Antes de 1976 Francisco Rodrigues escreveu com ORTOGRAFIA espanhola que «galego e português são a mesma língua desde uma perspetiva linguística. Embora desde uma perspetiva sociológica e política é um consolo pouco convincente que o sejam. Escrevermos em português como propunha Manuel Rodrigues Lapa [e Ernesto Guerra Da Cal] nem soluciona os nossos problemas nem nos consola. É uma falsa alternativa, uma solução individualista e “culturalista”». Utilizamos o seu livro Conflito linguístico e ideologia na Galiza, 5ª edição, 2015. Começa o livro com citação de António de Lebrija: «As leis que o vencedor põe ao vencido e com elas nossa língua». Acrescentamos nós: Pela força das armas a língua da gramática de Lebrija é imposta na Galiza. O qual define com rigor a situação do vencido, a Galiza, muito mais e melhor do que «conflito linguístico». No livro não escreve uma palavra a respeito da Comunidade de Países de Língua Portuguesa com nove anos de existência em 2015.
Ramão Pinheiro mais temerário e destemido em 1973, aquando proclama escrevendo com ORTOGRAFIA espanhola: «Não nos serve [na Galiza] o português literário atual que nós NUNCA temos falado nem escrito» embora afirme que «galego e português são RADICALMENTE a mesma língua» e que cumpre manter a COMUNIDADE DAS LÍNGUAS portuguesa, brasileira e galega porque nos abre… universalidade cultural… seria néscio renunciar a tal… mas escrever galego com ORTOGRAFIA portuguesa é que não. Pinheiro contrapõe o ANALFABETISMO para escrever em galego à ALFABETIZAÇÃO OBRIGATÓRIA em castelhano das pessoas galegas que produz estas falarem galego e escreverem castelhano. Escreverem com ORTOGRAFIA espanhola. (Carta a don Manuel Rodrigues Lapa, Grial, nº 42, 1973).
Ramão Pinheiro e Francisco Rodrigues concordam em: i. Escrever galego com ortografia espanhola. ii. Não escrever galego com ortografia portuguesa, isto é, a nossa secular ortografia. iii. Rejeitar veementemente a proposta de Manuel Rodrigues Lapa e Ernesto Guerra Da Cal.
Aos 12 de novembro de 1976, Ricardo Carvalho Calero publica o Tomo I de Prosa Galega com ortografia «moderna», assim denominada por ele a ortografia espanhola da dita obra. Na mesma ortografia «moderna» publica o Tomo II aos 30 de setembro de 1978. O magnífico Tomo III, publicado aos 12 de agosto de 1980, todo ele contem prosa com a nossa secular ortografia; nele Ricardo Carballo Calero, assim escrito, prologa com um texto escrito com ortografia espanhola em que introduz o uso da letra «j» e a «g» em vez da «x».
Após meio século da Carta a don Manuel Rodrigues Lapa de R. Pinheiro, eis que Francisco Rodrigues (FR) publica Uma etapa estelar e conflituosa da Galiza… Um Reino com classe dirigente.
No seu Tomo II de mais de 1.105 páginas, FR afirma:
- Centrado na situação do Reino da Galiza na segunda metade do XIV século.
- Classes dirigentes galegas e o seu líder indiscutível Fernando Ruys de Castro. O castrismo, oposição de boa parte do povo galego ao trastamarismo.
- Relação da Galiza com Portugal pois AINDA mantinham uma «osmose» social, económica, cultural, política e linguística que os UNIA NUMA ESTRATEGIA COMUM: A RESTAURAÇÃO DA UNIDADE POLÍTICA PERDIDA. A REUNIFICAÇÃO DA GALIZA COM PORTUGAL.
- Situação do galego; usos orais e escritos na Galiza durante o XIV século.
- Maior esplendor da Galiza durante os reinados de Fernando II e Afonso VIII.
No titulo e em todo o livro, a nobreza galega e/ou galego-portuguesa é classe DIRIGENTE, perde o carácter de classe DOMINANTE.
