Quico Dominguez e SEPT

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Com Quico Dominguez, que fez o passo cara ao além nos últimos dias do 2024, vai-se-nos outro bom e generoso galeguista e cristão. Pertenceu aos melhores tempos duma primavera da Igreja Galega que se frustrou antes de chegar a um verão luminoso e pleno. Com ração diz Victor Freixanes: “Perdemos uma grande pessoa e um galego de lei”.

Eu escrevi no meu ensaio Galegos e cristiáns (Vigo 1994) que era “um homem que cumpre lembrar especialmente entre a militância dos laicos cristãs e galeguistas”; em todo o referente à Igreja Galega-galeguista, mas sobre tudo pelo seu papel na editorial SEPT. Dediquei-lhe um apartado no longo capítulo “Leigos na cultura e no nacionalismo de direitas e de esquerdas”, dentro do que chamei “SEPT, a militância da velha guarda”; ali estava junto a reconhecidos vultos da cultura galega que logo nomearei.

Quico Dominguez (Ribeira 1944-Vigo 2024) nasceu numa família galegofalante pouco religiosa. O seu pai foi um dos mestres depurados trás da Guerra Civil como consequência da sua atividade política. Isto fixo-o muito sensível ante a injustiça, ao tempo que, a pesar disso, ia medrando numa fé cristã madura e socialmente comprometida. Fiz o Bacharelato em Ribeira, Perito Industrial em Vigo e em 1965 foi fazer os estudos de Engenheiro Industrial a Bilbao, onde colaborou ativamente com o galeguismo no Centro Galego de Baracaldo e na Casa de Galicia de Bilbao. Volveu a Vigo no ano 1970; ali trabalhou na empresa privada e posteriormente incorporou-se à Universidade de Vigo, da que era doutor.

Desde a sua mocidade estivo metido em movimentos cristãos comprometidos na ação sindical e política; de estudante integra-se na XEC (Xuventude Estudante Cristã), chegando a ser presidente diocesano. Pelo ano 1964 conhece a Xaime Isla, catedrático na Escola de Peritos de Vigo, que o invita a entrar na corrente do galeguismo cristão: “Aquele compromisso galeguista e cristão a um tempo era o que eu estivera sempre buscando”. Tive também o influxo de Domingo Fernández del Riego e o P. Seixas, colaborando com ele na fundação da Comunidade de Vida Cristã de Vigo. Desde 1971 vai-se incorporando ao trabalho de SEPT (Sociedade de Estudos, Publicacións e Traballos), colaborando em livros e outras publicações como a folha dominical Badal, material para as cerebrações em galego nas paróquias, ativa desde finais dos 80 aos primeiros anos do 2000.

No aspeto cultural, participou na fundação da Escola de Formación Social de Vigo. Pertenceu ao conselho de administração da Editorial Galaxia e a Fundación Penzol, da que foi diretor entre 2010 e 2021 substituindo a Francisco Fernández del Riego.

No eido político, participou em 1974 na fundação do Partido Galego Social Demócrata (PGSD) e foi secretário de organização. Logo ocupou o mesmo posto no refundado Partido Galeguista (1978-1982), indo nas listas de Unidade Galega.

A editorial SEPT

Falar de Quico Dominguez é falar sobre tudo da editorial SEPT. No equipo fundador formavam parte, entre outros: Xaime Isla, Domingo Fdez. del Riego, Manuel Beiras, Xosé L. Fontenla, M. Vidán Torreira, Carlos Baliñas, Xosé Manteiga ou Camilo Nogueira. No ano 1965 ideiam a criação duma editorial para “sensibilizar os membros da Igreja galega sobre a problemática e as reivindicações concretas da nossa terra em todos os sentidos: cultural, social, religioso, económico, político”. O 24 de julho apresentam ao Cardeal Quiroga Palacios o programa fundacional, e no 15 de dezembro de 1966 assinam ante notário a sua fundação. Foi elegido presidente Xaime Isla, ao que sucedeu Domingo Fdez. del Riego. Quico entra em SEPT no 1971; no 1972 Zulueta é elegido presidente e Quico diretor-gerente, sucedendo logo a Zulueta. O atual diretor é Silvestre Gómez Xurxo.

SEPT publicou arredor de um cento de obras nas suas coleções “As edicions do Adro” (Oracional galego, Historia da Igrexa galega, etc.), “Cadernos populares” (Pensamento Galego I, Lembrando a Castelao, etc.), “O home e a sociedade” (A planificación rexional de Galicia, Os labregos na prensa galega, etc.), “Testemuños” (Conversas do P. Seixas, Conversas de Torrente Ballester), e “Xeira nova” (Teoloxía e sociedade, Recupera-la Salvación, Galegos e cristiáns, etc.). Más, sem dúvida, A Biblia galega, publicada em 1989, pode considerar-se “a obra mais importante realizada pela editorial”, com verbas do mesmo Quico. Há agora um ano, ainda puido participar em atos de apresentação da nova edição, a quarta (2022) com o seu inseparável Silvestre.

[Este artigo foi publicado originariamente no Nós Diario]