Violetta Valery

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A ópera nasce a princípios do século XVII fruto do interesse duns intelectuais italianos ligados a um grupo chamado Camerata Bardi. Sabiam que os dramas da Grécia clássica se representavam cantados, e trabalhárom por encontrar uma fórmula que lhes permitisse recuperar o género. O mito de Orfeu foi o predileto para levar à cena musical, como figêrom Jacopo Peri, Giulio Caccini e, sobretudo, Claudio Monteverdi. Durante quase dous séculos a ópera vai-se surtir fundamentalmente de temas mitológicos até a chegada do Romantismo quando se incorporam também histórias procedentes de diversos períodos do passado.

 

Giuseppe Verdi era uma pessoa comprometida com o ser humano do seu tempo, além duma figura de grande carga simbólica no processo de unificação da Itália. Isto provocou-lhe não poucos problemas com a censura. Em Un ballo in maschera tivo de substituir a figura dum rei por um governador pois considerava-se inaceitável levar um regicídio ao palco. Em Rigoletto o vicioso rei de Victor Hugo passou a ser um duque.

O libreto de Francesco Maria Piave recolhe o fundamental de A dama das camélias de Alexandre Dumas, isto é, uma história contemporânea duma prostituta de alta sociedade que morre sozinha e abandonada por causa da hipocrisia da época. E esta alta sociedade foi a que assistiu à primeira representação de La Traviata no teatro La Fenice de Veneza em 6 de março de 1853. A estreia foi um autêntico insucesso, talvez por uma conjunção de maus intérpretes e dum tema que retratava algumas das misérias da sociedade do momento.

Mas para Verdi esta história não significava apenas o drama duma mulher doente e abandonada senão que representava também a sua situação pessoal. Após a morte da sua primeira mulher e as duas crianças num período muito breve de tempo, o compositor começa uma relação com a soprano Giuseppina Strepponi mas sem chegar a casar com ela. Apesar do prestígio que alcançaria mais adiante Verdi, este facto nunca foi visto de bom grado pela sociedade.

Do ponto de vista vocal, trata-se duma personagem duma dificuldade máxima. Embora a maioria das cantantes femininas sejam sopranos, existem diversos tipos dentro destas. Por exemplo, uma soprano que tenha a voz particularmente ligeira e apta para filigranas e agilidades vocais chama-se soprano coloratura. Se se trata duma voz um pouco mais redonda e capaz de oferecer grandes fraseios com consistência, denominaria-se lírica. Finalmente, chamaríamos dramática a uma cantante com um timbre mais escuro e com ampla sonoridade capaz de ultrapassar o som duma grande orquestra.

Independentemente das preferências pessoais, ninguém questiona a maestria da Callas interpretando a Violetta e proponho esta versão do “Addio del passato” que canta a protagonista quando vê como a sua vida chega ao fim.

 

Addio, del passato bei sogni ridenti,

Le rose del volto già son pallenti;

L’amore d’Alfredo pur esso mi manca,

Conforto, sostegno dell’anima stanca.

Ah, della traviata sorridi al desio;

A lei, deh, perdona; tu accoglila, o Dio,

Or tutto finì.

Le gioie, i dolori tra poco avran fine,

La tomba ai mortali di tutto è confine!

Non lagrima o fiore avrà la mia fossa,

Non croce col nome

che copra quest’ossa!

Ah, della traviata sorridi al desio;

A lei, deh, perdona; tu accoglila, o Dio.

Or tutto finì!

Adeus, belos sonhos ridentes do passado,

as rosas da minha face murchárom;

o amor do Alfredo é o que me falta,

conforto, sustento da alma cansa.

Ah, sorri ao desejo da perdida;

a ela perdoa; acolhe-a, Deus,

já tudo acabou.

As alegrias, as dores em breve terão fim,

A tumba separará-me dos mortais!

Não haverá lágrimas nem flores na minha fossa,

nem uma cruz com o nome

que cubra estes ossos!

Ah, sorri ao desejo da perdida;

a ela, perdoa; acolhe, Deus,

já tudo acabou!

 

 

Máis de Eliseu Mera