do feminino.
Mudança
O pêndulo oscila, se volta mover: o ciclo patriarcal declina, um novo ciclo matriarcal pode abrir-se passo. E ambos, seguirão em atrito um negado-se um ao outro (trunfo de um – oculta o outro); ate que a humanidade, elevar o suficiente sua consciência para alcançar aquele patamar harmónico. Local equitativo que permite equilibrar – ao entender a complementaridade dos contrários: para finalmente a humanidade desfrutar, livre e conscientemente seu divino masculino, seu divino feminino – Poder.
O pêndulo oscila, se volta mover: o ciclo patriarcal declina, um novo ciclo matriarcal pode abrir-se passo. E ambos, seguirão em atrito um negado-se um ao outro (trunfo de um – oculta o outro); ate que a humanidade, elevar o suficiente sua consciência para alcançar aquele patamar harmónico.
Poder que para ser pleno, deve a par desenvolver-se; pois ambos, mulher e homem, contêm em sua alma um lado masculino e um outro feminino e, vice-versa.
Sendo que o homem observa a feminidade, desde sua masculinidade; e a mulher a masculinidade desde sua feminidade. Já o dizia Marco Aurélio, nas suas “Meditações”: “Quando a força das circunstâncias te deixar como que transtornado, volta depressa a ti mesmo; não fiques fora do ritmo alem do necessário, porque serás tanto mais senhor da harmonia quanto mais frequentemente voltares a ela”- E, essa harmonia sempre depende de saber, também equilibrar em nosso interior – e no exterior social – aquele princípio masculino e feminino vivo em todos nós.
Assim, pois, não sabermos com certeza qual o momento no tempo e o local onde se iniciu esta dinamica patriarcal, que a dia de hoje ainda se afirma (com menos força, mas persiste) em nossas sociedades. Mas o que sim podemos afirmar é que ele deu seu começos ali onde o mais elevado que tem a condição de ser mulher, foi, por primiera vez, sistematicamente negado: o Sagrado Feminino. E com essa negação o ato de maior injutiça contra nossas companheiras foi realizado, ao negar-lhes a via espiritual, de ascensão ao conhecimento místico. Livre via de mulher para mulher, que deveria ser transitada sem ter de precisar da permisao, guia ou conselho dum guru, sacerdote ou bispo. Do permisso patriarcal em definitiva.
Reverter esta situação, passa por manifestar, publicamente o que muitas mulheres já fazem na intimidade: desenvolver seu poder espiritual, desde o caminho da Deusa Soberana. E, voltar instarurar o Sacerdócio feminino, sempre em igualdade com o Sagrado Masculino – uma comunhão de Druidesas e Druidas em conjunto com as suas comunidades: o Comum na Unidade.
“Nada a dizer. Nada a ensinar. A verdade é tão evidente por si, tão óbvia, que toda e qualquer explicação só pode servir para obscurecer essa verdade” (W. Wats “O Budismo Zen”).