Espanha em involução

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Estamos agora num novo e crucial momento histórico para Espanha e infelizmente de novo a tendência autoritária se impõe acima da flexibilidade e o dialogo. Mas isto não parece ser uma exceção na historia penínsular, desde começo da vitoria do reino de Castela e, o inicio da imposição da supremacia centralista no século XV.

Percalços, glorias, provações, derrotas e vitorias tem percorrido a história evolutiva da humanidade e dos povos, na procura final da sua libertação através da elevação da consciência e do encontro com o verdadeiro conhecimento. No entanto Espanha sempre se decantou mais pela efémera gloria, que pela verdadeira grandeza: aquela que marca uma ação decisiva para o progresso da humanidade. Tristemente a história involutiva de Castela, que depois ia ser imposta ao resto dos reinos peninsulares, começa a fazer-se inevitável, a finais do século XV, com a Doma e Castração da Galiza. Afonso V de Portugal, defensor dos direitos dinásticos da sua sobrinha Joana (aquela que os castelhanos chamavam a Beltraneja), era descendente da monarquia borgonhesa de controlava Portugal desde Afonso Henriques. Aliando da Galiza comercial (Galiza não era de poder agrário, senão comercial), junto com os senhores do Oriente castelhano e da Estremadura; perde a batalha de Toro, em favor da Castela feudal agrária, ajudada pelo príncipe de Aragão.

O Aragão comercial, que a inícios do século XV, tinha obtido de Yusuf III (senhor do ultimo reino andalusi de Granada), o monopólio de exportação da seda e do sal; terá que ver, como pouco a pouco, seu poder vai sendo minorado em favor da visão mais centralista e feudal castelhana.

Em 1504 morre Isabel de Castela, seu consorte Fernando de Aragão, que tinha aproveitado o poder militar de Castela para assegurar Nápoles, para a coroa, via agora como o arquiduque Filipe de Habsburgo, filho do imperador Maximiliano, ia-se fazer, momentaneamente, com o poder do centro Peninsular (graças a ser o consorte de sua filha Joana, a herdeira ao trono de Castela e, a sua aliança com aquela nobreza central, acostumada a usurpação e a rapina).

Para evitar seu completo isolamento Fernando teve de aliar-se com seu antigo inimigo Luís XII, da França. Para recuperar o trono de Castela, Fernando teve de aguardar a morte de seu genro, encarcerar sua filha no castelo de Tordesilhas e permitir que o inquisidor Lucero, o Tenebroso, assolara meia Andaluzia encarcerando judeus-convertidos, mesmo ao ponto de chegar apressar o arcebispo de Granada, pela sua origem hebraica.

Uns meses antes, o católico Fernando, tinha viajado de Barcelona a Nápoles para impedir o Grande Capitão enraizar seu poder de Vice-Rei no prospero reino italiano; ao tempo que comprovava como este militar tinha delapidado uma fortuna, criando uma rede corrupta de alianças, de não muito fiar. Eis aqui as raízes, que ainda agora permeiam nesta Espanha centralista, ciosa defensora da sua unidade territorial e cultural, assentada supremacia da língua castelhana (única com verdadeiro carimbo de espanhola); assim como o recurso final a imposição dos mais fortes e a corrupção, como meio para afiançar as redes que ao poder sustentam.

Carlos V, acaba com os comuneiros. Filipe II, quebra a aliança comercial histórica Galego-Inglesa ; da qual vai surgir um aprofundamento da aliança anglo-portuguesa, que rematará na Independência de Portugal, a partir de 1640, no marco da tentativa de independência de Catalunha; ajudado os lusos pelo poder militar inglês e incitada pelo cardeal Richelieu, da França… Alguém no País Vasco, refletia: “Euskadi, lamentará toda sua vida, não haver iniciado uma frente de guerra, nas vascongadas, apoiando Catalunha…”

Isabel I, da Inglaterra, ante a ambição do Papado, de entregar seu reino a Espanha ou França (para unificar todo as forças cristas contra o protestantismo) e, a indicações dos seus conselheiros, opta pela independência do Papado e uma terrível repressão a toda católica dissidência .

Ao vencer a Armada Invencível, Inglaterra sêmea o seu futuro de centro geográfico do mundo, da mão da reforma e do progresso, e dos judeus exiliados na Holanda, que com o tempo, também rumaram a terras inglesas…

O México pré-colombiano , estava em decadência total, mesmo assim sua vitalidade cultural era imensamente superior a dos futuros EEUU.

