Porque Portugal não se chama Galiza?

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Esta é o tipo de pergunta, que a imensa maioria das pessoas nunca se fazem, nem fizeram, nem farão, pois a cousa não é assunto simples que seja de interesse da Espanha e seu sistema escolar de nacionalização.

Se um perguntar na faculdade de história de USCompostela, receberia a seguinte explicação:

Porém, permitam-me que antes de dizer qual é a explicação, lembre que História como estudo/matéria, criou-se na universidade galega em 1927, na ditadura de Primo de Rivera, e foi-no após uma campanha mediática na imprensa madrilena e do sistema -na Galiza-, da necessidade de controlar os estudos de história, pois isso estava caindo em mãos “dos da antiespanha e dos separatistas”.

Na Galiza, no ano de 1923, nascera nessa universidade o Seminário de Estudos Galegos, e entre as suas funções estava o de aprofundarem no estudo da história da Galiza, além disso havia pessoal já estudando e trabalhando nesses assuntos, que encetara entre nós Vicetto no século XIX.

Desde a perspetiva castelhana, havia que pôr remédio a isso. Criou-se História na USC, com indubitável sucesso no controle, e respeito do Seminário de Estudos Galegos, a cousa também está bem controlada.

A explicação da universidade sob -égide e controle castelhano-, é simples: Havia um poderoso condado, o Condado Portucalense, que tinha uns interesses diversos dos da Galiza, e esse condado dos portugueses, em 1143 consolida-se como reino afastando-se do reino de Leão.

Há diversas monografias e estudos sobre Afonso Henriques, mas apuradas, veem dizer todas o que com a contundência teimada, Barroso da Fonte afirma, e há muito que se conhecia: Que quando a independência de Portugal, o Condado Portucalense já não existia, era já um simples remorso, fora suprimido pelo rei da Galiza, Garcia, após a batalha do Pedroso no 1071. Nessa batalha morreu o derradeiro dos condes de Portucale, Nuno Mendes.

O Condado Portucalense foi criado pelo crunhês Vimara Peres em 868, na cidade de Portuscale (Porto). (Todavia esse crunhês nada teem na sua cidade quem o lembre).
Os seus limites territoriais eram pelo norte, os da diocese de Tui com Compostela, Alhariz era fronteira do Condado, já que a Límia e toda e a bacia do Tâmega pertenciam a esse condado, logo no leste incluia da atual província do estado espanhol de Samora, as comarcas da Seabra, Carvalheda e o 70 % da de Aliste (Esse condado era um ente do reino da Galiza, e isso dá-nos já muita boa informação de por onde ia a Galiza pelo leste).

Nas lutas da Compostela de Gelmires, por arrebatar à Braga, cabeça religiosa da Galiza, essa condição de cabeça e o controle das dioceses e abadias, Compostela deseguida se fez com o controle da diocese do Porto, mas Braga nunca perdeu o domínio sobre a diocese de Tui, a primeira que converteu a nossa língua galega na língua de funcionamento e de documentação da diocese. (Até o século XIX bem entrado, a diocese de Tui abrangia todo o atual distrito de Viana do Castelo). -Se se fazer uma análise de como Castela/espanha foi modificando dioceses, daria para um bom tratado de glotopolítica-.

O pai de Afonso Henriques, Hernrique de Borgonha, nunca ocupou o cargo de Conde de Portucale. Pois morto Raimundo de Borgonha, do que dependia, passa a ocupar papeis secundários na Terra de Campos (os famosos campos galaicos dos romanos), e recebeu o encargo de ser senhor de Astorga. Ocupando esse cargo faleceu.

Se ele for Conde de Portucale andaria por aí de ator bem secundário (Barroso da Fonte, palestra no Ecomuseu do Barroso 2011, Montalegre).

Gelmires e a sua ambição (ibérica), colocou as traves para que o bispo Paio Mendes de Braga, usando o seu moço protegido e por ele educado Afonso Henriques, de-se lugar a que se dividisse a Galiza nuclear, e constituissem no sul um reino que levou e guardou a nossa marca, para grande fortuna de todos os galegos e galegas, mundo afora.

