Foi na Praia *de Hio

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o-hio

Nestes dias confrontamo-nos coa lei da oferta e da procura como princípio que movimenta negócio, crescimento económico, filmes, lendas e infernos particulares e tem-se falado muito sobre um submarino ou submergível ou batiscafo que vinha carregado de farinha, de neve, de cocaína.

Ora, o interesse deste artigo, nom está em contrastar a promoçom de drogas legais (eu próprio passei muitos dos meus dias a podar, atar, sulfatar, esfolhacar, vindimar, machicar, fermentar, encabeçar, trasfegar, engarrafar, beber e outras muitas açons à volta do vinho) com outras ilegais.

Tampouco a fazer umha análise marítima como a que figérom os meus vizinhos marujos: navegabilidade dumha embarcaçom submarina de fibra, um tubo de escape diesel, a possibilidade de que vinhesse noutro navio nodriça e apenas fosse utilizado para o desembarco, ou acompanhado por um barco que lhe desse apoio.

Nem lançarei nengumha hipótese sobre grupos de apoio em terra, e se aquele fijo umha casa de pedra, ou comprou um carro topo de gama, e que já se via (mirava por essas terras) vir, e que era de esperar, e que che anda muita gente na droga, e que se isto e que se aquilo, e já se sabe que a polícia nom é parva, e algum bufo deveu-che haver, e onde apanham três toneladas entram trinta.

Contodo, sempre ficamos à espera de que alguém apanhe os fios e as suspeitas e faga um bo filme, romance ou nos venha medrar o conto. Porém, o que a mim me chocou e dalgumha maneira me confirmou é o processo de espanholizaçom da nossa toponímia, no que di respeito ao o uso ou ausência de artigo no topónimo.

Foi na praia *de Hio, *em Hio, Hio, diziam as crónicas sobre a notícia e, de súpeto, deixou de fazer sentido aquela piada comparativa que tinhamos os da zona sobre a freguesia canguesa: O Hio e Ohio, nos Estados Unidos.

O emprego de artigo cos topónimos galegos e no espaço lusófono implica um procedimento explicativo bastante complexo e muito ligado ao uso, de feito, documentamos diferenças nos mesmos topónimos: Trabalho no Pombal (Galiza) vs. Trabalho em Pombal (Portugal), Vivo no Barreiro (Vigo, Portugal) vs. Vivo em Barreiro (Lugo); Gosto da praia do Moledo (Caminha) vs. Moledo nom tem praia (Vigo); Estou na Ribeira (Porto, Redondela) vs. Estou em Ribeira (Barbança), etc.

Esta, o da perda do artigo no caso galego, é mais um fenómeno ligado ao devalar de falantes e usos orais e escritos da nossa língua, mesmo coa obrigatoriedade de assinalar o artigo como forma do topónimo oficial, e sei que aqui vou contra o indicado polas recomendaçons da escrita reintegracionista, porém, penso que foi um acerto e que evitou que muitos mais artigos se perdessem no nomenclador galego, até ao ponto que nestes anos reparei que só se conseguiu recuperar o artigo para o topónimo do Porrinho face a muitos outros que fôrom desaparecendo: Barreiro, Covelo, Fontinhas; espanholizando-se, A Ponte, *O Ponte; ou hipercorrigindo-se, como é o caso de *A Redondela.

Ora, para finalizar, e sem tirar importância à intrépida aventura do tráfico, vou apresentar um pequeno exercício toponímico:

Concelho do Covelo vs. Concelho de Covelo?

Praia da Tuia vs. Praia de Tuia?

Caminho de Nerga vs. Caminho da Nerga?

Praia de Cesantes vs. Praia do Cesantes?

Estrada de Nespereira vs. Estrada da Nespereira?

No monte do Saramagoso vs. No monte de Saramagoso?

Estivem em Vilar (Redondela) vs. Estivem no Vilar (Redondela)?

Passei pola Arrufana (Mós) vs. Passei por Arrufana (Mós)?

Tomei um café na Bouça (Vigo) vs. Tomei um café em Bouça (Vigo)?

Gosto das festas de Bouças (Vigo) vs. Gosto das festas das Bouças (Vigo)?

 

(Por preguiça, os topónimos corretos estám na primeira coluna).

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