25 de julho: Dia de Galiza

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Das longas e bretemosas saias do apóstolo, como duma montanha, roda majestosa a célula da identidade galega. Do alto interior desce às ribeiras para descansar nas rias lenes do verão pensando-se a si mesma. O tempo comum, o espaço comum, a língua comum. A língua que nos é própria porque é de quem a usar e imprópria porque pertence a tod@s.

Enfrentamos um dilema, a ressaca da história colocou-nos num estranho double-bind que hoje bem conhecemos: Com Portugal temos uma relação cultural e linguística forte com uma política fraca. Com Espanha temos uma relação política forte com uma cultural e linguística que nos enfraquece, que nos condena à desaparição. Aprofundar no mesmo sentido essas relações aperta mais a corda ao pescoço e, quanto mais puxamos, mais nos afogamos. E ficamos sem voz.

Escudo Castelão SereiaTemos necessidade de inventar outras regras e uma outra relação com a política, essa sonhada autoajuda coletiva que nos devolva as palavras e os espaços comuns. Temos a obriga de participar mais, de ser mais flexíveis e de evitar a congelação burocrática dos nossos anseios. Quem diria que algo tão ordinário como a Normalização seria tão rebelde e nos levaria extraordinários tempos, esforços e dinheiros…

Hoje já não servem as leis das décadas de 80 e 90. O século XX envelheceu de súpeto quando Galiza se mostrou, novamente, como sujeito político próprio. Agora devemos repensar a função da identidade numa sociedade batida pelas dívidas e o empobrecimento. Antes os foros, hoje os FMI. Por um lado, a situação provocada pela oligarquia económica nos convoca à solidariedade entre as nações peninsulares e doutras partes da Europa. Por outro, a terra nos chama e indica as suas necessidades específicas.

Teremos a possibilidade de colaborar com quem nos pede colaboração se não cairmos na sempiterna culpação de Castela. As gretas no muro provêm hoje dessa direção. Como uma gigante vermelha que colapsa, a ruína da velha Espanha entra em derrubo desde o seu centro de gravidade. Devemos é acompanhar o processo, ajudar nele e rubricar um novo e diferente começo, talvez independente se assim o decidirmos.

Nesta também sociolinguística crise já imos entendendo que a grafia é mais um método de dominação política e económica. Que insistir nos modelos que nos ataram ao isolacionismo nos leva ao fundo da história. Que utilizar a língua comum nos reforça e impulsa na construção do próprio caminho. Que a gente decente já não questiona o seu uso normal nem pede para fazermos as cousas da velha maneira.

No dia de hoje @s galeg@s fundimo-nos no abraço e invocamos a nossa sensual identidade, fazemo-nos corpo social, sabendo que no futuro próximo o sentido da nossa participação determinará a radicalidade da mudança.

Opinião publicada originalmente no n.º 150 do Novas da Galiza, na seção Língua Nacional.