Cestos e castros?

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Umha nota sobre castros redigida por Isidoro Millán González-Pardo parece deitar algo de luz sobre os topónimos da Cestenha (Vila Maior) e Cestanhos (Parada), mas o que vem a continuaçom som especulaçons que só umha especialista nos poderá aclarar. Estudando a presença na toponímia galega do étimo céltico correspondente à atual palabra irlandesa ráth ou ráith, que nomeia os castros típicos desse país irmao, Millán considera que “el parecido más indiscutible de los rahts es, en técnica y en trazado, con los castros gallegos “feitos a cestos”1. Era essa umha expressom habitual dos paisanos para se referirem, na folk theory, aos numerosos castros que nom tenhem autênticas muralhas senom terrapléns de terra, revestidos ou noom de cachotes, que se construiram amontonando a terra extraída da zanja para formar o muro: castros que “fôrom feitos a cestos” ou “baldeirando cestos”, aos ver dos paisanos2.

Este tipo de castros nom só som muito mais numerosos que os que tenhem muralhas propriamente ditas3, senom que mesmo abundam em zonas graníticas onde seria mais fácil fazer muralhas4, polo que nom admira que entre os castros da Comarca de Ordes sejam todos ou quase todos deste tipo. Precisamente é aquí que Millán encontra os melhores exemplos de “raths” galegos:

“Un castro reconocido hace poco de este mismo tipo, según me informa J.M.Vello Diéguez, es el de Santa María de Papucín, ay. Frades, […] con cerámica negruzca, molino de tipo “lavadoiro” y casi ningún signo de romanización.

Entre los castros térreos por mí vistos, en esta provincia, destaco el de Fufín, en Santa Eulalia de Vedra, circular, con profundo foso y parapeto, y el muy notable de San Cristobo de Liubalde, ay. Tordoia. Se denomina al lugar de éste Os Castros, pues, en efecto, al N. del mayor, circundado de una gran zanja y al que se accede, salvándola, por una “carrileira” antigua, se localiza, al extremo de aquel foso, casi contiguo, otro castro más pequeño. En una heredad próxima, al SE. del gran castro, llamado O Chouso do Sabugueiro, apareció hace 30/35 años [por volta de 1957/1952] un “machete dos mouros”, que infiero que se trataba de un puñal de bronce, así como de una mámoa al montículo en que se encontró, después allanado. (Informante, Jesusa Grela, nativa de Luibalde, hija del hallador)5.

Cabe entom a possibilidade, posto que os paisanos interpretavam desde as suas coordenadas culturais este tipo de castros, como resultado das técnicas de carrejo com cestos que eles praticavam, que por esta razom toponomizassem estes sítios com nomes aparentemente alusivos aos cestos? O contexto dos dous lugares é favorável à hipótese, posto que a Cestenha está ao lado do Castro, e Cestanhos está emprazado sobre um castro e a pouca distáncia da Medorra. Ou poderia ser, mais singelamente, que estes tipónimos aludissem a umha zona onde medravam os vímbios ou outros elementos vegatais para a construçom de cestos? Para o português J.P. Machado os topónimos galego-portugueses do tipo de Cestais, Cesteira ou Cestelo (curiosamente todos eles dentro de geografia castreja) derivariam de cesto/a, mas Almeida apom-lhe que também poderiam ser, na realidade, topónimos iniciados por S- e nom por C- (confussom fonética mais fácil na regiom minhota que na comarca de Ordes, mas que sucede em algum topónimo como o de Zabuceda, por hipercorreçom numha zona nom tethacista) de maneira que Sestais, Sesteira ou Sestelo teriam um sentido mineralógico, aludindo às pedras. 6

Continuando com esta possível relaçom metafórica entre castros e cestos topamos com o caso do espetacular Castro Ceidom, também chamado nos mapas do IGN Monte Ceidom (323m), na freguesia de Ordes, e a aldeia vizinha de Ceidom. O topónimo nom é de fácil explicaçom, mas se consultarmos a documentaçom antiga, e mesmo nom tam antiga, caso do Catastro do Marquês de Ensenada, cujas respostas deram os de Ordes no ano 1752, vê-se que este topónimo aparecia entom como Castro Seirom marcando um dos lindes da freguesia ordense com a de Poulo. Sendo o topónimo Seirom, podo que faga parte de família dos topónimos Seira, Seiró, Serón, Serones, Seróis, etc., que dá Moralejo Lasso a propósito da Fonte Seira do concelho de Vilalba e para os quais diz que “la base parece haber sido el fótico *sahrja “canastillo”7. Eis de novo o castro e o cesto? Nada se pode dizer com certeza. Em qualquer caso, é comummente aceitado o facto de que, durante a invasom sueva, os galaico-romanos subiam aos castros para se refugiarem, de maneira que nom resulta tam estranho que fiquem rastos de um trabalho de toponimizaçom dos germanos sobre os antigos castros.