«Galiza com o rei português [Fernando I]» escreve FR e acrescenta «a possibilidade da REUNIFICAÇÃO monárquica imediata da Galiza com Portugal». Nós no Manual Galego-Português de História (MGPH) escrevêramos, destacáramos 27 anos antes: «Fernando I REUNIFICA Portugal e a Galiza» e acrescentáramos «os seus permanentes intentos de incorporar a Galiza à UNIDADE galego-portuguesa».
FR atribui à nobreza galega cujo líder indiscutível era Fernando Ruys de Castro, proclamarem rei da Galiza ao rei de Portugal. Nós escrevêramos no MGPH: «Se houver que buscar um campeão da luta pela unidade galego-portuguesa, eu escolheria a sua figura», a de João Fernandes de Andeiro mas não a F. R. de Castro. Poder-se-ia afirmar mesmo que o símbolo mais possante da UNIÃO da Galiza e Portugal é Inês de Castro, vítima de um crime de Estado por esta causa de UNIÃO galego-portuguesa. Inês de Castro, mártir da UNIÃO da Galiza com Portugal. O próprio Murguia no Jogos Florais de Tui (1891) disse: «Quem sabe se os dois poetas [Camões e João Rodrigues de Padrão]… entendiam que aquela encantadora mulher pode bem ser laço de UNIÃO entre os dois povos…». Ou Rosalia de Castro «Do Minho atravessando as mansas águas / em misteriosas asas de Inês de Castro…».
FR escreve «Xoán Fernandes de Andeiro, un galego na picota». Duas linhas em baixo escreve «Joham Fernandes de Andeiro» e critica Garcia de Pina porque escreve «Juan Fernandez de Andeiro». Nessa altura o nome do atual Badajoz era Badalhouçe, segundo escreve Fernão Lopes, também como Outerdesillas o atual Tordesillas.
FR desautoriza com razão Pardo de Guevara porque 25 documentos dum total de 33 da Casa de Lemos (séculos XIII-XIV) nem se edita o texto nem se indica a sua língua. Realça que um desses documentos datado em 1291 em Vala do Lide por Estevo Fernandes de Castro está em galego.
«[O reintegracionismo] atribui poderes mágicos à mudança de ARMADURA, VESTIMENTA, em concreto GRÁFICA para o galego» afirma FR que nunca usa a palavra ORTOGRAFIA. Em 1.105 páginas não aparece uma única vez. Tá interdita!
Denuncia a violência que sofrem pessoas indefesas por utilizarem o galego referenciando e reconhecendo a autoridade de Carvalho Calero [não há dever de conhecer o galego, a lei não estabelece o dever de conhecer o galego]. Não utiliza o conceito REPRESSÃO E OPRESSÃO, linguística e nacional. Concorda com as analises de Carvalho Calero a respeito da identificação do galego e o português como A MESMA LÍNGUA: É só que FR escreve com ORTOGRAFIA espanhola. Carvalho não!
Aceita a falsidade de Fernando Venâncio: «Desde 1100 até 1400 português e galego diferenciavam-se em pormenor, eram língua única». Desde 1100? Afonso VI escreveu versos em galego antes de 1100. Diferenciavam-se em pormenor a língua do Alentejo e a de Trás-Os-Montes?
FR opina que «Portugal deve favorecer a reintegração, facilitando a comunicação oral e escrita da língua portuguesa no espaço social galego e da língua galega no seu». Coincide com a Política Linguística da Junta da Galiza. Para ele na Política Linguística está a solução. A solução não é a ALFABETIZAÇÃO do povo galego na sua própria língua e cultura, o estudo e aprendizagem da língua com ORTOGRAFIA portuguesa, a nossa secular ORTOGRAFIA, a dos séculos XIII-XIV na Galiza que FR destaca pelo seu ESPLENDOR. Para ele a alfabetização do povo galego em português é uma aspiração ELITISTA compatível com a assimilação ao espanhol do conjunto social galego!
