Das lanchinhas às “barquitas vintage”

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No passado Natal, na corunhesa praça de Maria Pita, cheia de jogos para crianças, encontrámos diante da porta do concelho umas velhas lanchinhas como aquelas que faziam a nossa alegria nas festas das paróquias. Mas a alegria do achado converteu-se em tristeza quando vi o letreiro: “barquitas vintage”. Os meninos/as da Corunha já não saberão o nome das velhas lanchas, só conhecerão as “barquitas vintage”.

Lia em Sermos Galiza em finais do ano passado que encontrar nos comércios presentes na língua do país resultava missão quase impossível; só 0,6% dos brinquedos incluíam o galego no seu conteúdo. Com razão A Mesa apelava à “responsabilidade linguística” na aquisição das prendas e ao “compromisso” da Xunta para acabar com esta situação de menorização. Parece um conselho quase inútil, embora cumpra insistir nele “a tempo e a destempo”, como pedia Paulo de Tarso a um discípulo.

Como é bem sabido, a nossa gente mais nova foi perdendo o galego a passos gigantescos nas últimas décadas; é uma minoria quem o fala. As últimas análises dizem que 44% nunca fala em galego! e a percentagem de quem o fala habitualmente, de certeza, desce à metade. Para cúmulo, não é só questão de prática, senão que apesar da matéria escolar de galego, 25% da mocidade diz não saber exprimir-se em galego.

Não o dizemos só nos, o informe do Conselho de Europa alertou deste retrocesso do idioma próprio da Galiza na última década; fazendo os piores prognósticos, e dizendo que a escola e a falta de apoio institucional –mesmo retirando a prioridade do galego nas aulas– são umas das causas mais importantes. Sem dúvida, cumpre acrescentar a falta de sensibilidade nas famílias, que mantêm com os seus votos esta Xunta inoperante. E não falemos em profissionais sanitários, sobretudo os médicos, como lemos nos últimos dias em Nós Diario.

Um povo suicida, como dizia Manuel María. Até as lanchinhas levaram com elas parte do galego. Mas, “se perdemos a língua, não seremos ninguém”.

[Este artigo foi publicado originariamente no Nós Diario]

 

Máis de Victorino Pérez Prieto