Na passada sexta-feira, dia 22 de julho de 2022, a TVG publicou na web do seu programa “Digocho eu” um vídeo fake em que explicava que a letra ñ é genuína galega e que o dígrafo nh nunca foi uma grafia galega histórica. O vídeo apoiava-se para estas afirmações numa transcrição moderna do documento medieval intitulado Foro do bom burgo de Castro Caldelas, datado ca. 1228, querendo fazer passar a transcrição moderna por uma prova do que diz o documento original.
Que non che conten contos! 😌 O ñ é unha letra totalmente galega e con moitos séculos de historia. 😊 #DígochoEu E é falso que se empregue por influencia do castelán. 👉 https://t.co/w5hMeqx7EH pic.twitter.com/QDcTwsCoCu
— #DígochoEu (@DigochoEuTVG) July 22, 2022
Quando o vídeo fake foi divulgado na rede social Twitter (@DigochoEuTVG), a resposta [email protected] usuá[email protected] foi contundente, demonstrando com as fontes originais que a informação dada era falsa. O que demonstra que o programa não realizou bem a sua tarefa jornalística ou, no pior dos casos, emitiu de propósito uma mentira.
Assim, o usuário Abraão d’Orraca mostrava o manuscrito original mencionado no vídeo da TVG, onde se comprova que não é certo o uso da letra “ñ”:
Sinto-o muito, @esther_estevez_, mas o que tiveste que dizer nesse vídeo é, simplesmente, falso.
Se olharmos a fonte original (e não a transcrição duma pessoa a fazer trapaça no solitário), havemos ver que no fragmento que mostras no segundo 9, não há ñ nenhum. pic.twitter.com/jsaVrQLI8t— o Abraão d’Orraca ☭ (@abecualann) July 22, 2022
A imagem completa no tuíte anterior com os três exemplos no original, onde se vê que em nenhum caso se usa a letra “ñ”:
Mais usuá[email protected] reagiram ao vídeo fake, aduzindo outras fontes e argumentos próprios do estudo histórico das línguas:
“Nunca foi unha grafia galega histórica”
Ok pic.twitter.com/zhwkrwAVGr— N. (@noevs1) July 22, 2022
Nunca foi unha grafia galega histórica” pt. 2 pic.twitter.com/RbBRjfuUt3
— N. (@noevs1) July 22, 2022
“Ñ é galego, nh/lh copiarom os pt do provençal blabla😌”
ORIGE DA GRAFIA NN/Ñ: EMPRESTADA, 100% CASTELHANO-LEONESA
Gal-port: “aNNus->aNo”
Castelhano: “aNNus->aNNo(aÑo)”
Nom hai palavra latina com NN ou LL que no gal-port se tornasse palatal. Todas simplificarom em “N” e “L” pic.twitter.com/BcJkJDn0tS
— N. (@noevs1) July 22, 2022
Não é verdade o que dizes. O uso sistemático do ñ na escrita em galego começou no século XIX. O que contas da Idade Média são exceções e hesitações de uma língua em formação sem ainda uma gramática, nem norma ortográfica.
— Isabel Rei Samartim🎗 (@isabelreibr) July 22, 2022
Está fatal explicado, non nos contes contos. En “annus > anno” o nn representaba o fonema Ñ en castelán (año) e N en galego (ano). Que houbese esa letra non nega que se normalizou pola castelanización. Mendinho (que o podes ler “mendiño”) era de Vigo.
— homeroteco 🔻 (@homeroteco21) July 23, 2022
Se o “ñ” é galego, tamém será o “ç” ou o “j”, que passou com eles?
— Roribérto (@roriberto) July 22, 2022
À parte da transcriçom falsificada de @QuiqeMonteagudo que
gostades de empregar, e nom da original… Pq nom falades de grafias galegas históricas e agora atuais como o “j”, o “g”, o “ç”, o “lh”… Ou do fonema
“ũa” no Brasil. O vosso linguista que passe fazer as tarefas à casa.— Maçã
Farinhenta (@prrhijos) July 22,
2022
Entón podedes explicar porque neses mesmos
documentos que usades como argumento úsase o ç e o lh mais no galego RAG non? Será casualidade
que o ñ esté no castelán e o ç e o lh non? pic.twitter.com/5WTbRCwJdE— O Fran P.
🛰🏳 🌈🇪🇺🇺🇦🕊 (@VarelaAltamira) July 23,
2022
A questão de fundo é o uso da mentira para defender a falsa “galeguidade” do ñ. Faltou fidelidade ao original na transcrição moderna e honradez na redação da notícia. Na defesa da nossa língua tudo soma. Tudo, menos a mentira. As pessoas temos direito a receber uma informação veraz e as jornalistas a realizar o seu trabalho com dignidade.
Não queremos #FerrerasGate na Galiza.
Por último, assinalar que a letra castelhana ñ só adquiriu entidade ortogramatical quando foi incluída na primeira gramática dessa língua por António de Lebrixa em 1492, e não foi até 1803 que entrou pela primeira vez nos dicionários de Castelhano.
[Esta notícia foi elaborada por Isabel Rei Samartim e Abraham Herrero Menor]
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