Rosalía,
sombra que se fai teoría,
mellor ca luz do día
o día da luz,
mellor ca flor ferida
a ferida da flor.
Tive a grata ocasião de participar num ato sobre Luz Pozo, a nossa grande poeta, possivelmente a melhor depois de Rosalía, a do verso galego requintado e fundo, a do verso transparente, a da… luz. Convidado pelo seu filho Gonzalo, acudi a um encontro excepcional no Circo de Artesãos de A Corunha, para a apresentação da obra de Luz Concerto de outono (1981) em japonês. Mais que o livro, era a ocasião de poder escutar os seus versos na língua do afastado império do sol nascente, trás ouvir os poemas em galego da boca de Olivia Rodríguez González, amiga e estudiosa da poeta. Que maravilhosamente soavam os versos de Luz na voz do seu interprete nipom Shozo Nakanishi; fondos, cálidos… sonoros! Com ração tem dito ele numa entrevista: “O galego e o japonês tenhem um coração semelhante”. Ademais do placer dessa escoita, era un feito excepcional ver os versos galegos de Luz em japonês e conhecer ao tradutor também dos versos de Rosalía a essa língua.
Luz Pozo e Rosalía de Castro foram publicados em japonês por Shozo Nakanishi; poeta e traductor que usa o pseudónimo “Masao Kuwabara” nos seus livros.
Luz Pozo e Rosalía de Castro foram publicados em japonês por Shozo Nakanishi; poeta e traductor que usa o pseudónimo “Masao Kuwabara” nos seus livros. Shozo descobriu a poesía de Rosalía nos anos 80 do século passado e quedou fascinado por ela; em 1985 viajou a Galiza para assistir a um Congresso sobre a nossa poeta com ocasião do seu centenário. Anos depois, no 2000, conectou com Luz, que publicara sobre Rosalía o seu Discurso de ingreso na Real Academia Galega Diálogos con Rosalía (1996) e o seu poemario Vida secreta de Rosalía no mesmo ano, e do que tomei os versos do começo. Shozo conheceu a Luz na casa de Padrón a través de Xesús Alonso Montero e estabeleceu uma funda amizade com ela ate o seu passamento; mesmo em 2021 escreveu uma nota necrológica numa revista japonesa de Tokio (“Estudios españoles”). Á par que de Rosalía, converteu-se, também num devoto da obra de Luz Pozo. Em Clave Orión (n. XVI-XVII, 2018), dirigida por Luz, publicou-se o “Poema e carta de Shozo Nakanishi a Luz Pozo Garza”, que começava com estas verbas: “Ronquido do mar. A miña amiga rosaliana Luz Pozo Garza”.
Shozo Nakanishi tem dito que a sua relação com Rosalía foi um verdadeiro “namoro”. “Comecei com o estudo de Rosalía –tem dito numa entrevista- a partir dos jornais que fui lendo desde julho de 1985, da mão dos estudos de Xesús Alonso Montero e Francisco Fernández del Riego”. “Quando li a Rosalía senti que os seus poemas eram os meus poema –diz noutra entrevista-, que o seu coração era o meu, sem barreiras idiomáticas; como quando nasce o amor entre um home e uma mulher”, uma verdadeira conexão espiritual. Desde aquela, traduziu-a avondosamente e publicou em japonês: Cantares gallegos (2000-2011), A mi madre (2006), En las orillas del Sar (2016) e finalmente Follas Novas (2022). Ultimamente anda a preparar a edição da obra completa de Rosalía em japonês. No encontro no Circo de Artesãos comentou que numa ocasião dissera-lhe ao embaixador japonês em Madrid: “Mas não conheces a Rosalía?? Não pode ser! Tes que ir a Padrón”, e seica foi.
Logo “namorou” também de Luz Pozo. Shozo Nakanishi sabe muito bem que se pode querer a duas mulheres sem desdouro de uma nem da outra: “O meu coração não pode escolher entre Rosalía e Luz”. E assim, traduziu-a também a ela. Primeiro publicou Vida secreta de Rosalía (2012), con prologo de Luz e a resposta de Alonso Montero ao seu Discurso de ingreso na RAG, e Concerto de outono (2024), do que escutamos os versos em A Corunha. Para o poeta e tradutor nipón, o Concerto de outono são “palavras de poesia, palavras de música, palavras de pintura… brilhantes e muito sacras”; e considera que Luz e Rosalia são “semelhantes no seu lirismo”. Já se tem escrito sobre o influxo de Rosalía na poesia de Luz; salienta o trabalho de Aurora López e Andrés Pociña “Para unha historia do rosalianismo: o inmenso influxo de Rosalía na obra de Luz Pozo Garza” (Follas novas, n. 7, 2022). A formação musical e sobre tudo a afecção à musica de ambas, que eram pianistas, é um dos paralelismos entre as duas que marca a sua criação poética fundamente musical. As numerosas cantigas populares feitas com poemas de Rosalía e o mesmo título do poemario de Luz traduzido ao japonês são expressão dista musicalidade da poesia das duas grandes poetas galegas.
É um orgulho ter estas duas escritoras galegas e universais.
[Este artigo foi publicado originariamente no Nós Diario]