Um funeral galego

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Pedregal de Irímia, em Lugo.

Falava a semana passada do funeral dum velho amigo na Corunha, onde não se escutou nem uma palavra em galego, e concluía com que isto de trabalhar por uma Igreja galega semelha ser uma luta perdida.
Porém, na mesma semana participei no funeral por outra velha amiga, que foi o oposto ao anterior: tudo em galego. Foi o de Hermelinda Dapena em Placeres-Lourizán, entre Pontevedra e Vigo. O seu funeral foi na capela do Colégio do Sagrado Corazón, onde trabalhara de mestra e continuara colaborando após a jubilação; também na paróquia, onde foi muitos anos cura Xesús Acuña, galeguista e comprometido. As leituras da Palavra de Deus, as orações, as intervenções dos curas e de outras pessoas que participaram na celebração, os cantos… tudo foi em galego. “Como devia ser”, diria Herme; o lógico, na língua e na cultura do país. “O Nosso Pai” soava natural na boca da gente.
Herme e Acuña, ademais do trabalho na paróquia –onde ela, entre outras cousas, dirigia o coro paroquial–, participaram juntos na maior parte dos projetos duma Igreja que quis ser galega: Irimia –Associação e revista–, Encrucillada, Romagens de Crentes Galegos, etc.

Herme e Acuña, ademais do trabalho na paróquia –onde ela, entre outras cousas, dirigia o coro paroquial–, participaram juntos na maior parte dos projetos duma Igreja que quis ser galega: Irimia –Associação e revista–, Encrucillada, Romagens de Crentes Galegos, etc.

 

Ambos “renasceram galegos” no Pedregal de Irímia, na primeira Romagem; foram conscientes de que para viver em galego não avonda com nascer na Galiza, cumpre renascer galego; amar a Terra e a cultura do país, gozar e sofrer com ela e denunciar o que a abafa e esmaga. Quando entenderá isto esta Igreja desleixada e as suas congregações religiosas, com honrosas exceções e mais comprometidas outrora que agora?
Herme –como dixo o comum amigo Rubén Aramburu– “mantinha viva a mirada ilusionada, a capacidade de assombro ante todo o formoso e bonito”. Era uma mulher animosa, com o sorriso nos lábios, apesar dos paus que lhe deu a vida, pois quedara viúva mui cedo e recentemente sofrera o mais duro que pode padecer uma mãe: a perda dum filho. Ela e o seu homem educaram os filhos na língua e no amor pela cultura da sua Terra. Mulheres assim são as que precisa este país para não cair na desintegração a mãos da cultura uniformizadora que se vai impondo em todos os recantos.

[Este artigo foi publicado originariamente no Nós Diario]