Ultimamente, os meus artigos semelham ser necrológicas. Mas o caso é que nos últimos tempos forem finando pessoas de relevância na cultura galega, que deixarom uma obra que nos enriqueceu a todos. Os últimos, com poucos dias de diferencia no passado janeiro deste 2025, forom o amigo e poeta Bernardino Graña e o amigo e formador Dino Pacio.
De Bernardino já falarom abondo e bem diários, radio e televisão; por isso não preciso fazê-lo eu agora. De Dino Pacio não falarom; mas foi um professor, formador e ativista cultural, galego bom e generoso que fez um grande labor, ainda que maioritariamente fora do país, por isso é menos conhecido para muitos leitores.
Siro fez o expressivo desenho que encabeça este artigo para a portada do livro Dino Pacio Lindín. O guia dunha vangarda cultural; está a cavalo de um livro portando um farol, uma luz alumiando na escuridade da ignorância. “Foi un educador que, por alí onde pasou, deixou unha semente –escreveu Ramon Villares no livro-… Cria na máxima kantiana do sapere aude e no valor liberador da educación”; Villares remata dizendo: “Canto non leva perdido Galiza por non ter acomodo nela para persoas tal que aquel home sinxelo e culto, idealista e realista, galego e universal”.
Dino Pacio Lindin nasceu no 1934 em Ximil, paróquia de Bretonha, no concelho lucense de Pastoriza. Fez os seus primeiros estudos na escola de Cadavedo, perto de Ximil, da mão de um mestre republicano: “No deserto escolar –escreve Dino- eu tiven a sorte de facer tres anos da primaria nunha clase que se chamaba ‘A escola libre de Cadavedo’. Alí, naquela escoliña aprendín eu tanta xeografía facendo mapas mudos, que xamais me perdín polo mundo adiante; tamén era moi importante o estudo das cousas: se non aprendemos as cousas, pra que val o saber?” (“Pedagoxía do lugar”).
Logo estudou no Seminário de Santa Catarina de Mondonhedo, nas universidades de Comillas e Roma (filosofia e teologia), Madrid (sociologia) e Friburgo (línguas modernas), completando os seus estudos de sociologia em Harvard; doutorando-se em Madrid no 1969. Ordenou-se antes presbítero na igreja de Bretonha e nos anos 60 foi professor de Ética e Sociologia no seminário de Mondonhedo, trabalho que simultaneou com um labor social na paróquia de Galgao, de Abadin.
No 1970 foi-se a Nova York, onde desenvolveu o seu labor educativo até o seu passamento nas universidades de Fisher e Forham; e na formação de adultos, como sociólogo e docente inovador, com um ensino revolucionário e libertador para a integração dos mais desfavorecidos, os galegos e hispanos do baixo Manhattan. Este trabalho consolidou-se no projeto “Solidaridad Humana Incorporated”. Este vinha ser “respostar aos berros do povo que diz: queremos estudar e medrar”, com palavras de Dino. Conseguiu apoio estatal, edifícios e estruturas educativas estáveis; e mesmo chegou a receber em 1982 o Prémio Nacional de Universidades Comunais. Eu escrevera dessa experiência há quarenta anos na revista Irimia: “Solidaridad humana. Todos aprenden e todos ensinan” (4/12/1983). Um projeto de educação de adultos, que começava alfabetizando em inglês desde as suas línguas originais, para rematar alcançando um título técnico e mesmo universitário. E fixo-o a partir das cantigas de Bob Dylan –a quem admirava-, porque “os tempos estavam cambiando” e “a resposta estava no vento”.
Como autor publicou os livros: Juventud radical 1956-1968 (1978), Terra húmida (1979), Worker education in search of a theory (¿?), Biliterate Immigrants in a Community Setting (1991), Hispanos y españolusa (1992) e Ximil Comunal (2003).
Como justa homenagem publicou-se o livro citado, coordenado pelo professor Manuel Rivas e com colaborações de antigos alunos. Nele falam sobre todo da sua experiência de alunos privilegiados de Dino no Seminário: “Um professor bem querido pelos alunos, admirado pela sua sabedoria no conhecimento da Filosofia, a Teologia, a Sociologia, a Linguística… inovador e radical em todo”, diz um aluno.
Não conheci Dino nos seus anos de Mondonhedo, mas depois, nos veraos em que vinha ao seu Ximil natal e eu estava de cura em Lagoa; e logo seguimos a ver-nos quando eu estava em Xove e Ferrol. Em Lagoa tínhamos longas e ricas conversas ele, Carlos Reigosa, Primitivo Iglesias e mais eu na minha velha reitoral e caminhando pela montanha da Corda. Por aqueles anos escrevi para El Progreso o artigo “A Corda, ¿un Macondo galego?” (29/06/1988). Dino falava da Corda como “um lugar válido para berrar por uma história social de Galiza”.
[Este artigo foi publicado originariamente no Nós Diario]