A memória palestina em galego

Partilhar

Búscame.
Estarei nese azul
entre o ceo e a auga;
onde todo o tempo é agora
e somos para sempre,
fluido coma um rio.
Búscame
Onde sempre é de dia.
Non hai horas aqui,
no azul
entre o ceo e a auga.
Non hai países aqui.
Non hai soldados
Nin angustia nin alegria.
Só o azul entre o ceo e a auga.

As imagens de morte e destruição em Palestina golpeiam os nossos olhos e o nosso coração cada dia, a cada momento, com tanta força que não é doado escrever de outra coisa. Os nossos pequenos e grandes problemas de cada dia, na casa e na rua, as questões sociais e nacionais, são bem pouca coisa ante esta apocalipse de destruição dum povo que, ademais dum genocídio que seguimos quase em direto, é uma limpeza étnica que semelha seguir o anti-semitismo nazi. Até as ferozes imagens da guerra de Ucrânia, ou de Sudán, Somalia e Yemense nos quedam curtas ante os 20.000 mortos em dois meses, entre os enterrados e os esmagados que estão baixo os cascalhos; e o mais arrepiante: as 7.000 crianças. Custa-nos que a impotência que sentimos ante a violência inmisericorde dos sionistas judeus não se converta em ódio ao invasor; que o anti-sionismo com razões políticas e humanitárias não devenha anti-semitismo, pois o ódio significa entrar numa espiral de violência que nos destrói a nós mesmos. “Cada um de nós está a ser julgado espiritual e eticamente a través do espelho da Terra prometida”, escrevia Ramón Grosfogel em Nos. Mas já não nos quedam forças para seguir berrando com convicção como há anos “Palestina vencerá”.

Por isso, a leitura da novela O azul entre o ceo e a auga, da escritora palestina Susan Abulhawa, resultou-me atual e particularmente emotiva. O romance foi publicado no 2015 em inglês, e ao ano seguinte em espanhol e noutras 20 línguas mais; agora em galego na tradução de Rocio Viéitez (Laiovento). Duas mulheres para dar-nos uma magistral historia de mulheres, entre a dureza e a ternura, estarrecedora, mas cheia de humor, e, sobretudo, de resiliência. Uma visão crua, mas luminosa, do trauma político e pessoal dos palestinos.

O azul entre o ceo e a auga é o relato de várias gerações unidas pela tragédia, tanto em terra palestina coma norte-americana. A saga da família Baraka, entre 1947 e 2015; desde as duas irmãs Nazmiyeh e Mariam, Alwam -filha de Nazmiyeh- e a sua neta Rhet Shel, até Nur, nascida em USA mas que busca retornar às suas raízes gazaties. Desde o começo vemos a atualidade do romance. Esta família vive pacificamente num pequeno povo palestino de origem milenária: Beit Daras, a 32 quilômetros no noroeste de Gaza; mas no 1948, a milicia sionista Haganah, destrui o povo, assassina muitos palestinos e obriga os que quedam a fugir a Gaza. Este povo já não existe nem no mapa, mas para os palestinos esta masacre é um símbolo na Nakba: “O meu fogar é Beit Daras”, escreve o jornalista palestino Ramzy Baroud.

Nazmiyeh lembra a dureza de aquel ataque “destes novos soldados conquistadores ebrios dunha antiga virulencia que mesturaba a cobiza co poder de Deus” (58). E lemos o estarrecedor relato da sua violação, co assassinato da sua irmãzinha Mariam simplesmente porque os soldados não conseguiram que ela berrara quando a estavam a violar. “Os soldados entraron e sairon do seu corpo, arricandolle a vida”; mas o espírito da sua irmãzinha diz-lhe: “Algún dia, todo isto rematará. Non haberá mais horas, nin soldados… O único que importará será este amor”. Mariam será botada à fogueira com uma moréia de palestinos mais (65-67). Talmente os nazis.

Vinte anos depois, na Guerra dos seis dias (1967), “unha nova xeración de soldados sionistas” volve a Gaza do seu triunfo contra Egito, “un militarismo malévolo… infectado de poder e recuberto da suciedade da invasión”. O homem e os filhos maiores de Nazmiyeh são detidos; mais humilhação para o povo palestino, “uma nova rabia e um medo reavivado” (90-91). Um dos seus filhos, berra aos soldados: “Disparade! As vosas balas non podem tocar a minha alma! Non podem arrincar as minhas raices do chan desta terra que cobizades!”.

E quarenta anos depois (2008), o bombardeo israeli de Gaza era “un silencio que fitaba a um abismo mentres enterraban os seus mortos… A esperanza parecia vulgar nesta hora… Pero despois de enterrar aos mortos e de que caesen todas as bágoas, o tempo diluiuse ata converterse nun liquido sobre Gaza” (215-219). A violência sionista seguiu, mesmo matando gratuitamente crianças: “Nunca antes vira a soldados atraer a nenos coma ratos a una trampa e asasinalos por deporte” (281), uma cita que Susan Abulhawa toma de “A Gaza Diary”, do colega Chris Hedges. Pero Nazmiyeh ensina à sua sobrinha-neta Nur “como seguir adiante sen a amargura corrosiva que produce a rabia impotente” (287).

Remato estas linhas alentando o povo palestino com os versos de Celso Emilio: “Pode o corpo ser vencido,/ pode o dereito ser torto,/ mais o lume que alampea/ xamais o veredes morto” (Cimenterio privado).

[Este artigo foi publicado originariamente no Nós Diario]