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PIERRE BOVET, O DIRETOR DO INSTITUTO J. J. ROUSSEAU

Nalguns países do mundo, cada 21 de setembro se celebra o Dia Internacional da Paz. Porém, a jornada escolar da paz e da não-violência tem lugar em muitos lugares no dia 30 de janeiro, data que coincide com a jornada dedicada ao grande pacifista indiano Gandhi. Em qualquer caso, nunca está demais realizar nos estabelecimentos de ensino atividades educativas, lúdicas e artísticas para que os escolares adquiram sentimentos e atitudes pacifistas, de respeito, de solidariedade e de tolerância com todas as culturas e ideias filosóficas que existem no mundo e que respeitam a vida das pessoas. Um dos educadores e psicólogos que mais trabalhou a favor da paz e de desenvolver nas aulas os sentimentos pacifistas foi o suíço Pierre Bovet. Por isto, o meu depoimento nº 66 da série dedicada a grandes personalidades do mundo que todos os escolares devem apreciar e conhecer, está dedicado a este psicopedagogo genebrino.

pierre-bovet-foto-0 Nascido em Neuchâtel, vai estudar nas universidades de Lausanne e Genebra, assim como na Academia de Neuchâtel e na Escola de Estudos Superiores de Paris. A atividade docente vai praticá-la em diversas instituições de educação secundária e superior, até chegar a lecionar as disciplinas de Ciências da Educação e Pedagogia Experimental na Universidade de Genebra. Diretor do Instituto J. J. Rousseau desde 1912 até 1924. Fundador em 1925 e primeiro diretor do Bureau International d´Education (BIE). Também vai participar como colaborador e editor noutras publicações psicológicas e pedagógicas de âmbito internacional. Foi um dos sintetizadores e difusores do amplo movimento teórico e metodológico de reforma educativa, denominado Escola Nova. A ele deve-se a utilização em 1917, pela primeira vez, do termo escola ativa, no lugar de escola do trabalho, por ter ficado este último, limitado. A expressão reivindica uma viragem, sobretudo metodológica, na relação educativa, a partir dos novos conhecimentos psicológicos, biológicos e pedagógicos proporcionados pelas Ciências Sociais, a respeito do desenvolvimento da infância.

DIRETOR DO INSTITUTO J. J. ROUSSEAU:

Durante vinte anos, de 1912 a 1924, Pierre Bovet dirigiu o Instituto Jean-Jacques Rousseau de Genebra, que tinha sido criado por ele e por Claparède no primeiro dos anos citados. Trata-se de um centro de estudos pedagógicos e psicológicos fundado na cidade de Genebra, e que desde 1948 constitui o “Instituto para as Ciências da Educação” da Universidade de Genebra. O seu labor no campo da educação foi considerável, graças sobretudo à gestão dos seus colaboradores, entre os quais se contam, ademais dos citados antes, Adolfo Ferrière, Alice Descoeudres, Minna Andemars, Jean Piaget, Robert Döttrens, Pedro Roselló, Ernst Schneider, Mercedes Rodrigo, Juan Jaen, José Peinado, José Mallart e Helena Antipoff.

Pierre BOVET Foto com outros pedagogos da Escola Nova
Pierre BOVET Foto com outros pedagogos da Escola Nova

Sob a inspiração do Instituto publicaram-se os Arquivos de Psicologia e a Coleção das Atualidades de Pedagogia e da Psicologia. Ademais o Instituto fundou a “Casa dos Pequenos” (Maison des petits), escola experimental que teve uma grande repercussão no campo educativo. Do Instituto nasceu o atual Bureau International d´Education (BIE), composto por representantes dos governos de muitos países e que colabora com a Unesco. O seu diretor depois de Pierre Bovet foi Jean Piaget, e as suas publicações são de grande valor informativo. Infelizmente, por culpa do seu carácter semioficial, o Bureau não pode realizar à vez um labor crítico da educação no mundo. O Bulletin do Bureau é uma publicação muito interessante, ademais da revista L´Educateur. Em 1932, Pierre Bovet publicou em Neuchâtel um importante livro sobre o Instituto J. J. Rousseau, que tinha dirigido, sob o título de L´Institut J. J. Rousseau. Vingt ans de vie. Uma espécie de crónica dos vinte anos que esta entidade funcionou sob a direção de Bovet.

Pierre BOVET Professores do Inst JJ Rousseau
Pierre BOVET Professores do Inst JJ Rousseau

 

 

FICHAS TÉCNICAS DOS DOCUMENTÁRIOS:

  1. O Instituto J. J. Rousseau.

     Produtora: Universidade de Genebra. Duração: 7 minutos.

