Suponho que resulta familiar ouvirmos esta frase -especialmente em ambientes urbanos- a famílias decepcionadas poucas semanas depois de a sua filha ou filho começar a ir à escola, pois, o mínimo a que deveríamos aspirar é às crianças poderem falar na língua transmitida por pais e mães. Contudo, desde que começou a caminhada autonómica há quase quarenta anos continuamos a estar no mesmo cenário, e a pergunta continua a ser a mesma: que se pode fazer?
A resposta que mais costumamos ouvir consiste em culpar o sistema de ensino, alegando que deveríamos ir a um desenho com o galego como língua veicular exclusiva, assim todo o alunado teria esta língua como referência para falar de qualquer assunto e repercutiria nos seus hábitos quotidianos. Resolveria-se assim o problema?
As pessoas que trabalhamos em centros de ensino vemos que a causa do problema de uma criança abandonar o galego ao entrar na escola está mais na língua falada polas suas companheiras e companheiros do que na língua veicular do ensino. De facto, em ambientes galego-falantes resulta pouco significativo que o ensino seja maioritariamente em castelhano, pois fora das aulas o alunado continua a falar em galego. Igualmente, numa contorna de ausência de falantes de galego, mesmo que se produzisse uma presença total do galego nas aulas -circunstância pouco verossímil a curto e a médio prazo- dificilmente mudaria a língua dominante no pátio e na rua.
Forçar por lei o aumento de número de horas em galego pouco ajudou para manter a sua presença social.
Se detetamos que o problema se localiza ao se relacionarem as crianças só resta uma hipótese: criarmos linhas opcionais de ensino em galego. Assim, as famílias preocupadas por transmitirem a língua agrupariam as suas filhas e os seus filhos e poderiam manter a língua materna no pátio e na rua ao sentirem companhia. Isto é o que fazem as Escolas Semente com grande sucesso, pois permite que se mantenham falantes que, noutra circunstância, desapareceriam.
Fica claro que no sistema atual as crianças castelhano-falantes permanecem como tais e as galego-falantes deixam de sê-lo. É isto o que queremos que continue a acontecer?
A causa do problema de uma criança abandonar o galego ao entrar na escola está mais na língua falada polas suas companheiras e companheiros do que na língua veicular do ensino.
Agora viriam outro tipo de dúvidas. E se só uma parte pequena das famílias opta por esta via?
Se poucas famílias optarem por esta via, as poucas que forem, teriam uma possibilidade real de transmitirem a língua, o qual não está a acontecer agora.
Renunciamos a que o conjunto da sociedade assuma o galego como língua própria? Fica claro que o simples aumento do número de horas de matérias em galego ajudou escassamente a melhorar o conceito a respeito da nossa língua das pessoas instaladas no castelhano, e mesmo em muitas galego-falantes.
Isto significaria criarmos uma espécie de ghetto? Em absoluto, pois rapazes e raparigas continuam a se relacionar com outrem procedentes de diversos centros de ensino em atividades extra-escolares e mesmo dentro da própria família. Criaria-se um grupo de apoio para perceberem que falar galego é uma cousa mais comum do que pensam em pessoas da sua idade. É acaso melhor o cenário atual que leva as crianças a trocarem de língua por vergonha?
Como podemos, portanto, motivar as famílias para optarem por este caminho? Mostrando a realidade, que o galego é útil. Para isso, na matéria Língua Galega e Literatura de todos os níveis de ensino, junto com as normas ortográficas ILG-RAG (coloquialmente conhecidas como “galego normativo”) introduzirmos a aprendizagem do português. Deste jeito, qualquer moça ou moço galego teria um domínio total das duas línguas românicas mais faladas do mundo: galego/português e castelhano/espanhol.
Uma cousa que verificamos durante estes anos foi que forçar por lei o aumento de número de horas em galego pouco ajudou para manter a sua presença social. Também vimos que qualquer mudança legal que quiser permanecer no tempo deve ser fruto do consenso, em vez de maiorias parlamentares pontuais. Temos o precedente da Lei de aproveitamento dos vínculos com a lusofonia, mais conhecida como Lei Paz Andrade, aprovada por unanimidade em 2015. Esta via merece a oportunidade de ser explorada pois, se continuamos a fazer o mesmo, imos ter os mesmos resultados.