A poesia religiosa de Xosé Carlos Gómez Alfaro

Partilhar

Há quinze anos que nos deixou prematuramente Xosé Carlos Gómez Alfaro (1949-2008), um “francotirador no monte difícil da nosa poesia” pela sua liberdade criativa, como tem dito o seu colega em fazer versos Vicente Araguas (Prólogo de O clamor da eclipse, 2004). O mesmo Alfaro diz que é “alleo a modas e círculos literarios” (web da AELG). E Xosé Lois Garcia falou da sua “palabra iniciática e redentora” (“Lembrando a Xosé Carlos Gómez Alfaro post mortem”, Galicia Hoxe, Ag. 2008). É um dos maiores poetas religiosos da nossa literatura, junto a Cabanillas e Diaz Castro, ou os seus contemporâneos Xosé Antón Miguélez e Manuel Regal. Recolho dele vários poemas no meu livro Os rios pasan cheos Deus. Poesia religiosa em galego (Toxosoutos, 2007): “Noso Pai”, “Pregaria das mans unidas” e “Credo”.

Formado no Seminário de Ourense e na Universidade compostelana, foi escritor de poesia e de prosa, mas foi sobretudo poeta. Ele mesmo tem falado do que esta formação supôs na sua vida: “Non quixen ser cura, pero ó seminário débolle moito” (“A modo de autobiografia”, web da AELG). E nota-se; a sua poesia é fundamente existencial e religiosa, desde o primeiro poemário em espanhol De rodillas (1969) até um dos últimos Confiteor (2005). Não em vão entre as suas leituras preferidas estão Rosalía, Cabanillas e Díaz Castro, mas também S. Juan de la Cruz.

Formado no Seminário de Ourense e na Universidade compostelana, foi escritor de poesia e de prosa, mas foi sobretudo poeta.

Poeta comprometido com a língua galega, os seus poemários –salvo o primeiro- são todos em galego: As labaradas da lembranza (1996), Ofertorio de solpores, Alba plena do alén, Os ciclóns do sino, Matria de néboa, Pasos cara á alba, Alén do lume, O clamor da eclipse, Confiteor e Mar aberto (2007). A sua obra poética foi recolhida nos dous volumes de Poesía galega toda (2009).

Curiosamente, foi Xesús Alonso Montero, reconhecido agnóstico, dos primeiros em valorar muito positivamente esta poesia em grande parte religiosa. Vicente Araguas fala dela como social e religiosa, solidária e humana, “dun extraño humanismo no que se mesturan palabras bíblicas com estoupidos persoais”. A poesia de Alfaro manifesta uma busca apaixonante de Deus, entre o silêncio, a noite e “unha alba plena neste alén florido”, que o situa entre os poetas mais fundamente religiosos da nossa poesia. Isto salienta em dous poemários: Ofertorio de solpores (1999) e Confiteor(2005).

Ofertorio de solpores, dedicado ao seu filho Daniel, é um poemário transido de fé religiosa num Deus “silente” e escuro, e com um fundo sentimento existencial: “Non sei por que/ me chaman noite. Tal vez pólo devalo que se deita,/ meu Deus, como unha fouce/ nas leiras da conciencia”. A relação com Deus aparece já no seu primeiro poema: “Ofrecinche, meu Deus, as labaradas/ lúgubres que habitaban a memória”. No segundo: “Acó tes, Deus silente, estas ruínas/ miñas, vougos cascallos cancerosos,/ a agardar no peirao eses piadosos/ confortos e esas naus diamantinas”. Etc. O poeta busca a Deus com auténtico devezo: “Coido que vou ás veces cara a Ti/ e, sem embargo, galeón da gloria/ non te acho vivo, vivo por ningures/… canto mais te invoco mais te agochas/ e canto mais te ocultas mais devezo”. Mas conclui o poema “Santo Cristo”: “Meu santo Cristo vivo e envolvente”. E noutro poema di: “Ti non es noite nin tropezo/ non es atrocidade nin es medo,/ non es flaxelo, xeo e tirania”. Pero, sobretudo, salienta sua fé religiosa nos versos de “Noso Pai”: “Vem axiña que sangramos/ de rodarmos coma croios/ entre tétricos calvários”. E na “Plegaria das mans unidas”: “Ti sabes que nos faltan mans, Deus,/… pra sementármo-las gándaras de amor”.

Confiteor é um poemário ainda mais pessimista e fundamente rebelde contra um Deus ao que acusa de ter-lhe arrebatado injustamente o seu filho: “Ti si que faltaches, aberrante,/ roubándome aquel fillo…/ Ti si que es um traidor”. O poemário está também transido duma funda fé religiosa: “¿… non ves como por Ti este meu peito arde?”; “Tiven e teño sede, meu Deus…/… non hai odres/ que calmen esta febre divinísima”. Pero aqui o poeta chega a dizer: “Acúsome, meu Deus, de te matar/ hai moitos anos, moitos, ó segares/ con premeditación e aleivosia/ aquela supernova desbordante”. Porém, logo, após ter dito noutro poema “non perdin a fe/ nin as ansias do alén”, conclui com os versos; “Velaquí, meu Señor, o que gañei/ durante tantos lustros de labranza: unha alba plena neste alén florido/ e unha rosa que agarda esta chamada”. Em fim, o poemário tem também um “Credo” com magníficos versos como estes: “Creo en Ti/ por sére-la luz única dos parias, a redención total dos oprimidos”.

Gómez Alfaro vem ser a outra cara da poesia religiosa que faz Diaz Castro, a deste uma poesia mística.

[Este artigo foi publicado originariamente no Nós Diario]