Ver em: https://mediaserver.unige.ch/play/111649

  1. A Escola Nova e História da Escola Nova.

     Duração: 12 minutos.

Ver em: https://sites.google.com/site/notaspedagogia/primero/historia-de-la-educacion/tema-5-el-movimiento-de-la-escuela-nueva-la-escuela-moderna-de-freinet-y-la-pedagogia-institucional

  1. Escola Nova ou Ativa.

Duração: 7 minutos.

Ver em: https://www.youtube.com/watch?v=O7w9GCXIP2U

  1. História da Escola Nova.

Duração: 12 minutos.

Ver em: https://www.youtube.com/watch?v=XZauITNP6mM

  1. Escola tradicional vs Escola nova.

     Duração: 7 minutos.

Ver em: https://www.youtube.com/watch?v=b9_nuLWlms4

  1. A Escola Moderna e Popular: Desde C. Freinet aos nossos dias.

Realizador: Paco Olvera. Duração: 37 minutos.

Ver em: https://www.youtube.com/watch?v=bW2-g1bcJgk

  1. Escola Tradicional vs Escola Nova (Completo).

Duração: 10 minutos.

Ver em: https://www.youtube.com/watch?v=DxIxf4eq4J0

 

PEQUENA BIOGRAFIA DE BOVET:

    Pierre Bovet nasceu em Gramchamp (Neuchâtel, Suíça) a 5 de junho de 1878, e faleceu a 2 de dezembro de 1965 em Boudry. Era filho de Félix Bovet (1824-1903), homem culto e religioso, teólogo, amigo de Ferdinand Buisson, diretor da biblioteca de Neuchâtel e professor de literatura francesa e hebraica na universidade da cidade. A mãe de Bovet era diretora de instituições educativas, e, em concreto, de um orfanato, em Gramchamp. Pierre casou no seu dia com Amy Babut, com quem teve um filho chamado Daniel Bovet, que chegou a conseguir em 1957 o prémio Nobel de Medicina. Entre 1896 e 1898 Bovet estudou na Academia de Neuchâtel para, mais adiante, licenciar-se em filosofia na universidade de Lausanne (1901). Partiu depois para Paris e ingressou na Escola de Estudos Superiores onde permaneceu entre os anos 1902 e 1903. A partir deste último ano e até 1912 exerceu como professor de filosofia no Gymnasium e na Faculdade de Letras da Universidade de Neuchâtel. Chegado este momento parte para Genebra, lugar em que, junto com Adolfo Ferrière e Eduardo Claparède funda o Instituto de Ciências da Educação “J. J. Rousseau”, no qual exerceu como diretor até 1924, labor pela qual é principalmente lembrado. Porém, Bovet conciliou o seu cargo à frente deste Instituto com o estudo e posterior licenciatura em Letras na Universidade de Lausanne (1918-1920), o exercício como professor na Universidade de Basileia, o seu cargo de editor das revistas Intermediaires des Educateurs (1912) e L´Educateur (1921), um elevado número de colaborações em L´Année Psychologique e, desde 1920, o professorado de Ciências da Educação e Pedagogia Experimental em Genebra.

Pierre BOVET Foto com Piaget
Pierre BOVET Foto com Piaget

Em 1925 deixa a direção do Instituto Rousseau, do qual nunca se desligou totalmente, para fundar e dirigir o Bureau International d´Education (B.I.E.). As suas duas obras mais relevantes: O instinto combativo (1918) e O sentimento religioso e a psicologia da criança (1925) marcam toda uma linha de trabalho, com interessantes contributos para a psicopedagogia e, por isso, a revisão das teorias e posicionamentos intelectuais de Bovet são de vital importância. No seu momento, em 1906, chegou a fundar um diário pacifista sob o nome de L´Essor. Cultivou diferentes relacionamentos internacionais e foi muito amigo de Robindronath Tagore, tema de que mais adiante falaremos, e de Gandhi, que conheceu pessoalmente na visita que em 1938 fez à Índia.

É muito interessante a História Universal da Pedagogia, que chegou a escrever e que foi editada em diferentes idiomas. A sua tese de doutoramento tinha por título O Deus de Platão seguindo a cronologia dos Diálogos (1902). Ao fundar em 1925, com Ferrière e Claparède, o BIE (“Bureau International d´Education”), foi ele quem se preocupou mais com que esta instituição recém-criada se centrasse especialmente na promoção da paz. De tal forma que, sob o lema “A Paz pela Escola”, em 1927 vai ter lugar em Praga o primeiro congresso da organização. Ao mesmo vão assistir mais de 400 pessoas e a língua principal vai ser o esperanto. Nos meses prévios à celebração do congresso, a secretária de Bovet, Henriette Ith-Wille, que era também esperantista, vai ensinar esta língua aos futuros assistentes ao congresso para facilitar a comunicação e a organização das diferentes atividades, comunicações e palestras. No mencionado congresso participaram mais de 20 entidades educativas e pacifistas. Esta conferência internacional continua a celebrar-se na atualidade cada dous anos, coorganizada com a Unesco.

