Timorenses à procura de trabalho veem-se retidos, sem condições, em Portugal

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Timorenses saem do país com destino ao Reino Unido, mas fazem uma paragem em Portugal aproveitando a dupla nacionalidade. Em Portugal, trabalham sem condições, sem habitação digna e sem garantias básicas de vida. O último caso foi um despejo de 40 trabalhadores no Alentejo.

Emílio Moitas

Quarenta trabalhadores agrícolas de Timor-Leste foram despejados da casa onde residiam, em Cabeça Gorda, no distrito de Beja, de acordo com denúncia do Sindicato dos Trabalhadores Agrícolas da Agricultura e das Indústrias de Alimentação, Bebida e Tabacos de Portugal (SINTAB).

Os trabalhadores teriam chegado a Portugal, mais precisamente a Lisboa, no dia 28 de julho, e foram encaminhados para Beja. O sindicato refere que “um dos timorenses com quem falei na Casa do Estudante, disse-me que, pelo aluguer desta casa da Cabeça Gorda, onde estavam mais trabalhadores de outras nacionalidades, cada um dos timorenses deu um sinal de 100 euros”.

Para além desta verba, também foi pedido aos trabalhadores que facultassem “150 euros para lhes tratarem de tudo na Segurança Social e do NIF, mas nunca viram nada” e o sindicato acrescenta que “só trabalharam sete dias, mas sem contratos de trabalho nem nada que os ligasse à empresa onde estiveram”.

Esta situação já não é a primeira vez que acontece, recentemente houve um episódio semelhante envolvendo 29 timorenses.

Os trabalhadores viviam numa casa em Cabeça Gorda, alegadamente, de um empresário paquistanês que se dedica ao arrendamento de habitações no Baixo Alentejo, desde 2018.

Fonte da Segurança Social, afirma que poderá ter sido uma denúncia anónima a afirmar que existiam violações dos direitos laborais e casas sem condições mínimas de habitabilidade, o que poderá ter originado o despejo. A casa, para além dos 40 timorenses, albergava mais 14 pessoas, senegaleses e indianos.

Fonte da Segurança Social, afirma que poderá ter sido uma denúncia anónima a afirmar que existiam violações dos direitos laborais e casas sem condições mínimas de habitabilidade, o que poderá ter originado o despejo. A casa, para além dos 40 timorenses, albergava mais 14 pessoas, senegaleses e indianos.

Jovens timorenses procuram trabalho fora do país, mas acabam a serem explorados

Renázio de Carvalho

Renezio de Carvalho, jovem timorense de 25 anos a residir no país, membro da JUPLP e formado em Relações Internacionais, afirma que “isso já é um problema clássico de Timor” porque “após a independência, em 2002, muitos jovens foram procurar trabalho na Inglaterra aproveitando a dupla nacionalidade, através de Portugal”.

Renezio informa que existe um grande fluxo de imigração em Timor, chegando a realizarem-se 3 voos por semana com 200 a 300 pessoas em cada voo.

Um dos fatores que provoca este fluxo é o desemprego e a falta de oportunidades de trabalho, referindo que “os Censos da população e algumas pesquisas mostram que quase 80% da população de Timor são jovens”.

Com esta falta de trabalho, “surgiram muitas agências a facilitar a viagem de Dili para Portugal com o objetivo de chegar à Inglaterra”, aponta o jovem da JUPLP.

“após a independência, em 2002, muitos jovens foram procurar trabalho na Inglaterra aproveitando a dupla nacionalidade, através de Portugal”.

Renezio de Carvalho diz que tem conhecimento que “muitos timorenses foram abandonados e obrigados a dormir na rua. Então empresários originários da Índia, Sri Lanka, entre outras nacionalidades, aproveitam e exploram devido aos obstáculos que estes jovens encontram em Portugal” para obter a documentação necessária para irem para a Inglaterra.

[Este artigo foi publicado originariamente em juplp.com]