A Galiza ética

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                Imersos num mundo de corrupção, associativismo com aparências licitas, mas utilizado por uma delinquência organizada no afã de enriquecer ilicitamente a uma pequena elite, a consta do resto da cidadania… A desesperança começa tomar conta da maior parte das pessoas de bem, neste triste mundo. No entanto existe também, em meio deste mediático processo global de apropriação dos recursos públicos, em mãos dessa pequena elite (para a seguir convertê-los em rendas perpetuas, a favor duma pequena classe cletomaniaca) Existe, dizemos, toda uma pequena não ecoada rede de pessoas trabalhando e criando já um mundo novo, baseado em valores éticos, ecológicos, solidários… Ativos  e vivendo dentro do conceito, mais atrativo, de ajuda mútua e serviço a todos os seres vivos e seu entorno natural. Estes grupos de pessoas se caracterizam por ter dominado seus estímulos inferiores afetivos – emocionais, por meio do uso ponderado da ração e  intuição corretas; elevando-se a um patamar evolutivo superior, caraterizado por uma maior abertura do amor e diminuição do ego – medroso.

 

A tendência negra injusta, imposta pelos dominadores escuros, baseasse na socialização das perdas  e na privatização das ganancias,  através do controlo da moeda, por meio dos bancos centrais ligados a essas mesmas elites parasitas, que por meio da expansão e contração do credito,  mantém vassalagem sobre toda a sociedade.

A tendência branca e justa, pela contra, trabalha no nível associativo, fomentando cooperativas de trabalhadores e trabalhadoras respeitosas com o meio ambiente e as praticas de igualdade entre irmãos e irmãs (sem distinção de cor de pele, sexo, nação…) Associações culturais, cientificas, de ócio, baseadas na colaboração desinteressada, no amor pela vida, pelo planeta e as suas gentes.

 

Os senhores que acreditam no mundo da guerra – dominação, esquecem a sabedoria ética e baseiam toda sua atividade numa inteligência maliciosa, que põe todas suas habilidades cognitivas ao serviço do seu poder e riqueza material evidente. Impondo um mundo de divisão – confronto, que estende o ódio, o medo, o ressentimento, a desunião e os desequilíbrios por todo o orbe. Fomenta a espiral de crises interligadas: ambiental, económica, política, social, de valores… Fomentando, com suas praticas, a decadência em todos os âmbitos e, pondo mesmo em questão a sobrevivência do  próprio sistema de dominação, por eles criado. Dado que estas diversas crises cíclicas, não são senão o reflexo menor da grande crise cíclica global e sistémica, cujas raízes assentam precisamente numa visão egocêntrica, orientada contra o planeta, os povos e suas culturas. Na tentativa surreal duma uniformidade absurda, que permita o submetimento total dos povos, através dum longo processo de aculturação.

 

As gentes nobres e generosas, ao invés, realizam suas tarefas mediante a utilização das suas habilidades cognitivas, baixo o controlo firme da sua bem desenvolvida inteligência ética. São estes valores morais então que comandam sua atividade.

Este grupo de ativistas homens e mulheres, se tem tornado, sem lugar a dúvidas nos verdadeiros Novos Servidores do Mundo. Sua máxima radica no serviço a todos os seres vivos, que formam a imensa teia da vida. Enquanto a velha elite escura, baseia seu domínio, precisamente em servir-se , eles, de todos os seres vivos, a seu capricho (trazendo consigo destruição imensa, criada na dinâmica da pronta riqueza, que não tem em conta os ciclos precisos para regenerar da vida, nem para a afloração da exuberância planetária).

 

Estes Novos Servidores do Mundo, chegam livremente, desde todas as áreas sociais, trazem consigo todas as visões políticas, todas tendências intelectuais.

São em realidade a síntese do longo processo que tem percorrido toda a humanidade, no seu longo percurso, pelo ciclo férreo das guerras (com seu único lógico final: a fusão de todos os confrontos, a fusão das ideias em contraste, as fusão dos atores em anterior combate…)

Estes seres de alta consciência e elevados princípios não possuem nenhum tipo de credo, porque um credo delimita e exclui; senão que pela contra eles são muito abertos a inclusão, da diversidade de opinião. Premia em eles o altruísmo, ao invés do orgulho e ambição que domina a sociedade deformada, no imaginário coletivo da luta pela a ganancia material, o sustento e sobrevivência.

Mas também são pessoas saudáveis, que realizam vidas sãs, e não viciam sua mente, corpo ou espírito.

Mantendo, com grande trabalho e pessoal sacrifício e entrega, na medida do possível seu equilíbrio físico, psicológico e sua vontade de crescer e aceitar as provações da vida, como parte do dum grande aprendizado, destinado a fortalecer o homem – mulher no seu itinerário quotidiano.