ESPERANTISTA E AUTOR DE INTERESSANTES OBRAS:

    Bovet vai ser um grande promotor da língua auxiliar internacional chamada esperanto. Através desta língua vai fazer muitos contactos internacionais. Assim, pela intermediação de Edmundo Privat, que era quacre e esperantista, vai conhecer Gandhi durante uma viagem à Índia em 1938, como antes comentámos. Bovet era também amigo de Jaume Grau Casas da Catalunha, a quem vai mandar ajuda em várias ocasiões em forma de alimentos, livros e dinheiro, quando o esperantista e poeta catalão estava nos campos franceses de concentração. Nos seus diários naquela altura, Jaume Grau explica que sem a ajuda de amigos esperantistas como Bovet, não teria sobrevivido às duras condições daqueles lugares galos. Graças ao esperanto, Bovet vai ser também amigo do mestre republicano espanhol Sidónio Pintado.

Pierre BOVET Professores do Inst JJ Rousseau
Pierre BOVET Professores do Inst JJ Rousseau

A maioria dos escritos de Bovet vão ser publicados em francês e vão chegar ao estado espanhol por meio da tradução ao castelhano realizada por Domingo Barnés. Alguns dos seus livros foram também publicados em esperanto. Bovet chegou a fazer-se muito amigo de Piaget. O qual falava de Bovet assinalando que fora uma das pessoas de que tivera maiores influências. Também vai ser amigo do pacifista Pierre Céresole. No que se refere à sua conceção da pedagogia, os seus métodos inovadores não se baseavam num livro de texto concreto, senão que motivava os seus alunos para pesquisar as informações em dicionários, enciclopédias e outros recursos e materiais. Com o objetivo e a vontade de fomentar as capacidades das crianças, ademais do esperanto, vai interessá-los também pelo movimento escuteiro. Por isto, chegou a traduzir para o francês o livro Explorando para rapazes de Baden-Powell, e em 1921 vai publicar o livro intitulado O génio de Baden-Powell, dando a conhecer no mundo francófono a principal figura do movimento escuteiro.

Um dos seus principais livros é o que leva por título O instinto luitador, de que existe uma edição em castelhano publicada em 2007 com motivo do Centenário da Junta para a Ampliação de Estudos (JAE, 1907-2007). A tradução castelhana, com o título de El instinto luchador, realizada em 1922, foi obra de Domingo Barnés. O livro aborda precisamente o problema da formação do carácter moral e a educação pacifista, aspetos que Bovet estuda partindo da natureza instintiva da luita nas crianças. No mesmo chama a atenção aos educadores sobre a necessidade de conhecer as manifestações desse instinto luitador para canalizá-lo, desviá-lo ou sublimá-lo, pondo-o ao serviço do Bem. No prólogo desta 2ª edição da obra, Federico Mayor Zaragoza, que foi Diretor Geral da Unesco, e que dirige a Fundação para uma Cultura de Paz, rebate a ideia de que existam tendências ou proclividades para a violência na condição humana, porém, resgata a ideia de Bovet da necessidade da educação para criar uma cultura de paz. Outras das suas obras foram O Instituto J. J. Rousseau. Vinte anos de vida (1912-1924), O esperanto na escola (1922), O sentimento religioso e a psicologia da criança (1925), com edição em castelhano por Psique de B. Ares, A liberdade na educação (1975), O poder da escola de ontem e de hoje (1950), Modelos da mente (1996) e A originalidade de Baden-Powell (1956). A italiana Idana Pescioli publicou em 1979 um livro dedicado a Bovet intitulado A criança e a entrega: o problema moral-educativo na investigação de Pierre Bovet.

É necessário destacar também que Pierre Bovet foi um grande amigo de Robindronath Tagore, e admirador da sua obra e pensamento pedagógico. Encontrando-se Tagore de viagem pela Europa no ano 1921, Bovet convidou-o para pronunciar uma palestra no Instituto J. J. Rousseau. Dita conferência, sob o título A minha pedagogia, e verdadeiramente linda, foi pronunciada no dia 4 de maio desse ano. Graças a Bovet, que a recolheu em apontamentos, depois foi publicada na sua íntegra no dia 11 de maio de 1921 na revista L´Educateur pelo próprio Bovet.