A Península Ibérica se tinha situado como centro geográfico, no século X, com a Córdova de Adberraman III. O capital humano vinha de oriente para ocidente ate Córdova, atraindo os senhores do saber da época: os judeus. Quando Castilha, em pleno século XIII, XIV e XV, começa a perseguir e domesticar esse capital inestimável, os judeus mudam em massa para Portugal. Se Afonso V, houvesse concluído sua missão de unificação peninsular, e de poder comercial, com elites mais evoluídas; os judeus não houvessem sido expulsos da península, pois o judeus eram os senhores que financiavam a iniciada empresa marítima portuguesa e formavam parte do projeto português, para o mundo… Lamentavelmente triunfou Isabel e Fernando, os Católicos Reis… O que hoje passa tem muito a ver com isso. O poder involutivo Espanhol, a fazer-se com quase toda a península, sempre pressionou Portugal, direta ou indiretamente; chegando Lisboa ate mesmo fazer substituir os Erasmitas, que educavam a nobreza portuguesa, pelos involuídos – naquela época – jesuítas… Finalmente o catolicismo cego impor-se-ia, em terras lusas e, a Inquisição trunfa em 1540. Mas tarde a nobreza agrária portuguesa, aliar-se-ia com Filipe II, fazendo perder o poder a nobreza comercial de Portugal.

Mas a pesar de todo, Portugal, trabalhou Brasil com uma certa visão de futuro, algo que nos dias hoje começa a dar seus frutos. E de não ser pela nobreza fundiária portuguesa, Rio de Janeiro ter-se-ia convertido na capital de todo o Reino de Portugal, Algarves e Além-Mar, permitindo de novo a nobreza comercial tomar o comando, e as maçonarias desenhar um novo período transcendente para a humanidade; que bem podia ter-se iniciado quando a armada napoleónica obrigou, ao rei português a fazer transferência da corte ao outra lado do Atlântico , no ano de em 1808.

Nesta altura a humanidade está de novo a atravessar um período de involução, onde os poderes obscuros que dominam o mundo tentam fazer-nos acreditar, que não há solução, alem da guerra continua: seja militar, financeira, comercial, cultural ou política. Mas eles são passado já. Rússia, a herdeira da antiga Bizâncio, poder involutivo, tem permanecido em pé, como força da mesma natureza em contrário, para derrubar qualquer tentativa de impor no mundo um centro único castrador de outras culturas e dominador de toda a humanidade, como no seu dia pode comprovar Napoleão ou Hitler. Sendo em paradoxo a Rússia, um terrível poder centraista.

Trump, a pesar de todos os estereótipos e de todas as verdades sobre ele, luta de forma decidida contra a elite bancaria e o estabilishmen americano (mas pelo de agora, vai perdendo sua batalha).

Pela contra Europa, fecha apoios com o poder finaceiro. Este poder europeu, aparenta apoiar no confronto com o soberanismo catalão a Espanha, escenificado com a contundente força do poder francês, ajudando decididamente ao governo Rajoy.

A vez Europa dececiona seus cidadãos, a esquerda e a direita. Demasiado abertos e permissivos com as comunidades muçulmanas que (segundo os mais conservadores), não querem a integraçao na União Europeia e pretendem Europa aceite visões radicais e wabbahistas do islão (enquanto em seus países de origem não se aceita nenhum tipo de abertura ou direitos de credo a comunidades não islâmicas), demasiado pouco abertos a revindicação das nações sem estado, suas culturas e línguas (segundo os mais federalistas); demasiado favoráveis ao capital financeiro em pré-juízo das classes populares e, muito ativos desmontando o antigo Estado Providência ou do Bem Estar (agora a cada dia mais claro, que simplesmente foi uma aposta pontual e geopolítica, na era da guerra fria, segundo certa esquerda).

Em fim o velho continente está a converter-se uma máquina de desiludir a toda sua cidadania, incpaz de ativar políticas de verdadeiro dialogo com a sociedade, a cada dia mais céptica.

