Nós, em flagrante delito

Partilhar

Umha dessas cousas boas deste país: na explanada dum café leio de graça o jornal mais lido na Galiza, um jornal que nem sempre lhe dá voz.

Dispunha de tempo e mergulhei nas páginas do seu suplemento de lezer e cultura. Na capa, a mítica fotografia ilustrativa do Fernando Pessoa “em flagrante delito”, ou seja, a beber. O título, em espanhol: “Pessoa, poeta inagotable”. Ora, nom é a poesia um género que me interesse especialmente e com Pessoa acontece-me como coas milfolhas ou co toucinho do céu: gosto, mas à segunda mordedela ou culherada fico farto.

Porém, foi o cabeçalho o que me chamou poderosamente a atençom: “La publicación de un volumen de cuentos inéditos en castellano y nuevas ediciones de títulos esenciales reavivan la obra del escritor português”, o que me impulsou a ler o artigo e a escrever estas linhas.

Tenho o máximo respeito polo trabalho dos outros, só que no artigo nom se fai qualquer reflexom sobre a oportunidade dos leitores galegos desfrutarem da obra de qualquer escritor lusófono sem mediaçom, quer dizer, a inutilidade dum leitor galego aguardar pola traduçom da obra de Fernando Pessoa, de exceptuarmos a obra do autor em inglês. E isso é o mais ilustrativo do transfundo do artigo e de como funciona o sistema cultural galego: sem autonomia, mesmo no espaço linguístico que lhe é próprio.

Nom precisamos dos Cuentos, do Libro del Desasosiego, das Ficciones del Interludio ou de Poesía, obras respeitáveis dos tradutores para outros espaços culturais.

Por isso, nós, em flagrante delito, como o poeta, ficamos mal na fotografia, a anunciar a nossa própria cirrose.

Máis de X. do Galheiro