PEQUENA HISTÓRIA DO INSTITUTO J. J. ROUSSEAU:

    O Instituto Jean-Jacques Rousseau é uma escola de ciências da educação fundada em Genebra no ano de 1912 por Édouard Claparède e Pierre Bovet e, na sua ideia original, tem por objetivo contribuir para a formação de educadores e para a difusão de novas pedagogias, baseadas no conhecimento científico da criança. Rousseau foi escolhido como patrono do Instituto por sua defesa da necessidade de se conhecer a criança para melhor educá-la.

Este Instituto foi fundado em 1912 por Édouard Claparède (1873-1940) juntamente com Pierre Bovet. O Instituto reuniu alguns dos grandes nomes da psicologia e psicopedagogia da época, entre os quais Adolphe Ferrière, Ernst Schneider, Jean Piaget e Helena Antipoff. O objetivo principal do Instituto Jean-Jacques Rousseau era a formação de educadores, além da realização de pesquisas nas áreas de psicologia e pedagogia. Além disto objetivava o incentivo às reformas educativas baseadas no movimento da Escola Nova. Muito rapidamente tornou-se um dos principais centros de referência sobre o movimento da Escola Nova na Europa. Estava envolvido na crítica à educação tradicional e na defesa de mudanças na educação que tornassem a escola mais humana, mais significativa e interessante para as crianças. O conhecimento da psicologia humana era central no projeto humanista e pacifista do Instituto Jean-Jacques Rousseau. Eduardo Claparède foi um dos principais estudiosos a propor o aprofundamento dos estudos psicológicos, especialmente do ponto de vista funcionalista.

Ligado a partir de 1929-1930 à Faculdade de Letras da Universidade de Genebra com o nome de Institut des sciences de l’éducation, foi depois elevado ao estatuto de escola universitária autónoma em 1969, ficando a partir daí sob a supervisão direta do reitorado da Universidade de Genebra. A partir de 1975, passou a constituir a Faculdade de Psicologia e das Ciências da Educação da universidade genebrina.

O ícone utilizado como símbolo do Instituto Jean-Jacques Rousseau mostra uma criança de pé ao lado de um adulto sentado, o qual tem um livro na mão. A criança aponta para fora de uma janela, como a buscar ativamente conhecer a natureza através da experiência concreta. A altura semelhante das figuras sugere uma relação mais igualitária entre professor e aluno. Em outras palavras, o ideal de basear a educação na observação da natureza, cultivando ao mesmo tempo uma relação de camaradagem para com a criança está presente no emblema escolhido para o Instituto. Neste emblema está resumida, iconograficamente, a filosofia do Instituto: cultivar o espírito científico através da observação da natureza, com o auxílio do conhecimento acumulado nos livros; encarar a criança como um igual, dotada da capacidade de tomar a iniciativa e eventualmente dirigir o adulto; deixar que a criança seja o guia do processo educativo, e guiá-la afetuosamente em seu processo de investigação e de descoberta.

Vale ressaltar que já nos anos vinte o Instituto tornou-se referência básica para os movimentos educacionais progressistas que despontaram em todo mundo. Sob a coordenação de E. Claparède e Pierre Bovet, orientavam-se pesquisas dentro de uma conceção funcional de educação e preconizava-se o modelo da criança ativa. Jean Piaget foi seu diretor entre 1925-1932.

    TEMAS PARA REFLETIR E REALIZAR:

Vemos os documentários citados antes, e depois desenvolvemos um Cinema-fórum, para analisar a forma (linguagem fílmica) e o fundo (conteúdos e mensagem) dos mesmos, assim como os seus conteúdos.

Organizamos nos nossos estabelecimentos de ensino uma amostra-exposição monográfica dedicada a Pierre Bovet, a sua vida, a sua obra, as suas ideias, o seu pensamento e o seu importante labor dirigindo o Instituto J. J. Rousseau de Genebra, e também o Bureau International d´Education (BIE). Na mesma, além de trabalhos variados dos escolares, incluiremos desenhos, fotos, murais, frases, textos, lendas, livros e monografias. A citada amostra incluirá também uma secção especial dedicada ao Instituto J. J. Rousseau, as suas atividades e as suas publicações.

Desenvolveremos um Livro-fórum em que participem todos os escolares e docentes. O livro mais adequado para ler é o intitulado O instinto luitador. Poderiam valer também A liberdade na educação (1975) ou O poder da escola de ontem e de hoje (1950).

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