A alfabetização na nossa própria língua, ORTOGRAFIA e cultura RESTAURA e de imediato o espaço de comunicação em galego no nosso país, na Galiza, em nossa opinião…
Afirma FR que «necessitamos a colaboração com outros Estados de língua portuguesa» mas omite a CPLP com 27 anos de existência. Reitera o desapreço, o menosprezo pela «roupagem ou armadura normativa para vestir a aparência do galego».
«Não é que devamos aspirar a reviver a Grande Galiza medieval. Trata-se de defender a queda da fronteira que teria um efeito multiplicador beneficioso para as duas partes» frisa FR e duas páginas depois escreve «para Portugal, para a sua, NOSSA, língua» identificando galego e português como a mesma lingua.
O Tombo de Toxos Outos: O livro Os documentos do Tombo de Toxos Outos foi publicado em 2004. Nós publicáramos o nosso MGPH em 1996, oito anos antes e não tivemos acesso a estes documentos.
FR torna a CENSURAR a nossa secular ORTOGRAFIA com o «x» sobre o «j». O mosteiro de São Justo de Tojos Outos, entre Compostela e Noia, pagava direitos pelo couto de Paredes ao de Tibães em 1295. FR não sinala que o mosteiro de Tibães estava e está em Braga. Referencia os documentos de Tojos Outos, a maioria em latim. Os da catedral de Mondonhedo, os dos mosteiros de Osseira, Ferreira de Pantão, Monte-de-Ramo ou Melão, maioritariamente em galego e frisa FR serem fontes para rigorizar a TOPONIMIA em galego, só que ele escreve Toxos por Tojos. Exemplifica com «Castella no reino da Galliza»: Castela incluída na reino da Galiza…
Tombos do Arquivo da Catedral de Mondonhedo foi publicado em 2005. FR utiliza a letra «ñ» que nunca existiu no galego embora a patranha de ser uma letra do galego com 800 anos de história. Escreve «cóengos» e sete linhas embaixo «cónegos». Mondonhedo era sufragânea de Braga em 1312… «o cóengo de Braga Xoán Silvestre apresentou-se em Mondonhedo… a reclamar 500 maravedís» [No documento não está escrito Xoán mas Joham, com certeza, e mais uma vez FR censura a letra «j» com a «x»] era conforme à «tayxaçom» de Braga. FR coloca aspas à palavra galega tayxaçom…
Em «mosteiros de Lourençá e Pedroso» elimina a nasalidade de Lourençã, permanente na ortografia do galego… Bispos Gonçalvo e Johan… «meiriño maior do reino de Galiza»… insiste na inexistente letra «ñ»…
FR destaca que «graças à documentação escrita em galego sabemos a flora [«castinyeiras», aqui o ene-agá «nh» aparece representado como «ny»], a fauna, assentamentos, território, geografia, relações sociais. O que não destaca é que podemos saber a ORTOGRAFIA do galego. Denuncia os processos de assimilação aos que estamos submetidos mas não denuncia a substituição da nossa secular ORTOGRAFIA pela do espanhol, colabora utilizando a espanhola. Escreve «nosso sennor» e «por gannar» mas não exemplifica com «senhor» ou ganhar» que também estão nos documentos…
Destaca do testamento de Fernando Ruys de Castro de 1305: «mosteiro de Valboa de Doiro, hu iazem os de Castro, onde eu venno». Chama-lhe a atenção o topónimo castelhano Valbuena del Duero, totalmente galeguizado. O mosteiro está perto de Vale do Lide, fundado em 1143 por Estefania Armengol casada com Fernando de Hita. É o tempo de Afonso VII. Parece claro que era Fernando de FITA. Como o «Arcipreste de Hita» que ele escrevia devagar «FITA» no Livro do Bom Amor… Isto levanta a questão de se o galego foi idioma da Terra de Campos e/ou outros territórios, Leão, a Estremadura. FR referencia vários documentos para afirmar «pode ser… que em todo o reino de Leão (1230-1300) o galego seguiu a se considerar um idioma de curso normal».
