Liturgia em galego: da ilusão a frustração

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A editorial SEPT organizou ao longo deste mês de fevereiro a exposição “55 anos da liturgia em galego (1969-2024)” no seminário de São Martinho em Compostela. Os seus seis painéis vão desde “A xusta causa da liturxia em galego” até “Do entusismo á realidade”.

Os três primeiros falam dos antecedentes da permissão eclesiástica do galego na liturgia. No primeiro, as reações de um sector da Igreja galega pela exclusão do galego na liturgia; protestas que chegaram ao cardeal Quiroga Palacios. O Concilio Vaticano II (1962-1965) recomendara a liturgia nas línguas vernáculas, fronte ao uso do latim; mas aqui, na Galiza, entendeu-se que a língua era só o castelhano. Teve muita repercussão um escrito em março de 1965 –ano de remate do Concilio-; promovido por Xaime Isla, Domingo Fdez. del Riego, Xosé L. Fontenla e o P. Seixas, ia assinado por 1200 pessoas. Entre 1965-1967 há uma viva polêmica na imprensa galega em prol e contra a liturgia em galego, em parte recolhida no Libro negro da língua galega de Carlos Callón; o artigo “La Iglesia no habla la misma lengua que los gallegos”, de Álvarez Gándara (1966), recebeu o Premio Fernández Latorre, nos tempos em que La Voz era um diário “progressista” (¡).

O terceiro painel achega-se à Missa de Rosalia, que desde o 25 de julho de 1965 celebrou-se muitos anos em galego. Presidida pelo P. Seixas, consta como a primeira celebrada em galego. Em janeiro de 1966 os bispos galegos aprovam a prédica das Missas em galego. As primeiras totalmente em galego foram a finais de 1966 as de Antón Vilasó em Compostela, Manuel Espiña com Xosé Morente em A Corunha, e logo a de Xaime Seixas em Vigo. Ainda que não se recolhe aquí, neste processo tive uma importância relevante o labor de “Os Irmandinhos”, un grupo de curas em Roma.

O quarto é “A aprobación agardada”. Em fevereiro do 1966, o cardeal Quiroga envia à autoridade jerárquica da Igreja a solicitude para a aprovação do galego na liturgia e a permissão para elaborar esses textos litúrgicos. Em setembro de 1968, e em dezembro SEPT publica o Misal galego; o Consilium aprova o galego como língua litúrgica na Galiza numa nota em janeiro de 1969.

O quinto fala das publicações que abriram o caminho. Depois do Missal de Espiña e Morente, no que também colaboraram Estraviz e Vidán, apareceu o novo Missal Romano em galego quase vinte anos depois (1987). Mas os Leccionários da Missa tardaram outra década em aparecer (de 1997 em adiante) após a publicação da Biblia galega (1989). Os que nos anos 80 já fazíamos sempre a Missa em galego, tivemos que botar mão de textos provisórios e mesmo fazer a tradução simultânea, para a qual chegamos a colher muita prática. Tampouco se recolhem uns materiais que foram de grande valor: os publicados pelo equipo ferrolano de Boa nova e o viguês de Badal, assim coma os novos cantos litúrgicos, particularmente os Salmos de Xavier Méndez.

O ultimo painel fala da realidade: o esfriamento progressivo do entusiasmo inicial, e ainda uma volta atrás. Após o Concilio Pastoral de Galicia, que publica em 1976 um texto para a implantação do galego na liturgia em todas as paróquias galegas, e um documento dos bispos para que seja assim, véu o incumprimento desta norma, que se fez ano trás ano cada vez mais flagrante. O idioma da Igrexa galega, do sociólogo Daniel López Muñoz, no qual colaborei intensamente, diz que a começos dos 90 só 7% das missas dominicais em Galiza são em galego. Mais de trinta anos depois, a situação é muito pior. Na Corunha, cidade pioneira, não queda nenhuma paróquia em que se celebre cada semana a Missa em galego, salvo a que fazemos na Comunidade Cristã do Homem Novo. E no mundo rural e marinheiro a presença é ainda mais escassa, ao ir morrendo os velhos militantes. Tenho falado disto em Nós há anos: “A Igreja e o galego” 1 (3/08/2022) e 2 (10/08/2022).

No ano 2019 teve lugar um novo intento de lançamento neste duro caminho do galego na Igreja; foi a plataforma “Fagamos Igrexa galega”. Falei dela noutro artigo em Nós (26/02/ 2020). Convocavam um grupo de pessoas, paróquias e movimentos de toda Galiza para “devolver a ilusión e a esperanza a todos os que traballaron no eido do galego na Igrexa, unir forzas e elaborar proxectos para toda a comunidade eclesial galega”, diziam. Eu rematava o artigo com um “Bendita ilusión!”… Inicialmente lograram congregar um bom grupo de velhos e novos militantes; mas o efeito real nas paróquias, a pesar desses louváveis intentos, creio que foi pouco eficaz. A Igreja não soube responder à galeguizaçao da liturgia quando era possível, e agora cada vez pode convocar menos, faça o que faça.

[Este artigo foi publicado originariamente no Nós Diario]

Máis de Victorino Pérez Prieto