Outro divino sainete

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O final do passado curso letivo foi especialmente estranho no Conservatório Profissional de Compostela. Depois duma série de atentados contra a direção, contra membros do professorado e contra o próprio centro, encerrava-se o último trimestre com o espectáculo oferecido por um grupo extremista bilingue que deixou cair algumas das suas frechas sobre o sofrido lombo da Equipa de Dinamização da Língua Galega (EDLG).

A direção do centro, agindo como capitão de barco, protegia o professorado e o trabalho da EDLG da tormenta que se formava nos céus administrativos. Ali, no Olimpo burocrático, tinham-se perdido os papeis e, no canto de abrir o guarda-chuva legal para amparar os seus administrados, os Zeuses de turno prestavam ouvidos às más línguas bilingues que puxavam como ventos irados para causar desgraça.

Finalmente, com base em ameaças e desencontros, a administração forçou a demissão do diretor e, depois dum período de inércia, começou uma etapa de incerteza em que o conservatório ficou ao pairo por os Zeuses não quererem aceitar a nova capitã que @s marinheir@s tinham votado. Já se sabe que no Olimpo umas cousas demoram e outras não são como pensamos.

Então desaceitaram o parecer do claustro, do conselho escolar e da associação de mães e pais, e dedilharam o seu candidato à nova direção. Isto tudo coincide misteriosamente com a próxima aplicação da lei Wert que, entre outras piratarias, modifica o sistema de acesso às direções dos centros educativos. Mas, sem assumir a existência dalgum divino interesse em promocionar este ou aquele candidato, sendo a administração tão soberanamente preguiçosa, por que raio iam meter-se nas procelosas águas da virada a contracorrente?

As atividades desenvolvidas durante dous intensos cursos: os concertos e recitais do alunado e do professorado dentro e fora do centro, as conferências, os ciclos de câmara e de órgão, as colaborações com outras entidades, o trabalho e originalidade na programação de música galega, a presença dos grupos orquestrais na cidade, o dinamismo musical despregado não foram razões suficientes para reprimir o capricho dos Zeuses, mais acostumados com a austeridade laboral.

O conservatório precisava duma mudança, diziam desde os céus. Mas no fundo… que incógnitas guardarão as divindades administrativas? Chegaremos a entender por que o Olimpo interrompeu o bom desempenho deste centro educativo? Qual poderá ser o final do processo de substituição diretiva que, contra vento e maré, a administração leva para a frente?

Desde então, e seguindo o vate Curros, creio ou não creio…, mas duvidar já não duvido.

Artigo publicado originalmente no n.º 139 do Novas da Galiza, na seção ‘Língua Nacional’