Até há uns anos, Vox era a marca de dicionários duma prestigiosa editorial espanhola; tinha um lema muito expressivo: “Precisas um Vox”. Com os Vox muitos de nós estudamos latim e grego. Eu sigo a utilizar o seu grande dicionário de espanhol, porque é mais completo nas definições e no número de entradas que o da mesma RAE; e ainda guardo e utilizo os de latim e grego do bacharelato.
Desafortunadamente, esta palavra, outrora sinônimo de conhecimento e de amor pelas línguas, foi apropriada por um grupo político espanhol que não se caracteriza pela sua cultura e pelo amor às línguas, a maior riqueza dos povos.
Eu escrevia-lhe há uns dias a uma amiga murciana que publicou um artigo crítico com esse partido: “Que vergonha que o nome desses bem-queridos dicionários com os que tanto aprendemos, fora usurpado por um grupo tão burro!”. E ela contestava-me atristurada: “Levas razão, mas… dá medo”.
Os de Vox cultura tenhem muito pouca, tal como manifestam nas suas acendidas proclamas públicas. O seu conhecimento da história e a cultura, mesmo a da sua idolatrada Espanha, é escasso e deturpado. Mas no que toca às línguas do estado plurinacional espanhola sua postura resulta, ademais de ignorante, demencial.
Em concreto, a sua negação do galego como língua de seu com uma longa e riquíssima história literária e popular e como a língua de identidade do povo galego, é tão inculta, ruda, túzara, záfia e, no pior sentido da palavra, vulgar, que dá nojo. Contudo, bem sei que, ainda mais que isso, a postura responde a uma política muito concreta, plasmada no seu ideário político e no seu projeto espanholista; oposto a todo o diferente, seja por razões políticas, lingüísticas ou sexuais. Já desde os seus começos, há dez anos com Alejo Vidal Quadras, um anticatalanista deputado do PP no Parlamento catalão que chegou a ser vice-presidente do Parlamento Europeu e logo fundou o partido com Santiago Abascal, que também vinha do PP e fora presidente da Fundación para la Defensa de la Nación Española.
Em concreto, a sua negação do galego como língua de seu com uma longa e riquíssima história literária e popular e como a língua de identidade do povo galego, é tão inculta, ruda, túzara, záfia e, no pior sentido da palavra, vulgar, que dá nojo.
A ideologia política de Vox é definida como ultraconservadora e ultradireita, ultranacionalista-espanhola, e do nacionalcatolicismo que imperou em Espanha nos 40 anos da ditadura; uma extrema direita populista. Nasceu como resposta à “debilidade” dos dirigentes populares cara aos nacionalismos do estado que quereriam acabar com Espanha, a “derechita cobarde”. “Um desacomplexado nacionalismo espanhol vertebra e está constantemente presente no discurso, as propostas e a escenografia de Vox”, diz o politólogo e professor Carles Ferreira. Um nacionalismo espanhol fascista coma o do seu idolatrado Francisco Franco, ou o nacional-socialismo de Adolf Hitler, que purgou tanto judeus, como ciganos ou homossexuais. Por isso, um dos seus lemas foi “Hacer a España grande otra vez”, como o conhecido “Make America Great Again” de Donald Trump e lemas semelhantes dos líderes fascistas de toda a Europa. Como diz Carles Ferreira, “o objetivo de Vox é acadar um estado mono-nacional e mono-cultural”, e por isso opõe-se aos “projetos nacionais alternativos das minorias catalã, basca e galega”. Como é sabido, mesmo querem acabar com o estado das autonomias (Como irão fazer agora, presidindo o parlamento valenciano?).
Logicamente, se estão contra as nações do estado, estão furiosamente em contra das suas línguas; mesmo o bilingüismo dos territórios que contam com língua própria: “Não imos consentir que convertam o nosso país, a nossa nação, numa torre de Babel”, dizem. Eu creio que isto foi uma das causas da sua irrelevância no panorama político galego, face ao “galego coma ti” de Fraga, ou o “sentidinho” de Feijoo.
Logicamente, se estão contra as nações do estado, estão furiosamente em contra das suas línguas; mesmo o bilingüismo dos territórios que contam com língua própria: “Não imos consentir que convertam o nosso país, a nossa nação, numa torre de Babel”, dizem.
Em fim, não podemos esquecer que isto que nos interessa particularmente aqui vai unido ao seu posicionamento contra o direito à eutanásia, ao aborto, ao matrimónio entre parelhas do mesmo sexo, ao feminismo, à “ideologia de género” e todo o “lobby LGTBI”. E leva-os a dizer rotundamente: “Não existe a violência de género”. A última imagem expressiva disto foi a lona numa parede de Madrid, na que uma mão com a pulseira da bandeira espanhola botava no lixo os slogans destes coletivos, junto com a frase “Decide o que importa”.
Ante isto, a única resposta valida, ademais de negar-lhes politicamente o pão e o sal, não pode ser outra que a dum velho slogan de Mãos Unidas contra a Fome: “O teu silêncio faz-te cúmplice”. E para os católicos que os vão votar, cumpre dizer que o evangelho de Jesus de Nazaré nada tem que ver com este discurso de ódio e violência.
[Este artigo foi publicado originariamente no Nós Diario]