Como no filme do Robert Zemeckis, Back to the Future, temos de olhar para atrás com o livro recentemente publicado por Xavier Alcalá, a Tertúlia Revisitada. Esta novela “maldita”, como bem a chama ele, foi publicada no mesmo momento em que chegava MartyMcfly aos ecrãs do cinema, em 1985. Se bem o ator viajava no tempo para achar a realidade de há 30 anos quando a obra cinematográfica atravessa o celuloide, no caso do nosso escritor estamos perante 35. Com este trabalho, Alcalá recupera a sua discriminada Tertúlia para, depois de longos anos, trazê-la de volta com um acréscimo e leves modificações ortográficas.
Mikel J. Fox, o ator principal de Back to the Future, viaja acidentalmente ao passado e tem de procurar não estragar nada para não alterar o futuro e, deste modo, evitar sumir por interferir no relacionamento dos que seriam os seus pais. Porém, Xavier Alcalá traz consigo uma novela que longe de tentar manter a história sem alterações, mantém umas denúncias que hoje em dia continuam vigentes, o negócio das “vacas sagradas”. Revela o escritor o mercadejo dos prémios dos certames literários, o desconhecimento literário dos júris e a discriminação. Mais ou menos encoberto, mais ou menos explícito, relata de modo autobiográfico a tortura do ambiente intelectual e cultural do “Impaís”.
Com o nosso Mcfly particular, Xoán Castro, percorremos as folhas da obra sofrendo o inexorável passar do tempo, a angústia ante as manipulações e a falta de ética, a distância da emigração e a forte pegada do inglês impressa no futuro que está a chegar, a família como suporte vital e acompanhamento nos momentos complicados, a vida e a morte como espelhos do caminhar e a esperança como motor que move o homem até o seu fim último; consequente e lutador. A todos estes detalhes, que já faziam parte do corpo novelístico em 1985, devemos acrescentar mais uma história, um relato novo. Se MartyMcfly alterou o futuro e o seu pai ganhou confiança em si próprio sem causar mais estragos, Alcalá não lança somente uma segunda edição da sua novela, mas uma versão melhorada, ampliada.
Dentro dos pulos autobiográficos que marcam o ritmo da obra, junto com o jogo metaliterário dos mails às suas amizades, o Xoán Castro escreve no seu tempo livre o conto da Walkíria, uma aventura pelas florestas do Amazonas. Esta intrigante história aparece fragmentada ao longo do livro, mantendo a intriga que acompanha à figura feminina até a derradeira folha. Tudo isto, navegando entre diferentes formas de escrever em galego e sem que chegue a resultar difícil o entendimento. Através desta novela fica claro que a normativa não vai ser um problema à hora de nos entendermos e que o “Binormativismo” do que tanto se está a falar nos últimos anos já esteve em andamento há muito tempo, só que ainda não tinha sido definido.
Através desta novela fica claro que a normativa não vai ser um problema à hora de nos entendermos e que o “Binormativismo” do que tanto se está a falar nos últimos anos já esteve em andamento há muito tempo, só que ainda não tinha sido definido.
Para quem tiver interesse na velha história ou no acréscimo, o esforço do Xavier Alcalá está à vista. Devemos revolver, mexer no passado para entendermos o presente e programarmos o futuro. Este foi, como Back to the Future, o último baile da Tertúlia. Terá repercussões no presente?