Um eco do prestígio carolíngio

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Num documento do ano 1404, o abade do mosteiro de Soandres apresenta perante os alcaldes do couto umha carta-ordem de Fernám Gomes, “alcallde de noso señor el Rey en a súa corte e seu allcalde mayor en o regno de Galiza”, para que se cumpram as disposiçons reais referidas às herdades que lhe foram usurpadas a este mosteiro, que contava com um grande património na que hoje é a comarca de Ordes. Um destes lugares que o abade pedia que fosse restituido ao mosteiro era o de Sam Pedro de Pipim, herdade citada na zona de Cerzeda e que, erroneamente, o historiador Manuel Lucas Álvarez considerou que nom se correspondia com nengumha denominaçom atual[1]. Porém, tem que tratar-se, com certeza, do atual lugar de Pepim, pertencente à paróquia de Mercurim, entom também património dos bieitos de Soandres.

Pepim ou Pipim é um topónimo que procede de umha altomedieval (villa) Pippini, vila rural, propriedade de um terratenente de nome Pippinus, mesmo nome que o do rei dos francos Pipino o Breve, pai de Carlomagno e fundador da dinastia carolíngia. Também se chamou Pipino o seu neto, rei de Hália, e outros dous reis da Aquitánia. Dauzet explica que o nome franco Pippinus deriva da raiz bibl- ‘tremer’, mas muito mais interessante que a sua etimologia é a história social deste antropónimo na Galiza: que houvesse senhores alto-medievais galegos chamados de Pippinus –como o que fundou esta aldeia de Mercurim-, explicam-no os estudosos polo grande prestígio que a dinastia carolíngia tinha em umha Galiza germânica que vinha de perder a sua independência a maos da Hispánia visigoda. Nom se esqueça que o rei suevo-galaico Mirom viajara até à Baskónia para pedir ajuda aos francos contra os visigodos, e que a aliança franco-sueva tivera grande importáncia[2]. Quem sabe pois, se entom, pôr-lhe Pipino a um filho nom seria algo assim como chamar-lhe hoje Jordi ou Carles…

O prestígio carolíngio na Galiza, tam popular no folclore e mitologia, também ressoa no topónimo de Pepim, que originou um apelido presente em vizinhos de Carral ou da Corunha. De Pepim de Mercurim informa Valentina da Vitória que conta com as seguintes casas: “a de Amor, a de Silveira, a do Zoqueiro, a de Crimente, a de Constante, a de Pepito, a da Estrella de Amor, e outra a meio fazer que é a primeira à esquerda quando se vai de Mercurim. Tinham moinho e havia um ferrador de vacas e de burras (o avô Antom levava ali a nossa burra)”.

[1] Manuel Lucas Álvarez, San Paio de Antealtares, Soandres y Toques: tres monasterios medievales gallegos, Sada, Ediciós do Castro, 2001. O documento nas págs. 222-224, e sobre Pepim as págs. 123 [mapa] e 130.

[2] X. L. Méndez Ferrín, 2007, págs. 264-266.

Mapa Pepin
Mapa de Mercurim
Mapa cerca Pepin
Mapa de Pepim

Publicado em Aldeias de Ordes, 12,03,2018.