Por Arturo de Nieves
Ver as cousas em preto e branco é sintoma de intransigência no pessoal e de autoritarismo no político. Quem assim olhe a realidade teve, prévia e necessariamente, que apagar uns matizes ao tempo que deixava outros incólumes. Quais se apagam e quais ficam incólumes para obtermos uma tão cómoda como inútil simplificação da realidade é algo que, sem dúvida, varia em cada caso de pessoa a pessoa e de coletivo a coletivo.
Na realidade triste do nosso país, o diálogo entre diferentes visões da língua simplesmente não existe. Ou existe a médias pois, na verdade, se debate muito sobre a língua, ainda que quase nunca implicando todas as posturas, o que a priori é raro. Explico-me. Como a Galiza é um país pertencente à Europa Ocidental do s. XXI e não a qualquer outro tempo ou lugar, o debate sobre a realidade da língua é isso: linguístico; quer dizer, um debate que se produz dentro dos parâmetros do que é uma Língua, construção moderna, e não do que são, exempli gratia, falas medievais.
Dizer o contrário é populismo ou ignorância. Assim, podemos dizer que aquelas pessoas a concordarem em que na Galiza o que há é uma Língua, e não só um conjunto de falas, estarão também de acordo noutras cousas, porque as cousas em sociedade nunca vêm sozinhas, mas ficam ligadas umas às outras. E o que anda a ligar estas e outras cousas é uma ideologia que se chama galeguismo. Assim, duma óptica galeguista, o que haverá serão estratégias de construção de Língua.
Mas acontece que, após um processo que dura dezenas de anos, comprovamos como aparecem ante nós duas ou mais estratégias diferentes de construção de Língua dentro do projeto galeguista. Até aqui tudo bem, pois a Galiza mesma está em construção (bom, ultimamente em destruição, mas esse é outro tema). Assim, em boa lógica, o que segue a esta situação em que contamos com várias estratégias de construção de Língua dentro do galeguismo, seria que estas estratégias –as pessoas que as defendem– debatessem entre si (com informação, transparência e todas essas cousas que sabemos necessárias para o desenvolvimento dum debate honesto), mas o que se observa é que este debate não se produz.
E como, ainda sendo o lógico que se produzisse, o debate não se produz, entra em jogo aquela velhíssima droga que desde sempre se leva empregando para ver as cousas em preto e branco: a droga dos dogmas, a alimentarem-se de estereótipos. O caso está em que como as drogas acabam por serem prejudiciais para o organismo que as consome com a frequência indevida, aquelas pessoas que querem o melhor para o indivíduo ou coletivo adicto desaconselham o seu uso. E isso mesmo, exigir o seu abandono, foi o que fez o grande poeta Curros Henriques, há uns quantos anos. Com estas palavras, que eu lhe tomo emprestadas, decidia terminar o poema que dá título a este artigo. Eu remato desejando que o 2011 seja testemunha do retorno à união e cooperação entre quem nos honramos em nos chamar galeguistas.
Galegos que me escoitades,
galegos que a verme vides
hoxe de eiquí non saídes
sin face-las amistades!
Das nosas debilidades
o diaño non se ha de rir.
Vámonos todos unir,
matando rencores cegos;
que na unión dos bos galegos
está da patria o porvir!