Contra a mentira

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modou

O Cheikh Faye foi o primeiro a revindicar-se como senegalego, membro da tribo mestiça dos que som do Senegal e da Galiza ao mesmo tempo. Cheik vive desde 2003 na Corunha, e durante um par de anos trabalhou em Ordes na ferralha, até que um ERE – e o sindicalismo amarelo de por meio – rematárom com o seu posto de trabalho e o de outros companheiros mais. Cheikh também andivo ao mar e trabalha às vezes na feira de Paiosaco. Entretanto, é capaz de encontrar tempo para implicar-se também com as reivindicaçons galegas, como um membro ativo da comunidade, e de escrever um magnífico blogue que a Asociación Sócio-Pedagóxica Galega publicou em forma de livro: Ser modou modou. Nele recolhe os seus pensamentos e observaçons, salpimentandos com citas de Anta Diop ou Sédor Senghor, em que compara as maneiras de viver da sociedade galega e senegalesa, avaliando as suas diferenças mas também as suas surpreendentes semelhanças.

Num dos capítulos mais formosos Fayé fala da chamada “árvore da palavra”, por via de regra um baobab ou tamarinho, que havia no centro de todas as aldeias do Senegal, para que baixo a sua sombra a comunidade se reunisse para tratar dos seus assuntos. Na árvore da palabra faziam-se ritor protetores das crianças, das noivas que abandonavam a sua casa materna ao casarem, ou de qualquer vizinho que partia para umha viagem. Ali também se realizavam os ritos de passagem dos moços. No plano propriamente político, na árvore da palabra a comunidade mediava nos conflitos entre agricultores e gandeiros ou nas desputas polos lindes das terras, e repartiam-se comunalmente a navinha para a sementeira. Por mediaçom do Tono de Caiom (e que me perdoem os da Abelheira), amigo de Aldeias de Ordes que nos apontou que a Cunqueiro muito lhe sabera umha perdiz que papara no Nogallás, o Cheikh também soubo das árvores de concelho da Galiza, achando-as em todo semelhantes às do Senegal1.

Fayé fala da chamada “árvore da palavra”, por via de regra um baobab ou tamarinho, que havia no centro de todas as aldeias do Senegal, para que baixo a sua sombra a comunidade se reunisse para tratar dos seus assuntos.

Houvo umha destas árvores, segundo lembrava Antonio Fraguas, na freguesia de Calvos de Socaminho, na vizinha comarca da Arçua, situada diante da igreja paroquial, e que a finais do século XIX ainda acolhia as juntas de vizinhos da democracia galega. Chamavam-lhe, ironicamente, o Carvalho das Mentiras, e disque “polas necessidades do caminho, que se devia alargar para que pudessem passar as máquinas modernas, camions e tractores, arrincou-se”2. Seguramente trás muitos fitotopónimos que aludem a umha árvore singularizada, do estilo o Carvalho ou o Teixo, haja umha história esquecida de umha árvore de concelho.

Campo das mentiras mapa

Estando Socaminho tam perto da freguesia de Xanceda, o dito carvalho achega pistas para compreender o misterioso topónimo do lugar do Campo das Mentiras, hipótese que o companheiro Mero aginha confirmou:

“Respecto ao “Campo das Mentiras” de Xanceda, sei dos vellos que me contaron, que lle chamaban así por mor dos mandatrios do Axuntamento que sempre prometían – para facerse cos votos – e logo non facían nada. Algo moi parecido ao de hoxe. Seica, alí, antes das reunións dos concelleiros, falaban, como nas xuntas veciñais, para tratar o que logo non cumprían”3.

Algum dos vizinhos mais velhos de Xanceda ainda se deveu lembrar disto quando, nas últimas assembleias contra a conversom da paróquia numha macromina de seixo, ERIMSA infiltrou os seus homens a propagarem a mentira.

1Cheikh Fayé, Ser modou modou, AS-PG, 2017, pp. 113-114.

2Antonio Fraguas, prólogo à ediçom facsimilar de: Alberto García Ramos, Arqueología jurídico-consuetudinaria-económica…, Santiago de Compostela, Consello da Cultura Galega, 1989 (de. Original de 1912).

3Baldomero Iglesias Dobarrio ‘Mero?, carta pessoal de 24 de fevereiro de 2017.