Ecce Lingua

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PRIMEIRA PARTE

Numa pequena vila perdida da Espanha havia uma igrejinha com uma pintura mural que, mália não repararem muito nela, era apreciada pola comunidade local.

Porém a passagem do tempo tinha ido deteriorando e apagando a pintura. E por isso, o pároco da igreja, com o conhecimento e a aprovação das autoridades competentes, decidiu pedir à senhora Cecilia  que realizasse uma restauração da pintura. A senhora Cecilia era afeiçoada à pintura, já tinha realizado alguma intervenção muito bem valorizada polos paisanos… e mesmo tinha feito algum curso de pintura!

A Cecilia, afagada polo encargo e muito voluntariosa, pôs-se a trabalhar de imediato com a melhor intenção. Desempoeirou os pincéis e as broxas que já usara em anteriores ocasiões e pôs-se ao choio. Bem de início o assunto começou a complicar-se mais do esperado. Cada traço que a Cecilia acrescentava à pintura fazia com que aquela tomasse um aspecto mais estrambótico e afastado do original.

Ela, contudo, aguardava um pouco angustiada que em algum momento acertaria com o traço preciso que devolveria o esplendor original à pintura. O pároco, que observava os “progressos” do trabalho de restauração, não se preocupava lá muito, desde que era uma pintura à que ele nunca lhe concedera grande valor, e continuava a animar a voluntariosa amadora no seu labor: “Continúe, Cecilia, continúe. Esto sólo puede ir a mejor. Ya verá como en cualquier momento encuentra el trazo justo para enderezar el trabajo”.

E a cousa continuou assim até que, cousas da modernidade e da internet, alguém tirou uma foto da “obra restaurada” e partilhou polas redes sociais. Aí surgirom os problemas.

eccehomo

A “restauração” atingiu primeiro repercussão local, depois regional e por último global, cruzando oceanos e continentes e passando a ser objeto de chacota mundial.

Houve contudo sisudos críticos e pensadores a fazer profundíssimas análises do significado, objetivo e alcance da singular restauração da obra.

E há mesmo quem tenha proposto investir cartos e abrir um “centro de interpretación” da obra…

SEGUNDA PARTE

Queria relatar uma outra história análoga, mas para poupar espaço e tempo, mudem “Ecce Homo” por galego, “Cecilia” por ILG-RAG, e “pároco” por Xunta de Galicia e aí têm uma história cuspidinha:

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/11/Martim_Codax_Cantigas_de_Amigo.jpg

http://image.slidesharecdn.com/rosaladecastro-110518144934-phpapp02/95/rosala-de-castro-5-728.jpg?cb=1305730827

 https://feismolinguistico.wordpress.com/

E também a explicação de como na Galiza passámos de ter uma Língua para ter uma “Ecce Lingua”.

FINAL

Por muito incríveis que pareçam, ambas histórias são reais.

Máis de Heitor Rodal