Acampa. Um evento galego internacional

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Já vão oito convocatórias do “Encontro Internacional de Acampa pela Paz e o direito ao Refúgio”, organizado pela rede Acampa e celebrado na Corunha, cada ano com grande êxito de participação e eco na sociedade.

Está planeado desde o começo como um encontro cidadão aberto e ativo, com a participação das pessoas protagonistas, as vítimas, as ONG e organizações –entre elas mesmo alguma comunidades cristãs- , grupos sociais e políticos, jornalistas, fotógrafos, músicos e eventos artísticos diversos. A rede Acampa tem como objetivo a defesa do Direito ao Refúgio e dos Direitos Humanos; busca abrir um espaço de sensibilização e diálogo para achar respostas coletivamente e profundar nas causas dos acontecimentos.

Nasceu no ano 2016 com a vocação de estender-se e replicar-se noutras cidades e países. Atualmente, ademais desta rede Acampa da Corunha, está já a funcionar a rede Acampa Brasil e está-se conformando a rede Acampa Portugal. Este encontro internacional na Corunha na passada fim de semana (do 7 ao 9 de junho), vai realizar-se também em outubro em Piraciba (São Paulo-Brasil).

O primeiro foi no ano 2017 com o lema “Pela paz e o direito ao refúgio”, o seguinte no 2018 com “Direito ao refúgio por mudança climática”; o terceiro foi no 2019 “Refugiadas”, o quarto no 2020 a pesar da pandemia “Direito a refúgio por espólio”, o quinto no 2021 “A vida negada”, o sexto no 2022 “Fome e refúgio”; e o sétimo no 2023 foi com um lema bem atual um ano depois: “Ódio ou convivência”.

O encontro deste ano 2024 foi sob a legenda “Infância e mocidade refugiada”, para “abordar a delicada situação da infância e a mocidade; especialmente a que se vê obrigada a deslocar-se e a solicitar refúgio”, indicava-se no folheto divulgativo. O dato de ACNUR do ano 2023 é impressionante: a cifra de deslocados forçados sobe de 114 milhões de pessoas. E a metade dessa população refugiada a causa das guerras, crise climática, desastres naturais, fome e violências de toda classe, são crianças menores de dezoito anos, “uma infância vulnerável”. De feito, como é conhecido, nesses deslocamentos à Europa e Norte-América, muitas crianças chegam soas, sem família, perdida nesse processo migratório. Estes mena (“menores não acompanhados”) por riba são criminalizados pelos grupos de extrema direita, que culpabilizam o Estado por gastar neles dinheiro público para que possam aceder à vivenda e comida, escola e à cultura, à sanidade… Mas as organizações que trabalham com esta infância e juventude alertam constantemente dos riscos crescentes nos cenários sem controlo que devem atravessar: sequestros, exploração sexual, assassinatos, tráfico de órgãos, deterioro da saúde mental e física, etc.

Isto queda refletido magnificamente na impressionante foto do cartaz desta convocatória (aqui mais arriba); obra dum foto-jornalista palestino que retrata teimosamente o horror em Gaza, Majdi Fathi, ao qual os bombardeios destruíram a sua casa e o governo de Israel não deixou nem tramitar o visado para vir à Corunha: uma criança entre os escombros das casas destruídas em Gaza. Mas não é só Gaza; mais de cinquenta conflitos estão ativados atualmente no mundo, que afetam particularmente a mulheres e crianças: Yemen, Sudão do Sul, Mali, o Sahel, Niger, República Democrática do Congo, Burkina Faso, Somália, Birmânia, Rohinyá, Ucrânia…; neles, os direitos da infância e juventude estão permanentemente ameaçados.

Como cada ano, ademais das haimas dos grupos organizadores, a carpa central e um acampamento de refugiados, há um símbolo do lema do encontro. Nesta ocasião, um memorial das mais de 16.000 crianças assassinadas nestes últimos meses em Gaza, e as vítimas infantis das guerras ativas no mundo; estava formado por uma torre com mil sudários embrulhados representando a essas crianças. Ao seu lado foi o minuto de silêncio na concentração do domingo 9.

A rede Acampa quer ser porta-voz para a reivindicação coletiva que exija ações urgentes e necessárias a nível internacional, que minimizem estes efeitos mortais e colaborem numa vida digna para esta infância e mocidade. Uma voz que exija aos governos que garantam uma legislação que assegure a proteção dos seus direitos. Pois o certo é que cada vez nos enfrentamos a um maior aumento das desigualdades, com as transformações econômicas, sociais e políticas do capitalismo contemporâneo, que elimina duma forma ou outra as pessoas “não necessárias”, botando-as a uma situação de refúgio.

Como gosta de repetir Xosé Abad, presidente de Acampa e alma mater do projeto, busca-se a união da gente como fórmula eficaz para enfrentarmo-nos a estes terríveis retos.

[Este artigo foi publicado originariamente no Nós Diario]