Um gesto profético contra Altri

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“Por isto resseca o país e morre de sede todo o que vive nele, o mesmo os animais coma os pássaros do céu” (Os 4,1-3).

A oposição popular desde mui diversos setores da sociedade galega: trabalhadores da terra e do mar, ecologistas e pessoas sensíveis ao presente e porvir da sua Terra, lideres políticos, gente da cultura e da ciência contra a instalação da megacelulosa nefasta de Altri, está tão presente cada dia neste Diário, que podia escusar-me para que eu também participara nela, nesta página de Cultura no nosso país. Mesmo que eu esteja comprometido com essa causa pela minha condição de galego comprometido com o seu país, ecologista e mesmo cristão que busca cuidar a vida e a harmonia da Terra.

Mas na multitudinária manifa da Pobra o passado 22 de março, com perto das cinquenta mil pessoas e mais de cincocentos barcos, à que acudimos galegos e galegas de toda Galiza por terra e por mar berrando “Altri mata”, vi um gesto profético que me chamou particularmente a atenção pelo seu eco bíblico, uma imagem que não vi nos meios nem nas redes. Era algo que não adoita ocorrer e que me levou de contado a pensar na minha página do Diário.

Um homem enxoito, estinhado, fraco, vestido de negro de arriba abaixo, incluída a camiseta, o mantelo de trabalho, os pantalões e as botas de pesca, com uma longa e moura trenza na que o pelo ia atado a uma bolsa de lixo com produtos do mar mortos por meio de mexilhões entrelaçados com a própria cabeleira. Logo vi tambem uma mulher de jeito semelhante. Caminhavam de continuo arredor duma rotonda pela que passávamos a gente da manifa; gesto austero, impassível ante a choiva para a que o resto da gente abrigávamo-nos baixo os nossos paraugas, coas cabeças levemente inclinadas em gesto de penitente. Um manifesto sem palavras, mas tan forte coma estas, contra a morte que ameaça a nossa Terra.

Eu lembrava a velha e esquecida sabedoria bíblica. Como estas verbas do Deuteronómio que ponhem ao povo ante um dobre caminho: a vida ou a morte; viver em harmonia coa natureza ou em luta contra ela, prostrando-se ante o ídolo do dinheiro, o ídolo depredador que subordina toda à produtividade: “Mira que eu ponho hoje diante de ti a vida e a felicidade, a morte e a desgraça. Se segues os caminhos do Senhor da vida viverás e serás fecundo. Pero se te prostras ante os ídolos de morte e lhes das culto, pereceredes sem remédio… Ponho diante de ti a vida e a morte, escolhe a vida e viveredes” (Dt 30,15-20).

Mas são os profetas os que mais repetem unha e outra vez que Mammon, o ídolo do dinheiro, voraz e insaciável, que acaba coa vida dos pobres e com toda a vida. Como as verbas do profeta Oseas que liamos ao começo; um impressionante alegato contra “os que mandam no país” e oprimem aos febles, à gente e a terra; a raiz da morte que afoga o país é a maldade de coração dos poderosos, o perjúrio, o roubo, o assassinato… “Não há fidelidade, nem amor no país… Por isto resseca e morre de sede todo o que vive nele, o mesmo os animais cós pássaros do céu” (Os 4,1-3).

Ou as de um dos maiores profetas bíblicos, Jeremias. A sua sensibilidade social manifesta-se neste texto contra a idolatria e a injustiça social que convertem a terra fértil em deserto e ermo; o profeta clama contra os saqueadores que arrasam e destruem a terra, coa conivência dos lideres religiosos: “Muitos pastores arruinarem a mina vinha… converterem a parte dos meus amores num ermo estragado… Todo o país está estragado” (Je 12,10-11).

Uma característica dos profetas de Israel é manifestarem a sua mensagem não só com palavras, mas com gestos proféticos; ações simbólicas coas que se transmitiam uma mensagem. Ezequiel foi conhecido más que os outros profetas pelo uso de gestos proféticos; numa ocasião deitou-se sobre o seu costado por muitos dias para indicar um ano por cada dia de iniquidade do povo e comeu raciões escassas (Ez 4, 4-17), cortou-se o cabelo (Ez 4,9-17), etc. Isaías andivo espido e descalço três anos como símbolo da humilhação que padeceria o seu povo (Isa. 20,3). Jeremias levou um xugo de madeira arrededor do pescozo como símbolo do domínio futuro que Babilonia exerceria sobre Judá e os seus vecinhos (Jer 27, 1-7). E Jesus fiz o conhecido gesto profético da expulsão dos mercadores do tempo com um vergalho, uma ação chamativa e simbólica contra a comercialização do sagrado.

Coma ações destes profetas de ontem e hoje, todo o que ajuda de palavra ou gesto simbólico contra a degradação da vida na nossa Terra que seja bem-vindo.

Máis de Victorino Pérez Prieto