FR escreve: «Xoán Peres home do abade de Montederramo apresenta cartas a Pedro Fernandes de Castro (1337/8)» e acrescenta «no tempo de Fernando Ruys de Castro, filho de Pedro Fernandes de Castro e neto de Fernando Ruys de Castro, continuam os usos do galego». Fernando casa com «Juana Enriquez»; FR escreve Fernando e Juana – no doumento em galego de 1355 aparece Johana; cinco linhas abaixo FR escreve «Xoana».
FR destaca que Joana de Castro casada com Pedro I em 1354, toda a sua atividade escrita na Galiza – a partir de 1357 – em galego. FR designa-a por «Xoana»…
Surdiu-nos a ideia de FR escrever como Fernando Ruys de Castro: «mosteiro de Valboa do Doiro hu jazem os Castro, onde eu venho». Eis uma mostra da nossa secular ortografia, a do português.
Toda a documentação de Fernando de Castro até 1371 está no AHN e no da catedral de Lugo.
La iglesia y a ciudad de Lugo en la Baja Edad Media, los señorios, las instituciones, los hombres (CEG, anexo XXIV, 1997, Compostela). Colección Diplomática IV (1163-1668). Diocese de Lugo.
A documentação da Casa de Lemos desde 1384 é redigida em castelhano pelo sobrinho de Henrique II de Trastámara, Conde Pedro Henriquez que casa com Isabel de Castro por sua vez filha de Alvar Peres de Castro. Ela continua o uso do galego desde Cedeira em carta de 28-VII-1404.
FR publica a carta de Pedro I (15-XI-1351) em castelhano, transladada ao galego aos 28-IV-1362 (AHN, secção clero, car. 548, N.801); publica também a transcrição feita por Heitor Picalho e Carlos Lixó. Na linha 05: «juyzes, jurados e justiças, alcaydes, meyrinnos.
Heitor Picalho é autor de A onomástica nacida da Terra onde reproduz facsimilarmente os textos com ortografia galega. Num pode ser lido facilmente Junqueyra que ele transcreve como Xunqueira.
Livro do Concelho de Santiago, em galego (1416-1422). Conselho da Cultura Galega, 1992. Da ata em galego de 20 de junho de 1416 do Livro do Concelho de Santiago, FR transcreve: «Por noso señor el rey enno Reino de Gallisia», deturpa a ortografia e acrescenta: «o seseo está mui presente na escrita». Rebenta a ortografia com enhes: Vilariño, Camiño… Ata em galego de 5-IX-1426 do Livro: Vieytes, «jantar do rei», entre aspas pela letra «j».
FR afirma que procuradores, representantes do Concelho de Compostela, juízes-justiças, notários escrevem documentos em galego. Adiantado Maior da Galiza, escreve em castelhano e realça diferentes documentos do Livro, a maioria em galego, os de procedência real em castelhano, durante os processos burocráticos de arrecadação de verbas, de taxas: «a ingente quantidade de dinheiro para a Igreja e o Rei» denuncia.
FR conta como os documentos em castelhano tinham de ser assentados, traduzidos ao galego para serem validados pelo Concelho e que Fernán Gomes de OUTERDEFUMOS, vizinho de Leão apresenta carta de Juan II em castelhano datada em 3-IV-1419 para nomear arrecadador da Galiza.
Segundo FR, as formas castelhanas de Galicia sobre Galiza e gallego sobre galego exprimem a primeira subordinação ou renuncia que o vencedor impõe ao vencido. Pela força das armas acrescentamos nós.
FR exemplifica o caso de uma menina de nove anos à que o professor lhe baixa a qualificação por usar Galiza. Estamos a falar de 2017. FR define como VIOLÊNCIA institucional. Mas não fala de PROIBIÇÃO, REPRESSÃO e linguícidio contra a população galega. FR utiliza a palavra proscrito, «topónimo proscrito» mas não PROIBIDO como o galego. A normativa oficial do galego PROÍBE com sanha racista contra as pessoas galegas, e reprime o uso da nossa secular ortografia, a do português. Hoje PROÍBE o dito galego normativo e o português. Levamos meio século sofrendo o rigor PROIBITIVO do Reino da Espanha e da Junta da Galiza. FR mais uma vez recorre à autoridade de Carvalho Calero.
