‘Full-spectrum Dominance’, que pode ser traduzido para galego como ‘superioridade’ ou ‘dominância de espectro completo’, é um conceito militar que define a consecução por parte de uma entidade militar do controle sobre todas as dimensões possíveis do campo de batalha, ao possuir essa entidade uma esmagadora superioridade de recursos terrestres, aéreos, marítimos, subterrâneos, espaciais, psicológicos e até bio- e ciber-tecnológicos sobre qualquer hipotético adversário.
Assim, a dominância de espectro completo inclui tanto o campo de batalha física – o ar, a superfície e a subsuperfície – quanto o espaço do espectro eletromagnético e as informações. Aliás, o controle implica que a liberdade e capacidade da força oposta para desdobrar os seus ativos e explorar o campo de batalha são totalmente restritas [1].
Levando a definição para uma linguagem mais coloquial, a ‘full-spectrum dominance’ é em verdade a posição de superioridade total de que dispõe um granjeiro a respeito dos seus cordeiros [2] e se falamos de ‘full-spectrum dominance’, também poderíamos falar consequentemente de uma ‘full-spectrum submission’.
Não sei se os estrategos militares terão analisado o caso da ‘full-spectrum submission’ [submissão de espectro completo] e menos ainda algum caso em que o presumido adversário adopta todas as decisões para ficar voluntariamente nesse estado como é o caso do conflito linguístico e cultural galego.
Porque, com efeito, dá para ver como na Galiza o bando que podemos denominar “castelhanista” [3] dispõe de “dominância de espectro completo” sobre o bando chamado “galeguista” [4] e como este teima maioritariamente em se autolimitar continuamente em todas as áreas e dimensões do conflito [cultural, linguístico, académico, educativo, económico, mediático, etc…] e como não desaproveita – sob qualquer sisudo argumento filosófico-ideológico que paralisa qualquer resposta prática – nem uma só ocasião para aprofundar nesse estado de submissão, fraqueza e prostração a respeito do bando castelhanista. [5]
Logo, dada a evidente e abrumadora supremacia no âmbito político, económico, mediático, etc… castelhanista, a pergunta imediata é se, para além de plantejamentos e tomas de posição ideológicas muito vistosas mas muito pouco efetivas, existirá nalgum momento vontade certa para nos deixar de comportar como rebanho de cordeiros ao inteiro dispor e mercê dos granjeiros que nos pastoreiam através do seu “full-spectrum dominance” sem mover nem um dedo porque já nós próprios nos desativamos sozinhos.
Notas:
[1] Department of Defense Dictionary of Military and Associated Terms (JP 3-0) page 96
http://www.dtic.mil/doctrine/new_pubs/jp1_02.pdf
[2] Joint Vision2020 America’s Military—Preparing forTomorrow
https://en.wikipedia.org/wiki/Joint_Vision_2020
http://www.offiziere.ch/wp-content/uploads/1225.pdf
[3] Aquele bando ou aquelas pessoas que defendem ou não têm qualquer objeção à substituição linguística do galego polo castelhano na Galiza
[4] Aquele bando ou aquelas pessoas que tentam impedir a marginação linguística e cultural galegas
[5] Essas tomas de posição vão do reconhecimento e aceitação da autoridade das instituições isolo-castelhanistas sobre a Língua, até a sua defesa contumaz [e suicida] e apesar de qualquer circunstância, agir e pronunciamento dessas mesmas instituições.
Outra autolimitação muito estendida e sucedida é a condena e a anatematização de qualquer iniciativa “não pública” [isto é, atualmente = “não estatal espanhola”], mesmo se esta for cooperativa ou comunal, como perversa trama criptocapitalista para a exploração das classes trabalhadoras que, consequentemente, devem ser combatidas e varridas.