O Urso Russo, parece estar à espera da contração dentro da U.E; ou quanto menos duma relativa vingança do ataque efetuado a Rússia, durante o período Obama, com o apoio decidido dos Europeus, sobre território da Ucrânia (com as consabidas sanções a Moscovo, que finalmente não decorreram tão bem como o Ocidente aguardava). Seguindo, em aparência, o manual de Alexander Dugin, para criar o poder Euro-asiático, Rússia tenta apoiar qualquer alternativa tanto de esquerda como de direita, que confronte o poder global financeiro. Dai essa estranha diplomacia de amizade com o chavismo venezuelano e a direita de Le-Pen, na França…

Para piorar as cousas Espanha supera a Grécia, pela primeira vez, como país com maior défice de União. Tendo em conta que em esse défice (do 4.3%, inferior ao limite do 4.6% pactuado com Bruxelas) não se incluem as ajudas a Banca Privada na Espanha, com o qual dito défice passaria ao 4.5%. Assim mesmo a dívida pública espanhola desceu do 99.4% para o 99%, não deixando de ser preocupante. O BCE, tem de seguir comprando dívida dos países do sul, para seguir controlando a prima de risco de países tão importantes como Espanha ou Itália. Portugal e Irlanda, parece que tem melhorando um pouco sua situação. Existem rumores de que os inversores compram menos dívida espanhola, e parece evidente, que os mercados ressentem-se dos confrontos entre Barcelona e Madrid. O IBEX 37, desce.
Neste contexto, não muito estável, pelo que parece, Catalunha vem de declarar a 27 de Outubro sua Independência, com nenhum reconhecimento internacional de relevo. Enquanto Madrid, lança já o caminho da aplicação do artigo 155 e o cesse em funções do governo catalã e de seu parlamento. Ao tempo que antecipa eleições, na Catalunha, para 21 de dezembro.

Momentaneamente duas legalidades, estão a decorrer na Catalunha. Os membros do governo catalão, podem ser processados por delito de Rebelião, o que os condenaria de 15 a 30 anos de prisão. Nestas circunstâncias, parece que o poder catalinista se encaminha a resistência e o governo do Estado Espanhol, a derrubar esse desafio, e impor a legalidade constitucional espanhola… Donald Trust, presidente do Conselho Europeu, afirma que somente Espanha será interlocutor valido para a U.E; no entanto adverte ao governo do estado, de não utilizar a razão da forca, e sim a força da razão… Sugestão que se encaminha a evitar uma repressão violenta do movimento soberanista catalão .

Dado que em circunstancias históricas como as atuais, este tipo de confrontos se dirimem mais, pela maior capacidade de um dos bandos, para tecer alianças internacionais favoráveis a sua causa; assim como do cálculo certo poder real interior de cada força; podemos assegurar, quase sem temor a equívoco, que a Espanha está imensamente mais capacitada para ganhar esta fase do confronto. Porem devemos assinalar, que o poder catalão, tem sido capaz de centrar a atenção internacional num conflito, do qual Madrid, gostaria ter sido tratado como um assunto doméstico; ao tempo que seria muito pouco honesto, não fazer notar, que as alianças tecidas por Catalunha, a nível internacional, não permitido nenhum reconhecimento da República ontem proclamada, também tem evitado um olhar para outro lado da comunidade internacional, que teria permitido Madrid tentar solucionar o problema com uma simples utilização da força repressiva. Parece que o guião obriga, a uma utilização de mecanismos menos repressivos. E vamos ver ai, como se desenvolvem os seguintes movimentos, nesta partida de xadrez, que em certo modo se tornou já global e geopolítica.

Mas o que sim parece, de não ser evitado a ultima hora, com uma negociação mais flexível por parte do executivo espanhol, é que Madrid está a ponto de perder o ultimo grande capital humano que ainda restava na Espanha (depois da expulsão dos judeus, pelos Reis Católicos): a mais-valia humana catalana. E isso, não parece possível de recuperar, nem em décadas, nem talvez em séculos, como aconteceu com os judeus…

Dado que si Catalunha independizar-se, sem um acordo com a Espanha, virará costas durante muito tempo a o centro peninsular. Serão criados mútuos receios e desconfianças: feridas fáceis de surgir e muito difíceis de consertar. O mesmo cenario, que se for forçada a dependência. Pelo que acreditamos, que a estas alturas do filme, um a acordo entre as partes, com ou sem mediação, será mais do que nunca preciso; mesmo que este inclua o traspasso da linha vermelha fixada pelo Estado Espanhol: a do referendo pela autodeterminação.

Somente com um amplio dialogo permanente entre as partes, pode voltar a mútua confiança…