Tudo começou com a pequena batalha de São Mamede, cujos contendentes não passavam de uns 250 ou 300. Por um lado estava a mãe de Afonso Henriques, Teresa (a mãe era filha ilégitima do rei Afonso VI da Galiza), e foi casada com Henrique de Borgonha com 14 anos. Igual que todas as filhas de Afonso VI, -só Urraca realmente é legítima-, chamava-se de rainha, como explica José Mattoso, catedrático de Coimbra.

Quando passa a ser parelha e logo esposa (Mattoso), de Fernando Peres de Trava, estava na casa dos 20 anos). Fernando Peres de Trava aparecia como um agente de Gelmires, frente ao bispo Paio Mendes (convertido pela igreja de Roma em santo), e Afonso Henriques (convertido pela igreja de Roma em beato), que na altura, em que sucedeu a batalha teria entre 15 e 17 anos, como idade mais provável.

A Cousa não foi muito grave, pois como Mattosso bem destaca, a sua mãe e Fernando Peres de Trava, vão ter pesença constante na corte de Afonso Henriques em Coimbra, e o Peres de Trava vai ter responsabildades nesse novo reino.

Como se chamavam os moradores desse novo reino? Pois de uma só maneira, galegos. Não procurem a palavra portugueses que não aparecerá por nenhures.

No romance de Saramago, História do Cerco de Lisboa, Diz Saramago, nós os galegos conquistamos Lisboa, pois ninguém em Portugal se chamava de português. NINGUÉM (ainda que português e galego, tem a mesma origem).

Nos documentos dos tombos portugueses aparece o sintagma de reino de Portugal, mas não aparecem portugueses.

Teixeira de Pascoaes é um galego de Amarante, nascido no paço familiar e feito doutor em Coimbra, mas sempre foi muito consciente da sua galeguidade, pelo que travou um intenso relacionamento com gentes da Galiza de aquém da raia.

Ele escreveu muitíssimo, na sua prosa ela bem galaica. E dentro da sua obra há não poucos artigos dedicados a natureza e formação de Portugal. Ele diz, Portugal formou-se no Alentejo, foi no Alentejo e logo na Estremadura, onde primeiro se chamou o pessoal a sim próprio de portugueses. Foi no Alentejo e a sua raia com Castela pouco definida e de constantes batalhas onde se forjou Portugal e os Portugueses.

Portugal formou-se no Alentejo, foi no Alentejo e logo na Estremadura, onde primeiro se chamou o pessoal a sim próprio de portugueses. Foi no Alentejo e a sua raia com Castela pouco definida e de constantes batalhas onde se forjou Portugal e os Portugueses.

No Alentejo nos fins do século XIII todo o mundo era português, no norte do Tejo, todos seguiam sendo galegos. Na Beira e no norte a condição de afirmar-se galegos continuou por bem tempo, e isso que desde os séculos XIV/XV há uma posição de estado de naturalizar a todos de portugueses, mas são inúmeros os documentos de Porto, Viseu, Vila Real, Braga etc etc, onde o pessoal se segue afirmando de galegos e a sua língua o galego. No museu diocesano de Viseu há um documento de século XVI bem andado, onde se aponta, nós galegos…

Descobriu-se o Brasil, e lá migravam portugueses, afirmando-se galegos (Manuel de Nóbrega), como põe de manifesto documentos da altura, e levando a gaita de foles, o instrumento mais popular do Brasil até a Monarquia de Pedro II (E o carro galego, que no Brasil chegou ao seu máximo desenvolvimento).

Para o Brasil os galegos do estado espanhol começaram a emigrar a partir de 1860, mas como aponta Lilia Moritz Schwarcz, a grande historiadora cultural do Brasil, a fins do século XVIII começos do XIX, já era um fato consolidado no Brasil a identificação da palavra galego como branco frente aos pretos. (Estando eu em São Paulo num concerto de Uxia com Socorro Lira, a autora da canção Portugaliza; a Uxia dirigia-se ao público como galega e falando da sua língua galega. A Socorro interompeu-na, e dize-lhe: Deixe de falar disso que ninguém entende, como é você quando fala moreno…, fale do seu português da Galiza e todos saberão qual é o assunto. A genial Uxia, já não se apeou mais do seu português da Galiza)

E no Brasil atual falas da Galiza e eles rapidamente te falam de Porto, Coimbra, Braga Viseu etc, e os de Porto todos seguem a ser chamados de galegos em Lisboa.

