Na passagem do latim ao romance, muitas consoantes mediais que estavam entre vogais desapareceram ou viraram mais fracas, dando lugar a muitos hiatos. Alguns deles fizeram uma crase e outros não. Muito, muito, muito tempo depois chegou o Acordo Ortográfico e alterou algum assunto com a acentuação…mas estamos a meter o carro antes dos bois. Comecemos pelo princípio: o latim.
Numa coisa assim de filóloga de trazer por casa, podem dar uma vista de olhos a este esquema.
VIDERE> Vedere> veer (medieval)> ver
VENIRE> vẽir> vĩir> viir (medieval)> vir
No segundo dos exemplos, o de Vir, podem ver que o que desapareceu foi a nasal intervocálica -N-, mas ao longo da conjugação de Presente ainda podemos ver como existe uma “recordação” dessa nasalidade.
VERBO VER: vejo, vês, vê, vemos, (vedes), veem.
VERBO VIR: venho, vens, vem, vimos, (vindes), vêm.
Isto da nasalidade pode ajudar para uma regra mnemónica: o verbo Vir é o de mais ditongos nasais: ele/ela vem; eles/elas vêm. Recordem que as palavras acabadas em -em também estão a representar um ditongo.
Este verbo fez uma crase na escrita e tem um acento circunflexo no plural para representar que ouve essas duas vogais iguais no passado. Isto acontece igual no verbo Ter, que também teve um -N- na origem: ele/ela tem; eles/elas têm.
No entanto, o verbo Ver tem nas terceiras pessoas este paradigma: ele/ela vê; eles/elas veem. Há um circunflexo também, mas só no singular, porque a vogal é fechada. No plural temos essa duplicidade de vogais, igual que em leem, creem, preveem…
Ainda sentem que isto é uma grande confusão? É, porque realmente a ortografia é uma cena muito arbitrária. É assim escrito, mas bem podia ser de outra maneira. De facto, o Acordo Ortográfico veio a mudar algumas coisas.
Mas não há impossíveis, armei-me em desenhista e fiz esta regra visual que penso pode ajudar.
Está na hora de uma canção de despedida. Deixo-vos com o Jorge Ben Jor, Obá, lá vem ela, uma das minhas preferidas.