 

Estes grupos, organizados ou espontâneos, estão trabalhando na pratica como verdadeiras pontes, que abrirão os corações humanos ao esforço da unidade. Superaram as barreiras criadas por agora (dentro deste mundo de ambição e luta) tanto pelas velhas consciências, como pelos organismos a elas associados, de carácter religioso, políticos, empresarial, cívico… Ultrapassando as velhas dinâmicas através do dialogo permanente (que ira substituir o modelo anterior do debate – que na pratica se transformou já numa batalha de egos, em muitos casos mesmo de muito baixo nível intelectual).

Por meio da pratica da convergência, do dialogo permanente, da procura do bem-estar comum, o objetivo da unificação dos povos, dentro do respeito a cada expressão singular, de devagarzinho será cumprido.  Pois este grupo de Novos Servidores do Mundo, irão retirando o medo primeiramente das pessoas mais achegadas, para mais tarde com suas praticas retirar o medo coletivo, permitindo ações reias de fraternidade, onde os justos, bons e generosos atingiram o nível evolutivo adequado, para os poucos, mudar a sociedade.

 

Na nossa pátria o movimento galeguista encontra-se desunido: partidos políticos, organizações sindicais, sociais, grupos de base. Embora a retórica dominante na esquerda galeguista seja o confronto com o injusto sistema, essa mesma esquerda também se encontra divida, em confronto e debate continuo, que fomenta todavia mais a divisão – dentro dos próprios coletivos e fora em disputa com outros coletivos; exteriorizando por um lado uma dialética de confronto e interiorizando um filosofia de medo ao pensamento dissidente, que inabilita todo processo real de mudança verdadeira. A incompreensão, por parte destes sectores, que as novas vanguardas alternativas (únicas capazes duma correta mudança, que tire a humanidade da longa noite de pedra – da que falara Celso Emílio Ferreiro) passa pela assunção da analogia que unifica os contrários, ao invés da luta (típica das praticas de guerra) contra aquilo que consideramos inimigo, e alimentamos com medo, ódio, ressentimento (e toda classe de sensações, emoções e pensamentos escuros); incapacita esse sector galeguista para evolução. Ficando assim preso das próprias dinâmicas destrutivas.

 

A direita galeguista ainda em construção adoece também dessas dinâmicas, que simplesmente mostram a própria insegurança em seu projeto.

 

A Era da Guerra chega a seu fim ou bem, a humanidade inteira perecerá numa catástrofe termonuclear. Assumir a unidade imanente na essência de todos os povos, de todas as visões, de todas as filosofias é a única forma de avançar em um dialogo permanente, em favor da convivência não egolátra, que permita mudar o velho paradigma de guerra destruição.

Paradigma antigo que agora chega ao final da encruzilhada: os seremos humanos podem optar – pela evolução consciente, não egoísta ou pela destruição assegurada inconsciente, conduzida pelos egos cegos. Não existe outro caminho: reconciliação e descobrimento de que o que consideramos inimigos, não é senão o lado virado do nosso espelho, que nos descobre aquele eu, que nós não chegamos a atingir, sem ver em contraste. Assim que ou rumamos a construção de pontos de encontro comum ou, pela contra morremos de grande ignorância, num mundo virado na cobiça, guerra permanente, imposição ou submissão…

 

Na Galiza a situação vira reflexo da situação global, no estado, na Europa e no mundo. Nada poderá ser feito sem unidade, dialogo permanente entre as partes – somente possível com um trabalho ético interior, difícil, duro, sacrificado que tenha por intuito minorar a personalidade bruta, ainda dominante no ser humano e afinar a personalidade elevada (com a que já trabalham os novos servidores do mundo). As pessoas mais belicosas, medrosas, iradas, devem ser afastadas dos movimentos sociais, políticos, culturais. Devem ser isoladas ao tempo que devem ser elevadas, dentro de cada organização, aquelas pessoas com capacidade de criar pontes com aqueles outros concebidos como diferentes. E isto não poderá ser feito sem uma mudança de psique coletiva que facilite maiorias conciliadoras.

 

Esta é a grande mudança a realizar em prol duma Galiza Ética, que na pratica, poda facilitar uma mudança, que nos ajude a caminhar em favor deste povo, seu imenso património histórico, cultural e natural; assim como sua conservação e preservação, em torno dum espaço real de justiça e equidade. Sem essa unidade tudo isto se converte num grande impossível.  Por enquanto a desesperança e negativa frustração seguirá a pairar na população e no movimento galeguista, desmotivando e desativando as sementes da mudança. E na realidade permitindo o governo e domínio sempre dos mais fortes (aos quais os povos debilitados se entregam, na esperança tímida duma efémera proteção, nos tempos de crise permanente, num território sem valores, cheio de falsas retóricas).

 

Dai, que por necessidade vital, devemos iniciar o caminho da reconciliação e do encontro.

Não será fácil, mas também não impossível. Já Plutarco afirmava: “A alma mais forte e mais bem constituída é aquela que os sucessos não orgulham e que não se abate com os revezes”