Xosé Vizoso e a Romaxe de Crentes Galegos

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Ainda um terceiro artigo meu que tem um ar de necrológica coma os anteriores, nestes meses en que se nos foram grandes galegos. Nesta ocasião toca-lhe ao grande artista Xosé Vizoso (1950- 2025).

Com menos de vinte anos recebeu o Premio Nacional de Escultura (1968). A pesares de serem tão novo, não resulta muito estranho porque a sua arte vinha de velho. Ele mesmo tem confessado: “Desde cativo deixei-me encantar polos tipos mágicos e algo chalados que dá a minha terra, aos que gostava de retratar em desenhos como Cunqueiro fizera com a sua literatura”. E numa entrevista de Irimia no 2019: “Eu nasci com esta inquietude: sempre a fazer garabatos, sempre a desenhar, em todas partes… Penso que é algo innato en mim, que non sei de quem o herdei”.

A sua obra desenvolveu-se sobre todo nas quatro décadas nas que trabalhou com Díaz Pardo e Xosé Diaz, o filho de Isaac, como desenhador para as cerâmicas de Sargadelos. A relação com Sargadelos iniciara-se a finais dos 60, quando Vizoso dera com o anuncio duma oferta de trabalho publicado em El Progreso; desde então trabalhou para a cerâmica, sendo a mão direita de Isaac Díaz Pardo e fazendo uma obra mui creativa e prolífica, com desenhos, cerâmicas, ilustrações e cartazes. “Ele foi o meu mestre, e não me separei dele em toda a vida. Comigo tinha uma confianza plena… Foi uma relação muito estreita”, confesa na entrevista de Irimia. O seu estilo é inconfundível, ligado ao rural galego, a sua cultura e as suas tradições: “Estou empapado de experiências galegas, de gente do campo”, confesa ali também.

“Quem más e quem menos tem a Xosé Vizosono no seu dia a dia – diziam com ocasião da exposição para o Dia da Ilustração 2025 Xosé Vizoso. O neno que desenhou um cavalo”-. Talvez numa louça de Sargadelos, no cartaz das festas da vila ou em algum mural da rua”. Sem esquecer a rapariga do surtidor de cerveja a pressão que se vê em tantos bares.

Mas a gente de Irimia temos nas nossas casas muito mais de Vizoso: as maravilhosas cerâmicas dos medalhões das Romaxes de Crentes Galegos. Uma criação artística feita em exclusiva para cada uma delas, que não se vendia em lojas. A maioria deles foram desenhada por Vizoso desde há mais de quarenta anos.

Foi Pepe Chao o primeiro que contactou com ele, pela sua relação com Diaz Pardo, ao querer ter um medalhão comemorativo de Sargadelos para cada Romaxe. O da primeira (1978) foi um desenho genial de Seoane, o grande artista amigo e intimo colaborador de Isaac, que possivelmente se encarregou também do da III Romaxe. Mas o da segunda (1979) e a maioria dos que vinherom logo foram coisa de Vizoso, até somar mais de trinta.

Medalhão da 7ª Romaxe

Ele mesmo conta na entrevista de Irimia como foi a sua criação: “Na Romaxe de ‘Batidos polo mar’ [a II], pensava nos peixes e como os pôr duma maneira e doutra. Na do papo-ruivo [a VII] contou-me a história Pepe Chao, tomei-o como referência e meti-o aqui. Na do Arnoia [a XXIV] fiz coma uma lâmia que habita nos rios. Seria interessante ver todos os bosquejos de cada um. Dou-lhe muitas voltas… A cor é fundamental e também a brancura da peça”.

O medalhão do papo-ruivo, com a legenda “Prender lume novo”, resultou particularmente dificultoso pela cor rosa, que nunca se voltou utilizar por resultar custoso consegui-la no forno; houve bastante debate sobre o desenho com amigos de Irimia coma Lois Ferradás. São três papo-ruivos unidos, do mesmo jeito que na II eram três peixes, na IV (“Chamados na lagoa”) eram três folhas de castinheiro, na VI (“O Minho não se-para”) três rios, e na VIII (“Filho e senhor da terra”) três sachos. Semelha que o simbólico e riquíssimo número três, de grande tradição em diversas culturas, fora muito caro para Xosé Vizoso.

Tenho na casa de alguns dos primeiros desenhos seus, que me deu Pepe Chao quando figem o meu livro sobre as vinte e cinco primeiras Romaxes: A Romaxe de Crentes Galegos. De Irimia a Santa Margarida (1978-1997).

Foi, certamente, uma acerto e uma honra ter-lhe encargado estas valiosas e exclusivas peças a um artista tão galego e tão grande como Xosé Vizoso. Eram os tempos gloriosos do Sargadelos de Diaz Castro, que, desafortunadamente já forom idos. Resulta vergonhoso que a cerâmica de tan honroso nome, e que lhe deve grande parte das suas peças mais valiosas a Vizoso, não falara dele no seu passamento, pelo menos vários dias depois deste.

Medalhão da 2ª Romaxe

Máis de Victorino Pérez Prieto