A submissão galega à ortografia espanhola

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A insubmissão galega de Fernão de Castro, a de Pardo de Cela e a das abadessas aparecem em três livros publicados por Nós Diário, o primeiro da autoria de Francisco Rodrigues, o segundo de Alexandre Peres Vigo e o terceiro, o das abadessas, de Carolina Casal & Carmo Varela.

Os três têm em comum serem redigidos em português com ortografia espanhola e a ocultação da existência da escravatura na Galiza.

A língua na Galiza desses tempos tinha uma ortografia que investigadoras e investigadores não parecem querer ver embora os seus estudos do passado, profundos e manejando uma grande documentação, suficiente para poder afirmar que hoje galego e português continuam a ser a mesma língua e continuarão com a sua secular ortografia embora os denodados esforços da classe dominante espanhola por impor o espanhol e PROIBIR por lei o galego secular, o português de sempre.

As pessoas com os conhecimentos destes investigadores e investigadoras não têm qualquer escusa para hoje continuar a utilizar a ortografia espanhola para a nossa língua, para censurar a nossa ortografia. É criminoso continuar «enhe que enhe» a escrever o galego com ortografia espanhola, «ñ que ñ», as pessoas e as organizações que se proclamam nacionalistas ou defensoras da Galiza, da liberdade da Galiza. A letra «ñ» no idioma galego é uma ignominiosa imposição do nazi-franquismo narcotraficante espanhol dos nossos dias.

Suportamos o paradoxo, o absurdo, o disparate de dirigentes e organizações proclamarem desde há cerca de meio século que galego e português são a mesma língua desde um ponto de vista filológico mas desde outras perspetivas não; portanto galego a mesma língua que o português salvo a ortografia e assim escrevem «enhe que enhe» com ortografia imperial castelhana e durante cinquenta contumaces anos embora os avanços na investigação dos conhecimentos histórico- linguísticos. Ficamos ancorados no nazi-franquismo dos promulgadores, Felgueira Valverde&Fernandes Alvor, das aberrantes NOMIGA e Lei de Normalização Linguística. Também nisto cumpre desnazificar.

Relativamente à questão da ocultação da escravatura na Galiza, podemos comentar o que se segue:

Alexandre Peres Vigo frisa: «Pardo de Cela, sempre presente no povo da Marinha embora não como vilão e criminoso, aparece como homem poderoso e digno mas talvez não como um herói. Ser resistente a uma agressão externa produz simpatias. Passeio muito por Ferrol e todas as estátuas que vejo são de gente de fora, não há galegos. Arrastamos desconhecimento do nosso passado».

Arrastamos. Desconhecemos a nossa sequestrada e censurada história mas temos conhecimento suficiente como para saber da IDENTIDADE NACIONAL E LINGUÍSTICA da Galiza e Portugal e portanto de focar a investigação no que cumpre para um presente e futuro de UNIÃO NACIONAL da Galiza com Portugal.

Particularmente no facto de querer ver, reparar, nas estátuas de Ferrol em que «não há pessoas galegas». Em Ferrol há uma estátua e uma praça com o nome de uma «personagem» nascida na cidade: Ramão Plá e Monge de família escravagista, ele nobre, Marquês de Amboage, que também se enriqueceu com a «trata negreira». Em Ferrol festeja-se a escravatura cada 31 de agosto desde há muitos anos até a atualidade sem querer ver a brutal indignidade da comemoração mesmo a comemoração da dita «Ilustração» e os «ilustrados», diariamente comemorados, elevados às melhores categorias humanas, mas não rebaixados às mais abjetas. Carlos III, uma rua para um proprietário de 30.000 escravos; Jorge Juan, uma «Cátedra» e assim por diante. Quer dizer, no presente, em Ferrol e na Galiza, estamos a comemorar a escravatura sem que historiadores ou investigadoras denunciem tal ignomínia com os seus trabalhos.