E aquando descreve a situação da língua, FR afirma que «nós mesmos somos os principais agentes destruidores do nosso idioma» e que «não podemos dar por irreversível esta situação linguística… tipologia, qualidade e especificidade do idioma falado e escrito». Tem razão, ele é um agente principal da destruição da ORTOGRAFIA do nosso idioma usando durante mais de meio século a ORTOGRAFIA do vencedor não a do vencido que pode deixar de o ser só com se alfabetizar na língua e cultura própria que não é outra que a do PROIBIDO português com a nossa secular ORTOGRAFIA.
«Não é a aproximação ao português o que explica a restauração da forma Galiza» escreve FR numa inexplicável contradição, como se galego e português não fossem a mesma e única língua. Acrescenta que «o espaço em que se assentou o galego e o que hoje é português foi comum (a Galiza histórica) que codificou a sua forma de falar numa ESCRITA comum, com pequenas variantes GRÁFICAS». Podemos concluir que FR tem aversão à palavra ORTOGRAFIA. Continua «no português se conservaram as formas ORIGINÁRIAS galegas [a ORTOGRAFIA não?] precisamente por a língua ali não sofrer os efeitos de uma dominação castelhana».
A toponímia originária galega ÚNICA nos documentos dos séculos XIII-XIV, deturpa-a FR nos casos de Tojos Outos, Lourençã, Mondonhedo, Osseira… Os topónimos escritos com a nossa secular ORTOGRAFIA, em identidade com o português, FR, deturpa-os escrevendo-os com ORTOGRAFIA espanhola: Toxos, Lourezá, Mondoñedo, Oseira.
«Os processos de GENOCÍDIO cultural e linguístico… violência e domínio inseparáveis das políticas imperiais que no continente europeu se praticaram e se praticam, muito antes de o fazer em África ou em América» escreve FR; achamos que é exigível mais rigor. Um genocídio é a destruição deliberada de uma classe social ou um povo – normalmente definido por diferenças étnicas, nacionais, raciais, religiosas e, por vezes, sociopolíticas – pelo extermínio dos seus indivíduos. Assassinando-os maciçamente no total ou em parte.
O etnocídio e o linguícidio acompanham o genocídio, fazem parte dele. E o povo galego precisa de conhecer e poder explicar as causas dos extermínios de indivíduos havidos na nossa história, o genocídio nazi-franquista e muitos outros durante séculos de escravatura. Referenciamos Castelão e o seu Sempre em Galiza e apelamos para a investigação pertinente que o acrescente.
FR denuncia o uso da força, a repressão contra a Galiza para manter a sua integração em Castela que fora patada sendo certo que sob ameaça e pressão. Parece mais rigoroso falar da força militar que exerce o colonizador para submeter o colonizado ou o opressor sobre o oprimido.
Na dinâmica de «osmose» entre duas classes sociais, a aliança nacional-popular nobreza-burguesia que FR afirma, está a negar, ocultar a questão da escravatura, rigoroso submetimento que sofriam as classes populares galegas e não só. A mudança de classe dominante para classe dirigente achamos que pode explicar a negação ou ocultação da escravatura à que foi submetida a Galiza e a sua população durante séculos.
FR da conta de que aos 16 de setembro de 1320, Afonso Soares de Deza (Deça) e os burgueses que o acompanhavam foram assassinados no Castelo da Rocha pela milícia do arcebispo Berenguel de Landoira. Embora oculta, em geral, o poder e a organização militar da Igreja e do Vaticano nos mosteiros, na rede de mosteiros, que eram centros com escravos das ordens religiosas.
A mudança de classe dominante para classe dirigente achamos que é um eufemismo que tenta ocultar a luta das classes dentro da Galiza.
