Por Arturo de Nieves
Informação necessária para conformar a visão sobre a realidade social da cidadania livre nas democracias liberais. Isso, mais ou menos cinicamente, achava eu que devia ser a prensa diária; a dureza dos factos, porém, teima em demonstrar que não, que não e assim. A prensa de hoje fica induvitavelmente mais perto do realismo mágico; na Galiza, por exemplo, desapareceu inteirinha -a prensa, que a nação já vai que não dá sinais de vida para além dos movimentos caóticos duma pita degolada-. Puff! Como se viera o David Copperfield em vingança por não lhe deixarmos fazer desaparecer a catedral de Santiago. Vem o tipo e… enfim, lá foi o códice do Calisto também –‘já postos’, deveu pensar-.
Hoje a prensa faz justiça ao que algum pobre homem chamaria ‘mudança de paradigma’ na prensa ocidental: do jornalismo seica objetivo ao realismo mágico estilo Trainspotting. Dous anúncios, mesma página, mesmo jornal distribuído colonialmente na Galiza; vejamos o primeiro, uma advertência do Ministerio de Fomento -sim, o mesminho que logra o nosso sorriso complacente ao tempo que destrói literalmente, fisicamente, o nosso país para pôr um transporte para ricos e contra os pobres (e contra o sentidinho mais básico)-. Mais uma amostra de ilusionismo, portanto-:
“A partir de las nueve horas y un minuto del día 11 de agosto de 2011 deberán considerarse em tensión los conductores pertenecientes a la línea de contacto para tracción eléctrica del Acceso Ferroviario a la Nueva Estación de Viajeros en Vigo-Guixar.
Cualquier contacto de las personas con los citados conductores mediante hierros, alambres u otras piezas metálicas puede provocar la muerte por electrocución.”
Pouco mais abaixo, o lema corporativo do dito Ministerio:
“Acercamos personas”
Pois vaia, esperemos que não, polo menos desta volta. Mas, enfim, acima do anúncio da aparição de super-homens elétricos, aparecia outra notícia, cujo cabeçalho era ainda mais surreal:
“No tengo nada en contra de Galicia”
Falava a concelheira de cultura da cidade galega da Crunha, disque para acalmar umas declarações prévias onde expressava o seu convencimento de que a anterior programação das festas locais fora um fracasso, já que era “demasiado gallega”. Normal, já sabemos até onde chega a profundidade do ódio que despertam nos turistas as cousas que resultam demasiado dum determinado lugar. Milhões de turistas tiram fotos com as cabinas vermelhas de Londres para manifestarem a sua indignação nas redes sociais empregando cosmopolitas smartphones; logo ainda levam cuncas com autocarros de dous andares estampados, para amostrar o terror que lhes provoca o anglocentrismo desmedido presente nos souvenirs turísticos londinenses.
Vaia, mais um exemplo de realismo mágico, que desperta também outras perguntas. Que visão da Galiza -lugar de residência da concelheira, suponho- terá esta mulher para dizer que as atividades desenvolvidas por um governo municipal fracassaram por serem “demasiado gallegas”? Quando algo que faz alguém é demasiado de si mesmo? Enfim, deveu ser após ter conhecimento dos artistas que o Concelho da Crunha levou às festas de verão de 2009: Raphael, La Unión, Hombres G e El Consorcio.
Dias estranhos, abofé. Homens elétricos, países invisíveis que cansam de si mesmos… Aguardemos a ver como acaba o espetáculo, ao melhor temos sorte e desaparece o governo todo. E o que fica de prensa (?) com ele, que já sabemos que a única verdade que conta é a data em que se imprime, como dizia o outro.