Viqueira reintegracionista

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Xohán_Vicente_ViqueiraJoão-Vicente Viqueira foi um escritor e professor galego de grande influxo nas jovens gerações intelectuais da Galiza pelos anos 20 do passado século. Ia ser o grande filósofo galego, junto com Angel Amor Ruibal e Risco; mas, infelizmente, morreu mui novo (1886-1924). Foi enterrado civilmente, pois não era um católico praticante; mas –como tenho escrito no Diccionario do Pensamento Galego– o elemento religioso tem uma presença mui importante nele: “A religião compreende a vida inteira do homem –escreve–… É o mundo das infindas esperanças e possibilidades” (Elementos de Ética e História da Filosofia). Em Tres notas sobre Religión chega a dizer que “a ausência da religião levará ao desfondamento do nosso ser”.
Mas, o que hoje quero salientar em Viqueira é o seu compromisso reintegracionista. Escreveu frequentemente sobre a pertença da Galiza à área lusófona; “por vezes até pormenores concretos e práticos”, di J. M. Montero Santalla (“Mil anos de identidade linguística galego-portuguesa”).
Num memorável texto escreve: “O português é um filho do galego, e entre os dous não há mais capitalmente que diferenças fonéticas, que não são tão grandes quiçá como as que existem entre o andaluz e o castelhano. Se nós empregamos a ortografia histórica galaico-portuguesa teremos salvado a dificuldade que separa as duas línguas e daremos ao galego um caráter mais universal… Foi um mal da literatura galega isolar-se mediante a sua ortografia. Escrita com ortografia portuguesa houvera corrido mais facilmente o mundo, e isto teria influído na vitalidade do nosso idioma e do nosso povo” (Ensaios e poesias).

Escreve Viqueira: “O galego é uma forma do português (como o andaluz do castelhano), tem-se que escrever pois como português. Viver no seu seio é viver no mundo; é viver sendo nós mesmos!”

Mais ainda, no mesmo lugar escreve Viqueira: “O galego é uma forma do português (como o andaluz do castelhano), tem-se que escrever pois como português. Viver no seu seio é viver no mundo; é viver sendo nós mesmos!”. E insiste no da ortografia portuguesa, sem óbice para as peculiaridades do galego: “Insisto muito no da ortografia, porque ela terá, unida à purificação da língua, uma virtude mágica: fará da nossa fala campesina, isolada e pobre, uma língua universal de valor internacional e instrumento de cultura”.

[Este artigo foi publicado originariamente no Nós Diario]