O galego prói

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call-centerUma comercial chama ao telefone à nossa casa: “Le llamamos de una empresa energética totalmente gallega para…”. A minha mulher contesta de seguida: “Uma empresa galega que me fala espanhol?”. A que chama no nome da empresa “gallega” responde-lhe: “Es que no todos los gallegos hablan gallego ni tienen por qué hacerlo”. E a minha dona responde-lhe de novo: “Pero todos tenhem a obriga de conhecê-lo e, no seu caso, de fala-lo”. A reação imediata da pessoa que chamou foi desligar o telefone. Uma cousa insólita tratando-se dum comercial que faz uma chamada; como é sabido, “o cliente sempre tem ração”. Ante tão insólita reação, nosso comentário também foi imediata: O galego prói.

Um caso semelhante vivemo-lo a diário na caixa do supermercado. Escuitamos muitas vezes à caixeira: “Guardando el orden de la coliña, vayan pasando por la cagiña”. É inútil dizer-lhe, ainda amavelmente, que “cagiña” em galego é um adjetivo desprezativo; que a palavra correta é caixa ou, em todo caso, caixinha. Mais duma ainda responde: “Es que yo, aunque soy gallega, no hablo gallego y no tengo porqué”.

Pese a tantos anos de esforço social, educativo e político por normalizar o uso do galego em todos os âmbitos sociais, comerciais, docentes, culturais… Pese a tanta militância generosa de tantos homens e mulheres a prol do galego, falar esta língua ainda prói. E ainda um pode pensar, que penoso resulta ter quem militar em defensa duma língua que é a tradicional dum povo! O galego segue a ser um encórdio para muitos galegos; mais por uma postura em contra que por um desconhecimento deste, pois leva muitos anos inserida no sistema educativo. “Povo galego resignado e suicida”, que dizia Manuel María.

Por que falar galego, língua da gente “de aldea” ou dos “galleguistas”, quando “todos nos entendemos en español”? A resposta segue a ser doada e coerente, a pesar de chocar neste mundo incoerente e decadente: Em Galiza em galego, pois esta é a sua língua própria, a língua do povo/nação galego.

[Este artigo foi publicado originariamente no Nós Diario]

Máis de Victorino Pérez Prieto