Não é até depois de 1730, que começa a grande migração da Galiza do aquém-Minho a Portugal, (antes de 1580 o intercâmbio era das classes altas que partilhavam parentescos por cima de raias políticas), e pouco a pouco, sobre todo em Lisboa, -o destino principal-, que se começa a descobrir uns galegos, que falavam português (a galega), e que vinham do reino de Castela. Na altura era reino de Castela, Espanha não existia. Portugal após 1640 é um estado de costas viradas ao resto da península.

Braga, morto Gelmires começou com João Peculiar a recuperar a cabeça da igreja da Galiza toda, e agas Compostela e suas dependências, muito menores do que se pensa, Braga voltou a ser cabaça da igreja na Galiza. Quando a Doma e Castração do reino da Galiza, se submete a igreja à Valhadolide, isso fai-se tirando a competência a Braga, mas disso estejam seguros que nada se estudará na USCompostela, nem de que o reino de Portugal, tinha uma política até 1476 de reunificação da Galiza (Oliveira Martins), e que o reino da Galiza até Afonso VIII, teve uma política de reunificação do povo galego (Fco. Rodrigues).

Afonso V de Portugal foi proclamado como rei da Galiza (1475), e isso é a isca da política terrorista castelhana de Doma e Castração, não o apoio a rainha legítima Joana, frente a Isabel I, A Usurpadora.

Afonso V de Portugal foi proclamado como rei da Galiza (1475), e isso é a isca da política terrorista castelhana de Doma e Castração, não o apoio a rainha legítima Joana, frente a Isabel I, A Usurpadora.

Bom, e se eram galegos todos e como tal se afirmavam, porque não se chamou Galiza?

A cousa é muito simples, ainda que na USCompostela, não vaiam a esclarecé-los.

É porque existia um reino que se chamava Galiza (e como em aqueles anúncios da prova do algodão) reino da Galiza, que tinha na altura de cabeça a Afonso VII, e não podiam usar um mesmo título.

Se for Afonso VII o consolidador do novo espaço territorial, e Compostela e contorna ficarem fora, sabei de jeito bem seguro que nós hoje não usufruiríamos o nome de Galiza….logo passou o tempo, Castela colonizou-nos e capou-nos e nós somos súbditos do reino e colónia de Castela/Espanha, e os portugueses…, (Portugal e uma palavra que soma porto e galegos), não são espanhóis.

Nota bene 1:
Na Galiza colonizada por Castela, há umas quantas aldeias que se chamam de galegos.
E como é que na sua própria terra colocavam essa definição a essas aldeias, isso é contra natura?

A cousa é muito simples, ainda que o termo Galiza era muito alargado no espaço, o termo galego com a plena natureza de tais, era, na alta idade meia, privilégio só dos moradores da zona que vai dos rios Lima a Douro, com o seu centro em Braga. E quando moradores desta zona se deslocavam e instalavam noutras partes, davam aos novos lugares -o nome de galegos-. Essas aldeias, muitas delas pelas Marinhas, correspondem a emigrantes da zona antes citada.

Nota bene 2:
Como Castela/Espanha controla.

A deputação da Crunha, desde a área sob mando Bloco, organiza em setembro umas jornadas sobre história galega medieval. Eu ia me inscrever. Mas após ler o programa acho que não paga a pena.

Essa Galiza medieval está absolutamente controlada pelos ILG-RAG da historiografia, é dizer a faculdade compostelana, e enquadrada numa visão espanhola, da Galiza região, até participam os malandros do IEG Padre Sarmiento.

Já sem assombro percebo que não há nada do que é conflito com Castela/Espanha, como foi o processo terrorista da nossa Doma e castração. O elemento mais determinante da nossa história.

A Desmemória é o grande problema da Galiza, e este congresso bate no ferro para que isso continue sendo assim, e aqueles que se podem chamar nacionalistas fazem-no desde posicionamentos neocompostelanistas.