René François Ghislain Magritte (Lessines, 21 de Novembro de 1898 ― Bruxelas, 15 de Agosto de 1967) foi um pintor surrealista belga famoso polas suas engenhosas e provocadoras imagens com as que procurava mudar a percepção precondicionada da realidade.
Assim, com o seu trabalho, Magritte dotou o surrealismo duma carga conceitual baseada no jogo ambíguo entre as imagens e o seu significado designado através das palavras.
Nesta linha, entre os anos 1928 e 1930, René Magritte investigou as relações e contradições entre as palavras, as imagens e os objetos para os que aquelas referem. Assim, em «La Trahison des images» (1928-1929) [‘A traição das imagens’] retratou muito pormenorizadamente um cachimbo e, por baixo dele, com similar precisão escreveu: «Ceci n’est pas une pipe» [‘Isto não é um cachimbo’].
Afinal, existe uma vontade evidente de explorar e pôr em causa a ambigua relação entre texto, objeto icónico e objeto real. De facto, a confusão entre a parte verbal e a icónica fornece uma interessante pista sobre a medida em que a pintura quis designar o objeto «cachimbo» com a palavra «cachimbo». Assistimos, portanto, a uma verdadeira revolução semântica.
Cara a uma redefinição da palavra «cachimbo»
A pintura pula assim por uma redefinição duma palavra que, parece, está em discordância com o objeto que representa. Noutras palavras, esta confusão provoca uma revista de todos os significados, estereótipos e clichês inerentes na palavra “cachimbo”.
Com efeito, o termo em questão está carregado de diversos significados, além da designação da função primária do objeto (o tabaco, o fume, etc.), e acrescenta alguns outros, como os efeitos adversos à saúde, vaidade … .
Pois logo, tudo quanto escrevi aqui não é português… é galego.
Notas:
[1] Para a redação deste escrito baseei-me em grande medida nesta análise da pintura disponível na internet.
[2] Declarações do próprio René Magritte sobre a pintura:
«La fameuse pipe, me l’a-t-on assez reprochée ! Et pourtant, pouvez-vous la bourrer ma pipe ? Non, n’est-ce pas, elle n’est qu’une représentation. Donc si j’avais écrit sous mon tableau « ceci est une pipe », j’aurais menti !»