Embora afirme que «nos Castro… sempre houve motivações como… a reintegração ou forma de recuperar a UNIDADE com Portugal» nós achamos que em base ao que conhecemos da realidade histórica COMUM da Galiza e Portugal, essas motivações foram muito além dos Castro, sempre.
Reparem na loa a Fernando de Castro de FR: «Sinto às vezes a necessidade de imaginar Fernando, os seus sentimentos e pensamentos… euforia, desânimo, vontade e sacrifício de triunfar, tristeza e amargura da desesperança. Desacougo pelo seu olvido social do povo galego». Nós destacáramos no nosso MGPH a alternativa reunificadora da Galiza e Portugal exprimida por Oliveira Martins baseada na guerra de classes no nosso contexto: Um exército e vitorioso. Apenas essas duas condições.
FR fica espantado da firmeza com que as classes dirigentes galegas defenderam a sua língua e o seu uso escrito desde 1230 até 1371 (fim da monarquia própria, derrota de Porto de Bois). Acrescentemos que na defesa do uso escrito, também defenderam a ORTOGRAFIA em que se escrevia.
Acrescenta FR que «Em certa maneira, o idioma [galego] necessita de classes dirigentes aliadas num objetivo estratégico que transcende e excede o idioma». Em nossa opinião a necessidade tem-na a população galega da ALFABETIZAÇÃO na sua própria língua e cultura. Direito humano elementar permanente e violentamente violado. Ou a necessidade de se libertar da opressão e repressão à que é submetida pelo atual regime nazi-franquista encabeçado pelo rei Felipe VI.
FR afirma que «hoje a fenda da separação entre a Galiza e Portugal está no plano da consciência… mudar a mentalidade mútua». Nós afirmamos que não existe nem na Galiza nem em Portugal um partido político que contemple no seu programa a UNIÃO NACIONAL da Galiza e Portugal. Talvez mudasse a mentalidade mútua.
Acha FR que «as iniciativas… interferidas… por Portugal e sobretudo a Espanha, não produzem aproximação real… a desaparição da fronteira e a proximidade e irmandade [da Galiza e Portugal]… prioritárias». É um facto constatado a contumácia do Reino da Espanha e da Junta da Galiza para sabotar qualquer iniciativa de unidade da Galiza com Portugal. O caso da ferrovia Vigo-Tui não é responsabilidade portuguesa. Há anos que a viagem Braga-Lisboa no alfa pendular é feita em 3 horas e meia. Podia ser Braga-Ferrol mas governos espanhol e galego SABOTAM!
A conclusão do trabalho de FR UMA ETAPA ESTELAR E CONFLITUOSA… UM REINO COM CLASSE DIRIGENTE cujo Tomo II tem mais de 1105 páginas é duma pobreza franciscana: «Não se trata de construir a Grande Galiza, porém, tão pouco de ocultar a sua existência histórica… com o Berço e a Seabra». No XXI século, nas condições concretas em que estamos parece que do que se trata é de conquistarmos uma República Socialista da Galiza e Portugal baseada nos princípios democráticos reconhecidos na Constituição da República da Galiza Sul e dos princípios democráticos reconhecidos nas leis universais. Eis a REUNIFICAÇÃO, A UNIÃO NACIONAL DA GALIZA E PORTUGAL. O que o proletariado e o povo galego merecem.
Ainda acrescenta que «a História da Galiza hoje… como no franquismo! O alunado galego absolutamente ignorante». Daí a necessidade para as pessoas galegas e não só de um Manual Galego-Português de História de 150 páginas e muitos mapas. Dois Tomos, um de mais de mil páginas, não parece o mais pedagógico.
Acaba FR o seu trabalho descrevendo a iconografia do Congresso dos Deputados espanhol com Isabel e Fernando, símbolos do genocídio contra o povo galego que ele não denunciou aquando era deputado no dito Congresso. «Um príncipe que não convém nomear não fala se não de Paz e de Fé e duma e outra é mui grande inimigo»: Fernando o Católico, modelo de hipocrisia destacado por Maquiavelo.
Em Ferrol, sexta-feira, 12 de maio de 2023