Mas o caso é que eu escrevo em reintegrado ou galego internacional e isso há algum tempo seria impensável (poder concursar). Patrocinado o ato polo jornal El Progresso de Lugo e mais pola Vice-presidência de Cultura da Deputação. Este último organismo em mãos do Bloque, é bastante aberto pelo que diz a respeito da normativa. Não faz perseguição dos dissidentes como o somos tantas de nós, e como aconteceria de ser o PP a governar o ente provincial. Entre o pessoal do Progreso é maioria a gente jovem. E, indubitavelmente, este sector é totalmente tolerante com a normativa. Por isso a minha poesia superou os atrancos e vincou para conseguir o segundo prémio da convocatória das Letras Galegas, primeira que fazia o nosso jornal Lugués.
Estes dias andam algumas pessoas a discutirem acerca da “pesadez” e do aborrecido de escutarem aos reintegracionistas e de ver escritos e murais pintados sobre as ideias linguísticas de Carvalho Calero, por lhe terem dedicado a este o dia das Letras Galegas. Eu vejo que estas pessoas são já idosas. Pertencem ao passado. Não digo que a gente nova escreva em galego internacional. Não. Eles apreenderam nas aulas de galego a norma da Xunta, ou de Galaxia, ou de Filgueira Valverde ou do ILG. de tantos velhos que já vão caducos. Muita desta juventude sai do instituto e, mesmo dos estudos universitários, sem saberem nada das lutas pola normativa nem do reintegracionismo, polo que deduzo que também pouco sabem de Carvalho Calero. Eu faço a reflexão de que é o próprio sistema educativo quem limita as capacidades das pessoas para serem livres pensadoras. Terem espírito crítico. Adquirirem pensamento alternativo e capacidade de dis sentir. O sistema tolhe a criatividade e não fomenta a investigação e a curiosidade que é a característica mais distintiva dos mamíferos e , nomeadamente, do Homo Sapiens. Mal vamos com uma universidade falta de criatividade e de curiosidade. Que não forma professorado capacitado para sair-se do rego. Do discurso oficial. Creio que terão que mudar seus paradigmas e seu quadro epistemológico. Para entrarem no século XXI como lhe compre a Universidade galega. Mesmo assim a gente nova tem mais abertura de critério que a geração anterior. Tenhamos pois esperança.
Vai logo a poesia que era o ponto de partida deste discurso.
Dedicado a minha Curmã Araceli Herrero Figueroa a quem muito boto em falta.
ODA Á (o) COROA
( Porque não gosto de Coroas quer virais quer das outras)
Conheço-te e tu não o sabes.
Sei de ti
ainda não te vendo.
Nem me assombras, nem me assustas
a mim não me metes medo.
Sei que andas polo ar perdido,
vagando entre fundos abismos
procurando
um porto em que agarrar
tuas gaçoupas de visgo.
Ancoradouro traidor
será aquele que te prenda
Andas a ajejar silente
no escuro com teus vácuos olhos
flutuando no ar aboiado
ou alastrando-te no solo.
Prendes-te no vento,
sorrateiro, dum espirro
e no cantar imprevisto
dum naquinho d’ alegre riso.
Mas eu conheço-te.
Não me enganas,
Somos velhos tu e mais eu.
Não tendo olhos encontras-me
não tendo olfato me tens
prendido nos meus sentidos
invades todo o meu ser.
Ancoradouro traidor
será aquele que te prenda
No decurso dos milénios
evoluímos no-los dous
eu levando-te comigo
traiçoeiro tu
penetras-te meu interior,
sem amor
sem compaixão.
Neste percurso vital
inevitáveis,
companheiros,
par-a-par na inspiração.