«O idioma galego passou de possante veículo da lírica com Afonso O Sábio a língua a extinguir», frisa Jam Carvalha, sem se lembrar das Sete Partidas do Rei-Sábio, em que se legaliza a escravatura que durou séculos na Galiza e não apenas. Pedro Pardo de Cela, homem poderoso, tinha escravos? Em que bando combateu, a favor ou contra os Irmandinhos?

As abadessas galegas «prófugas e apóstatas» de Carolina Casal e Carmo Varela eram latifundiárias, espoliadoras e exploradoras das rendas do trabalho mesmo das pessoas escravas como toda a classe social à que pertenciam, a classe DOMINANTE na Galiza, como Pardo de Cela. As freiras bieitas, da ordem beneditina, polícia vaticana, eram classe dominante na Galiza e as rendas e capital que possuíam foram por sua vez ESPOLIADOS pela força das armas de Fernando de Aragão e Isabel de Trastâmara, espoliação que durou séculos na Galiza e hoje CONTINUA.

Os mosteiros eram os principais titulares de rendas e os primeiros proprietários de terras da Galiza: Latifundiários e exploradores, abades ou abadessas, bispos, arcebispos e a nobreza e monarquia galega, com poder militar como classe dominante que impunha o seu domínio como latifundiários e exploradores a meio da violência sobre o campesinato, servos, escravos…

Tudo submetido ao Papa de Roma. Particularmente ao Papa Alexandre VI, o «Bórgia», grande inimigo da Galiza e da sua UNIDADE com Portugal, grande favorecedor e peão do projeto imperial de Fernando&Isabel. As suas Bulas permitiram o Tratado de Outerdesilhas (7-6-1494): A metade do mundo para Fernando&Isabel. A outra metade para Portugal em troca da Galiza. Esse foi o valor da Galiza e a sua UNIDADE com Portugal: A metade do mundo. Lembre-se que quinze anos antes, em 1479, o Portugal derrotado renunciava à Galiza no Tratado das Alcáçovas.

Após o Tratado de Outerdesilhas o mundo ficou submetido à escravatura para acumulação do capital que financiaria a construção do capitalismo. Ao nosso Carlos Marx levou-lhe uma vida toda estudar a dita construção e criar a metodologia científica da analise da VIOLÊNCIA da classe DOMINANTE e o seu ESTADO na luta das classes. Também estudada no caso da Escócia e a Irlanda e mesmo na Galiza.

Classe DOMINANTE mas não classe DIRIGENTE. Se na Galiza trocamos classe DOMINANTE por classe DIRIGENTE estamos a FALSIFICAR a realidade e os resultados de qualquer análise da luta das classes na Galiza. Não estaremos a fazer uma análise marxista nem científica. E o proletariado e o povo galego precisam desta análise marxista e científica para a sua libertação e UNIÃO NACIONAL COM PORTUGAL.

Se transformarmos Fernão Ruis de Castro de classe dominante para classe dirigente estamos a FALSIFICAR a secular luta de classes na Galiza em que séculos de guerra de espoliação e escravatura contra nós de poderes militares estrangeiros produziu uma classe dominante galega sipaia, própria, traidora que combate contra a Galiza e a sua UNIDADE NACIONAL com Portugal. O exemplo do premiado sipaio Fernão Peres de Andrade face Nuno Freire de Andrade.

A classe dominante, a nobreza galega e a portuguesa concordaram na REUNIFICAÇÃO da GALIZA E PORTUGAL sob o rei Fernando I de Portugal que entra na Galiza em 1369 sendo aclamado como rei e instalando a Corte em A Crunha onde é recebido por João de Andeiro. Ao atacar a Galiza as Companhias Brancas, os nobres galegos, classe dominante, confrontam entre si, a parte sipaia derrota e espolia a defensora da UNIÃO DA GALIZA E PORTUGAL. Durante todo este processo o papel REUNIFICADOR de João Fernandes de Andeiro, Conde de Ourem, foi determinante até ao ponto de que poderia ser qualificado de campeão da luta pela UNIDADE DA GALIZA E PORTUGAL. Foi com ele que se deu a REUNIFICAÇÃO e não com nenhum outro e combateu por esse ideal até lhe custar a vida.