O Nós contra o Mercado

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Por Arturo de Nieves

Nestes dias circula pola Rede e pola sociedade galega em conjunto o formoso Manifesto Língua Solidária e lembra-me o Bourdieu e lembra-me o Habermas. O primeiro escrevia, na década de 90, uma série de textos sob o nome Contre-Feux, a denunciarem a barbárie neo-liberal, ultra-liberal já daquela, e que hoje tornou as democracias em ditaduras eufemísticamente chamadas “tecnocracias” e os cidadãos em súbditos do dono do mundo, que é o mercado, que é o dinheiro, que é o Capital. O dono do mundo e o dono dos parlamentos e dos governos.

Lembra-me também o conjunto de textos editados por Laiovento há já anos, sob o nome ATTAC: Contra a ditadura dos mercados, onde inteletuais comprometidos do ATTAC denunciavam o que só podia acabar como acabou. Com efeito, a lei do mercado é sempre barbárie, a lei do mais forte ou… nem sequer. A lei do mais trampulhão, de quem controla o mercado por ter dinheiro e, como tem dinheiro, controla o mercado. E penso que é velho este artigo, tão velho que podia estar escrito em 1931 ou 32, um ano antes de que acontecera o que aconteceu… e hoje vemos como na França, que há poucos anos teve capital em Vichy, dá um 17,9% de apoio eleitoral a quem lho dá.

Ninguém se estranhe, é a lógica das cousas: a barbárie, que nos torna bárbaros. A barbárie e a violência exercida contra os corpos e as almas, que nos torna imbecis e duros e escuros. Que nos torna bárbaros, gente que fala como os cães, que daí vem a palavra. Por isso o Manifesto Língua Solidária é maravilhoso, porque é um chamamento a falarmos como seres humanos solidários, que procuram o entendimento e a melhora conjunta de todos e de todas….

E sim, por aqui chega o velho Habermas, que disto sabe um mundo e há bem tempo que no-lo contou. Porque sabe que aí está o único futuro possível. Sabe que o todos contra todos é uma derrota conjunta da humanidade como tal e sabe que a esperança está na língua, na comunicação, na capacidade do entendimento, da compreensão solidária e mútua. E isso é o que nos está a dizer o formoso Manifesto Língua Solidária. Somos Nós, em comum, quem temos a palavra civilizada, enquanto eles, fala-baratos de cento e uma línguas, cada um a sua segundo lhe convenha, a ladrarem… Bárbaros que são.

 

Manifesto Língua Solidária

Contra o declínio das vozes
língua solidária.

Contra o final dos tempos
língua solidária.

Contra a barbárie do ouro
língua solidária.

Contra o esquecimento de nós
língua solidária.

Contra os impérios
língua solidária.

Contra o privilégio
língua solidária.

Contra a ignorância
língua solidária.

Contra a loucura da morte
língua solidária.

Contra a cegueira, o poder
língua solidária.

Contra a mentira, a baixeza
língua solidária.

Língua solidária contra o roubo.
Língua solidária contra o assédio.
Língua solidária contra as armas.

Contra o silêncio, língua solidária.

Língua solidária de nós, língua solidária.

Galiza, maio de 2012

http://mundogaliza.com/manifesto-lingua-solidaria/
http://www.facebook.com/groups/101445423326539/

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