Por Arturo de Nieves
A história distante e recente do nosso país, assim como a realidade atual do mesmo, é tão triste e desesperante que o humor passou a fazer parte, quase invariavelmente, do código genético das pessoas que, por sorte ou por titânico esforço diário, logram fugir, sequer ocasionalmente, da tão peçonhenta como confortável aranheira opiácea em que o poder multiforme do que surge o nosso lamentável status quo, amável e constantemente nos incita a repousar.
O mecanismo que inter-relaciona humor e sociedade é conhecido e é, como quase tudo quanto é na nossa sociedade, velho. Muito velho. Tão velho como o facto de os povos oprimidos tenderem à opacidade da rebeldia. Capoeira no Brasil, retranca na Galiza. Ambos fenómenos exemplificadores da mais pura e simples autodefesa. Contra o dano físico uma, contra o dano mental a outra.
O humor contra a dor. Nada novo, bem se vê. Como não é nova a aranheira a que aludia acima. Mito da caverna em Platão, Matrix no que uns dizem ultra, outros hiper, outros pós e, todos, sempre acabam em modernidade; ou o caralho 29, digo eu. Como se por empregarmos um ou um outro conceito provocássemos a mudança social correlativa. Conceitos mágicos capazes de ajeitarem a realidade ao seu significado, interessante ideia. Interessante ideia que devem partilhar aqueles que falam de bilinguismo harmónico ou cordial… ou restitutivo ou… sei lá…
E é que parece que neste país acabaremos por presenciar a vingança de Aquiles quem, reconstruindo-se a partir das suas cinzas, estilo Terminator, retornará para nos dizer que a fama há que trabalhá-la, i tant! –expressão que engadiria de se produzir o seu retorno vingativo na Catalunha e não na Galiza, ainda que daquela provavelmente não haveria vingança… assim que melhor o deixaremos num engraçado abofé; engraçado por contar com essa comicidade típica das dobragens da galega que tanto riso produzem, como nos explica o Facebook–.
Mas, enfim, o que eu queria dizer é que por muitos risos e por muita retranca e, inclusive, por muita capoeira que demonstrem aqueles mosquitos rebeldes a fugirem ocasionalmente da aranheira-caverna-matrix devandita, temo que não vá haver humor nem visita do Papa capaz de aliviar o abatimento provocado polo atual estado de destruição deliberada em que se acha a Galiza.
E agora falemos de políticas de I+D, de novos movimentos na crise sociolinguística, da vigência incrível do Manoel António mais lúcido e combativo, da crise sistémica, da crise das universidades ou da crise de legitimidade que afeta a nossa democracia. Falemos tod@s, que a mim sozinho se me faz realmente trágico e, portanto, doloroso.