Cunqueiro e Prisciliano

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alvaro-cunqueiroO passado 28 de fevereiro foi o 40 aniversário do falecimento de Álvaro Cunqueiro (1911-1981). Este acontecimento do mestre da narrativa fantástica e o compromisso com a língua galega foi pouco destacado. Apesar de alguns considerarem a sua literatura pouco comprometida, por ir numa linha fantástica ―o realismo magico galego na época do realismo social―, o seu compromisso com a língua e a cultura galega fica claro graças a umas formosas palavras inscritas por desejo próprio na tumba do cemitério de Mondonhedo: “Eiquí xaz alguén que coa súa obra fixo que Galicia durase mil primaveras máis”.

Mas não vou falar da sua obra, apesar de ser para mim das mais formosas da nossa língua, vou fazê-lo dum aspeto menos conhecido: Prisciliano; por quem manifesta uma grande simpatia.

Numa anedota recolhida no livro de Francisco Armesto Cunqueiro: Unha Biografia, fala-se dum artigo de Cunqueiro em La Voz de Galicia intitulado “Antipriscilianistas”. Fala nele duma conferência sobre Prisciliano e a polémica antipriscilianista do seu amigo José Mª Castroviejo em Mondonhedo pelos anos 50 do passado século. A conferência, apresentada por Cunqueiro, foi no Seminário de Santa Catarina, assaz querido por ambos e onde se formaram alguns dos nossos melhores poetas: Pastor Díaz, Leiras Pulpeiro, Noriega, Crecente, Iglesia Alvariño ou Díaz Castro.

Conta Cunqueiro no artigo que na sua dissertação José Maria “reverteu mil simpatias pelo suposto heresiarca, e viu-se como Castroviejo se passava ao bando dos que têm Prisciliano por católico, apostólico e romano”. Quando começou a falar da sua persecução apagou-se a luz. Quando volveu de novo, “Itácio [bispo oponente de Prisciliano] retirava-se derrotado ―escreve Cunqueiro. Porque não há dúvida nenhuma que o interruptor foi Itácio; que Castroviejo convocara os antipriscilianistas, plenos ainda de furor teológico”. E conclui: “Asseguro-lhes a vocês que houve um momento em que senti a presença física dos antipriscilianistas entre a minha cadeira e a do orador… E se traziam com eles o verdugo imperial de Tréveris com a sua machada afiada?”

[Este artigo foi publicado originariamente no Nós Diario]

Máis de Victorino Pérez Prieto