Indígenas

Partilhar

rosalia
Rosalia de Castro

Poema lido no recital na honra de Rosalia na semana de fevereiro em que se celebrava o aniversário de seu nascimento.

 

INDÍGENAS

Quero ser indígena coma ti, Rosalia,
para salvar da morte a floresta.
Para louvar a terra escarnecida
para cantar aos pássaros no nascer do dia.
Vou ir contigo escutar
os rumores cantadeiros dos mil rios;
como o teu Sar
ou como o meu Minho amigo.

Pentearemos todas duas
os cabelos
em novelos
na beira da fonte fria
Com o  peite de prata da moura
da montanha estrelecida

Indígena sou coma ti
porque amo, malpocadinha,
a terra em que nasci

Língua de indígenas falamos
em quanto  lutamos
contra a cobiça que cavalga
sobre nossos verdes campos
e  nossas sagradas montanhas.

Indígenas somos porque gritamos
contra o poder insensato
que toda  a terra arrasa.

Como indígenas adoramos,
nossas pedras, nossas águas
nossos montes,nossas fragas.

E cantamos-lhe ao vento
que zoa entre as almas por milénios
trazendo
para nós o som
de quem aqui viveu,  amou, chorou
sobre as ervinhas dos campo-santos
da nossa terra vedralha.

Somos indígenas sofredoras
bravas, teimosas, lutadoras,
inconformistas, corajosas;
que coma ti comungamos
entre as folhas dos carvalhos,
com as raízes da Terra abençoada.

Vives em nós, mulheres da Galiza
a cantar e dançar alegres cantos
depreendidos no pontear esquivo
das Santinhas e as Santasas
Da nossa sagrada casa.

Em nós estás presente
quanto  berramos:
Na nossa Terra digno Trabalho!

Tu rompiches os travões,
as algemas que nos paralisavam.
Junto das nossas irmãs,
indígenas coma nós,
nunca mais  assovalhadas.

Agora o rio vai cheio
Nossa voz já não se para.

Rosalia: A ti, bem haja
___________________

Lugo, Fevereiro 2020