Dando por original Ceidom e nom Seirom, talvez haja quem encontre parecidos entre Ceidom e o topónimo Sendom, que Ferrín explica por um nome germánico de possessor em genitivo: umha (villa) Sendone ou vila de Sendo (one), nome pessoal que coneria o elemento gótico sinths ‘caminho, viagem’8. Ou poderia ser Ceidom um nome pessoal semelhante a Ceide ou Cide, que tradicionalmente se considerou procedente do nome pessoal árabe Zaide ou Zaid, presente na documentaçom galega medieval9 e com raiz na palabra do árabe andalusi sid ‘senhor’. Eis, por exemplo, Vila Cide, aldeia de Oroso que também está ao lado dum castro, e que veremos na semana que vem com mais detemento.

Este fenómeno de procura de defesa nos castros veu-se repetindo século trás século, até os primeiros anos do franquismo, em que os labregos fugiam de noite com parte da fazenda aos castros para evitarem as requisas dos falangistas, antigas fortificaçons que também acolhiam acampamentos da guerrilha antifranquista, como no de Bouça Longa, onde parava Antonio Nouche Costa, ‘o Soldado de Deixebre’. O que conta Alberto Sampaio para o Norte de Portugal durante os incursos dos muçulmanos espanhóis é perfeitamente extensível à Galiza:

“[…] os habitantes das villas e villares afastados e longe dos caminhos mais trilhados devem ter ficado e com todas a probabilidade foram esquecidos. Esses, guardados pelo sua posiçao, para eles nao haveria invasores. Outros, como o bispo Odoário e os seus companheiros, vagueariam em bandos pelos cimos inóspitos dos montes, para onde os levava a necessidade da defesa; […] O costume de voltar para os altos em conjunturas destas repetiu-se modernamente durante a invasao francesa: a populaçao rústica abandonava as casas e estacionava por lá enquanto duravam as provisoes, vindo furtivamente abastecer-se. Partido o inimigo, regressavam aos seus casis repetindo-se o facto muitas vezes em certas localidades; e nao em poucas se confundem na memória do povo as duas invasoes, distanciadas de tantos séculos”10.

Historia Compostelana também achega informaçom importante sobre os refugiados castrejos durante invasons muçulmanas e escandinavas. Conta, por exemplo, como durante o reinado de Afonso VI se produziam incursons dos sarracenos de Sevilha, Almeira e Lisboa, todos os anos entre o meado da Primavera e o meado do Outono, época em que os lavradores, sobretudo os do litoral, deixavam as suas casas para esconderem-se em tocas ou, como diz o texto, em speluncas11. Essa palabra, que vem do latim spelunca ‘cova’, e esta à sua vez do grego spelaiom ‘caverna’ (dela procedem termos usados hoje como “espeleologia”) é a que dá nome a outro lugar a outra aldeia pegada ao Castro Ceidom: a Espenica12, com o que parece que se vam acumulando significados relacionados (perfis orográficos que puderam ser usados como refúgio montanhês) numha zona mui reduzida.

1 Isidoro Millán González-Pardo, Toponimia del concejo de Pontedeume y cartas reales de su puebla y alfoz, Corunha, Diputación Provincial, 1987, p. 82 n. 38.

2 Ibidem, p. 54.

3 A.M.Romero Masiá, El hábitat castreño, Santiago, 1976.

4 L.X.Carballo Arceo, Povoamento castrexo e romano da Terra de Trasdeza, Santiago de Compostela, 1986.

5 Isidoro Millán González-Pardo, op.cit., p. 83. Os negritos som meus, os itálicos – e a forma “Liubalde” – do autor.

6 Almeida, 1999, p. 178.

7 Moralejo, 1977, p. 121. Há. Ademais, umha Fonte Seirim em Arosa, na freguesia de Xanceda, recolhida na folha 70-IV dos mapas do IGN, e cuja terminaçom em –im convida a pensá-lo resultado de um genitivo em -ini, do estilo de Mercurim, Guntim, Gudim, Vila Senim…

8 Xosé Luís Méndez Ferrín, Consultorio dos Nomes e dos Apelidos Galegos, Vigo, Xerais, 2007, p. 386.

9 Fernando Cabeza Quiles, Toponimia de Galicia, Vigo, Galaxia, 2008, p. 25; Veiga, 1983: 65; Mariño, 1998: 72.

10 Alberto Sampaio, Estudos históricos e económicos. II volume. As póvoas marítimas, Lisboa, Vega, 1979, p. 215.

11 Historia Compostelana, liv. I, cap. CIII e liv. II, cap. XXI; Alberto Sampaio, op. Cit., p. 40.

12 Fernando Cabeza Quiles, Os nomes de lugar, Vigo, Xerais, 1992, p. 191. Na mesma Historia Compostelana menciona-se: “alid Castrum, quod Spelunca nuncupatur”, em referência à Espenuca das terras betanceiras.