A Igreja e o galego (I)

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A relação da Igreja com a língua é uma história entre a esquizofrenia e o surrealismo, ou simplesmente submissão ao poder estabelecido de Castela. Num país com um idioma próprio que falam a maioria dos galegos –ainda que fora baixando a porcentagem–, o galego está ausente da maioria das missas e os templos, minguando nos últimos anos. Queda claro em vários estudos nas últimas décadas; como A Igrexa e a lingua galega de Ferro Ruibal (1987), O idioma da Igrexa galega de López Muñoz (1989) e posteriormente outro de ambos autores A palabra fai camiño (2000). Tenho falado e escrito, infrutuosamente, tanto disto nos últimos 40 anos, que já não estou por voltar a fazê-lo. Fago-o agora por um novo estudo que veio à luz; leva por triste mas justo título O libro negro da lingua galega, de Carlos Callón, que trata da repressão linguística ao longo de cinco séculos.

No lançamento que se fez na Corunha, a carom de gente ilustre como Mª Pilar Garcia Negro, Jorquera e o autor, disse que nas mais de “mil e uma noites de pedra” do galego, muitas delas foram causadas por uma Igreja, que cumpriu um triste e antievangélico papel, participando na sua repressão; sobretudo nos seminários e nos seus centros educativos. A primeira delas é já no s. XVI, quando o bispo burgalês de Tui aprova uma disposição para impulsar entre os padres o estudo da gramática latina e… castelhana, instando-os a que devem ensinar esta língua aos meninos. As Constituições da Cátedra de Gramática que fundou são as normas mais antigas que conhecemos com penitências físicas por falar galego, arguindo que os estudantes eram “muito rebeldes” (bozales). De pouco valeriam as palavras do P. Sarmiento no s. XVIII, que fisse a primeira apologia de “uma língua que julgam ridícula e despreciável”. Como lembra Callón, Sarmiento denuncia os pecados de palavra (prejuízos), obra (castigos com azoutes) e omissão (não publicar manuscritos como os das Cantigas). Os seus escritos permaneceram inéditos na sua maior parte, e mesmo milhares das suas cartas acabaram como papel higiénico no seu convento.

[Este artigo foi publicado originariamente no Nós Diario]

Máis de Victorino Pérez Prieto