Carvalho, Rosalia e Prisciliano

Partilhar

Reunir num título este trio de ases pode resultar surpreendente para o leitor, que pode não encontrar a relação entre eles, salvo o facto de serem três vultos na história da Galiza.

Otero Pedrayo disse que “Prisciliano é uma poderosa individualidade, a maior, se calhar, que a Galiza gerou”; e Castelao afirmou que “o seu sangue… ainda hoje bule no fundo da alma galega”. Mas Rosalia não referiu nada sobre Prisciliano; embora ela sabia dele muito provavelmente devido ao que o seu marido Manuel Murguia escreveu na História da Galiza: que o vê como ilustre galego e referente duma religiosidade celta e cristã. No entanto, tal como aponta Mª Pilar Garcia Negro, pode ler-se a sua novela Ruínas como uma narração priscilianista. Mais ainda, podemos ver a Rosalia como quem “revive e ressuscita Prisciliano”; decapitado em 385, mil e quinhentos anos depois morre Rosalia (1885), que “colhe o facho que tão limpamente alumiou a vida do mártir e dispõe-se a empreender batalha ativa contra os negadores da Galiza” (V. Pérez, Prisciliano e o priscilianismo. Da condena à reabilitação).

Carvalho Calero também não escreveu sobre Prisciliano, salvo o pequeno trabalho “Prisciliano e Cotarelo”. Contudo, fez uma leitura de Pola –a sacerdotisa de La vocación de Adrián Silva de Otero Pedrayo– como herdeira do priscilianismo, segundo me tem confessado Carme Fez. Pérez-Sanjulián.

A relação que quero estabelecer aqui entre os três é a de Prisciliano e Rosalia como mitos necessários na identidade galega, além do seu valor histórico, literário e humano.

A relação que quero estabelecer aqui entre os três é a de Prisciliano e Rosalia como mitos necessários na identidade galega, além do seu valor histórico, literário e humano. Carvalho defende a importância do “mito Rosália” num trabalho com esse título recolhido em Estudos rosalianos. Defende o mito Rosália em frente do que chama “mito da desmitificaçãode estudiosos e vulgarizadores da poetisa; e fala na necessidade dos mitos: “O povo precisa de exemplares que personifiquem um ideal humano, porque o ideal é a luz que alumia as suas trevas”. Rosalia é o grande símbolo e mito da Galiza contemporânea.

Numa perspetiva semelhante, já tenho defendido e justificado a importância e o valor do “mito Prisciliano” para a Galiza e a cultura galega, e o direito dos galegos a reclamar com toda naturalidade este e outros mitos próprios na construção da sua identidade (Prisciliano na cultura galega. Um símbolo necessário).

[Este artigo foi publicado originariamente no Nós Diário]