Ubuntu

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Com o ano que vem de começar aprendi uma nova palavra que pode que conheçam já alguns dos leitores, mas para outros será-lhes tão desconhecida como o era para mim até há pouco: ubuntu. Sempre me resulta sumamente grato aprender novos vocábulos e o que expressam, pois enriquecem a minha capacidade de conhecer e dizer o que vou conhecendo.

Ubuntu é uma palavra de origem sudafricana, da língua zulu. Um conceito tradicional que tem que ver com empatia e humildade, o bem comum e as relações pacíficas com os outros. Nelson Mandela gostava muito dela e falou do que ela expressa em diversas ocasiões. Ubuntu é um dos princípios fundamentais da nova República de Sudáfrica iniciada com ele, após o regime de apartheid, no qual passou 27 anos no cárcere, mas ao sair perdoou a quem o meteu nele. Foi a base da Comissão pela Verdade e a Reconciliação que presidiu o arcebispo Desmond Tutu.

O seu rico significado pode expressar-se assim: eu sou porque nós somos; eu sou o que sou em função do que todos/as somos; uma pessoa é pessoa em razão das outras pessoas, a través doutras pessoas… Uma pessoa com ubuntu está sempre aberta e disponível para os e as demais, apoia sempre as demais, não se sente ameaçada quando outras pessoas são muito capazes de fazer algo, porque sabe que pertence a uma grande totalidade, mas decresce quando as pessoas são humilhadas ou menosprezadas, e muito mais se são torturadas e oprimidas.

O seu rico significado pode expressar-se assim: eu sou porque nós somos; eu sou o que sou em função do que todos/as somos; uma pessoa é pessoa em razão das outras pessoas, a través doutras pessoas…

Porém, ainda que a palavra me era nova, o conceito não. Levo repetindo desde há muitos anos que, face à infeliz e falsa expressão norte-americana do self made man (“o home que se fiz a si mesmo”), eu não sou nem me “fago só”, mas necessariamente com os outros; os outros são parte de mim; nós somos com os outros; eu/nós não sou/somos sem eles; estamos em relação, por isso somos dependentes –não submissos-  desde que nascemos até que morremos.

De Raimon Panikkar aprendi uma história hindu que expressa isto muito bem. Um missionário queria motivar a um grupo de crianças, põe-se num extremo com uma bolsa de caramelos e diz-lhes: “O primeiro que chegue correndo junto a mim leva a bolsa”. Mas os cativos… colhem-se das mãos e correm juntos até ele. Logo soube que em África tenham outras semelhantes.

[Este artigo foi publicado originariamente no Nós Diario]

Máis de Victorino Pérez Prieto